Fim de ano e a educação ambiental como campo de reflexão sobre um recomeço com escolhas conscientes

Questões socioambientais deveriam permear o interesse das pessoas o ano inteiro e por meio da educação é possível se ponderar sobre o que fazer para melhorar o planeta. Educação ambiental desponta como campo para tratar temáticas variadas que dizem respeito à vida. E o final de ano é particularmente apropriado para se avaliar como são nossas relações com outras pessoas e culturas, e com a natureza da qual fazemos parte. Essa linha de reflexão pode servir de base para aprendizados que despertem sonhos de como beneficiar a coletividade e a vida em geral.

Fim do ano é excelente oportunidade para se pensar no que valeu a pena e o que poderia ter sido diferente. É momento de interromper os afazeres para fortalecer e aprimorar o que se percebe ser necessário. Como os bambus, que crescem e pausam ao formarem nós que os tornam fortes o suficiente para continuarem seu crescimento às alturas em busca da luz solar, esse período do ano serve como brecha para nos ajudar a fortalecer nossa estrutura, de modo a que possamos continuar no rumo que realmente importa.

A seguir apresento algumas atividades para essa época tão especial.

Questionamentos

A primeira proposição (Jogo de Perguntas 1 e 2) pode parecer simples, mas suscita reflexões profundas. Composta de perguntas, as atividades devem ser feitas em grupos familiares, entre amigos ou em salas de aulas (antes ou após o retorno às aulas) em duplas ou até em grupos de 3 ou 4 pessoas. As respostas precisam ser apresentadas e discutidas no final para todos os presentes, de modo que haja a chance de uns se inspirarem nos outros.

As perguntas colocadas abaixo servem de inspiração, mas é recomendável que sejam enriquecidas ou ajustadas ao público a que se dirigem.

Jogo de perguntas 1 (focam em experiências pessoais):

• O que você fez no ano que acabou, que te trouxe boas recordações e orgulho de si próprio?
• Você ajudou alguma causa, algum indivíduo, algum animal ou planta?
• O que você fez nesse ano que faria diferente se pudesse voltar no tempo?
• Onde você foi que mais gostou, e por quê?
• O que você viu ou vivenciou que parecia precisar de intervenção para melhorar ou reverter alguma situação incômoda ou sofrida?
• Você foi a um lugar que gostaria de voltar? Onde foi, e por quê?
• Qual animal você foi (como metáfora/imagem) no ano que finda, e qual gostaria de ser no que inicia, e por quê?

Jogo de perguntas 2 (com foco em visões externas):

• Que notícias trouxeram desânimo com a humanidade? Por favor, explique sua resposta.
• Quais notícias nutriram esperanças, e por quê?
• Neste último ano, quais as atitudes humanas você se lembra de ter sentido orgulho de um povo específico, um grupo ou algum fato que chamou a atenção em qualquer lugar do mundo, inclusive no seu país?
• Se você fosse mágico o que mudaria para fazer esse mundo melhor?
• O que acha que pode fazer para transformar algo que incomoda você?
• Como poderia começar um movimento para que algo bom aconteça?
• Quem você pensa incluir no seu sonho de transformação para ajudar a tornar real o que idealizou?

O que fazer com as respostas?

Esses questionamentos têm potencial de fornecer trocas orais e escritas, entrevistas gravadas em celulares e postadas em redes sociais, redações, desenhos ou até encenações teatrais. Cada aspecto pode render frutos que os envolvidos carreguem para suas vidas pessoais.

O empoderamento é o primeiro passo para transformações que se fazem necessárias. Todavia, a maioria das pessoas não se sente apta a mudar o mundo. Na verdade, a educação incentiva obediência e submissão, e não protagonismos que beneficiem a coletividade, como já mencionei em outro artigo aqui no Fauna News.

Mais sugestões

Outra linha de atividades de final de ano é uma visita a áreas naturais. Essa é uma excelente alternativa para sair do consumo exacerbado que as festas dessa época induzem. Uma boa reflexão ao se visitar uma área natural é exercitar o “ser” com a natureza, ao invés do “ter”, incentivado loucamente nesse período em que se adquire algo que muitas vezes nem é necessário e que certamente afeta a sustentabilidade dos recursos naturais. Ao vivenciar a natureza, pode-se descobrir que precisamos de bem menos do que temos e que o essencial é o suficiente para se viver em harmonia.

No caso de se visitar áreas naturais é bom se preparar previamente, buscando informações como em qual bioma está, quais animais ou plantas vivem ali e, se possível, averiguar se existem espécies em perigo de extinção. Se a resposta ser positiva, pode-se indagar: o que levou essas espécies a estarem em risco de desaparecerem; o que precisa ser feito para reverter esse quadro, trazendo mais chances de proteção a elas e às áreas naturais em longo prazo.

Arte é também um poderoso caminho de sensibilização e pode ser vivenciada com músicas, desenhos, argila, ou mesmo visitas a museus. Bom exemplo é o Museu do Amanhã no Rio de Janeiro, cujos temas abordados têm pertinência aos assuntos aqui tratados, ou Inhotim em Minas Gerais, que expõe obras de arte espalhadas em seus belos jardins, e espaços inspiradores integrados à natureza. Jardins botânicos também são propícios, e muitas vezes exibem objetos de arte ao mesmo tempo em que expõem seus acervos florísticos.

No que diz respeito a questões sociais, existem inúmeros aspectos que precisam ser considerados. Por exemplo, quando se fala em consumo insustentável o foco não é nas pessoas que precisam do básico para conseguirem viver. Esse é outro tema de reflexão que deveria ser constante: as diferenças entre ricos e pobres vêm se acentuando exponencialmente em todo o planeta, e o Brasil não é diferente.

No último governo, detectou-se que mais de 30% da população brasileira encontrava-se em situação de incerteza alimentar, ou seja, não sabendo se teria uma próxima refeição, e quase 10% dos brasileiros passando fome. Isso é inadmissível em um país como o Brasil, que está entre as maiores riquezas do mundo.

Essa realidade nacional é também planetária e deveria tornar-se prioridade por ser, no mínimo, antiética. Reflexões como essa precisam ser levadas aos processos educativos. O que se pode fazer para reverter quadros tão desumanos? Desde cedo é preciso dar asas à imaginação de como se importar e como usar da criatividade para reverter realidades indesejadas. Mas, para serem indesejadas é preciso saber que existem. E a educação nem sempre inclui esse tipo de informação, e menos ainda “empodera” o aprendiz a agir, que abre portas para que perceba sua capacidade de mudar o mundo.

Se as pessoas passam por condições como essas, o que dizer dos animais e das plantas que não conseguem expressar suas necessidades? As espécies nativas encontram-se cada vez mais limitadas, pois seus territórios originais vêm sendo continuamente reduzidos. Hábitats naturais sofrem pressões incessantes para se transformarem em empreendimentos ligados a um “progresso” que vem evidenciando ser insustentável. As desculpas são as mais variadas, como construção de hidroelétricas, estradas que atravessam remanescentes de biomas ricos em biodiversidade (e causam mortes em profusão de animais por atropelamento), mineração e outras atividades humanas, sempre defendidas com argumentos irrefutáveis, por responderem a necessidades prementes.

Nessa época do ano não é aconselhável focar aspectos negativos, a não ser para refletir sobre como os solucionar. Projetos familiares e escolares podem trazer ideias do que é possível ser feito para redirecionar o rumo da história. Ora, se é a humanidade que vem causando os maiores danos ao planeta, só ela, nós, temos o poder de mudar o que se passa. Saber é poder. Transformar realidades imensas e complexas é um desafio hercúleo, mas é preciso conhecer para buscar meios que levem a resultados diferentes. Dar ao jovem (ou mesmo adultos) a noção de que é possível, de que se importar com realidades indignas e deletérias é parte de suas atribuições como cidadão do mundo, e que os aprendizados devem servir a causas que beneficiem todos os seres vivos, precisa ser contemplado nos conteúdos programáticos educacionais em todos os níveis.

A ideia transformadora pode ter início em algo que pareça pequeno, mas é preciso que seja factível. Uma vez que se atinja resultados tangíveis, a força do “possível” adquire solo fértil para se instalar no indivíduo e daí em diante tem como se proliferar. O impossível precisa se tornar possível. E é esse o sonho que nutro: trazer uma nova visão para a educação, e aqui especificamente para a educação ambiental, que semeie esperanças que levem a ações transformadoras, tendo por base a valorização da vida.

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