Por que rebeldia tem relação com educação ambiental?

Por muitos anos o padrão valorizado em um aprendiz era o de ser cordato, obediente e que se submetia a regras. As crises socioambientais do mundo, no entanto, demandaram novos valores, novas posturas. Foi assim que a própria educação ambiental surgiu. Questionamentos passaram a ser formulados sobre qual educação estava sendo oferecida, se alarmantes desastres ambientais eram cada vez mais frequentes?

As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas por encontros com pensadores do campo educacional de visões amplas, que promoveram reflexão sobre o que deveria ser transformado para que a natureza passasse a ser tratada de forma diferenciada. O uso da palavra “sustentabilidade” nem havia aparecido como questão a ser considerada.

Ficou claro que o sistema educacional e seus conteúdos precisavam passar por uma transformação profunda. Era necessário incentivar uma educação participativa, engajada e rebelde quanto a não aceitação do que vinha pronto e sem questionamento. E a conclusão foi que muito mais do que conhecimento, para formar cidadãos conscientes o processo educativo dependia de estimular reflexões que levassem a escolhas justas, inclusivas e sustentáveis.

Um ponto forte que a educação ambiental trouxe foi a constatação de que saber nem sempre é suficiente para levar à ação. É preciso incluir valores e mecanismos de sensibilização somados aos conhecimentos repassados a quem está em formação.  Ser passivo e aceitar o que vem pronto precisa ser substituído por posturas participativas. O sistema educacional carece de incentivos a engajamentos em questões que visam justiça social e sustentabilidade ambiental.

No entanto, o desafio tem sido a mudança de postura, que pode parecer fácil, mas é complexa por lidar com aspectos profundos. Baseado em um artigo que escrevi recentemente (Padua, 2022), abaixo estão algumas características das diferenças entre a educação tradicionalmente adotada e a educação que incentiva participação ativa do aprendiz.

Claro que toda essa mudança depende de respeito e solidariedade. Não se trata de empoderar a nova geração sem incentivar responsabilidade, empenho, aprendizado, resiliência, para que se chegue à sabedoria.

Mas, a transformação educacional é urgente. As mudanças climáticas vêm servindo de alerta para o que a humanidade precisa mudar de modo que as consequências não sejam severas. É a própria sobrevivência da espécie humana que está em jogo, pois de um jeito ou de outro o planeta seguirá seu caminho, com ou sem o ser humano, mesmo que num rumo diferente daquele que conhecemos.

Parece simples, mas o desafio é imenso. O ser humano tem a tendência de adiar assumir responsabilidades que demandam mudanças de comportamento. Continua a tratar a natureza como recurso e prefere não se ater a informações que constatem a finitude da maioria dos elementos explorados para suprir suas necessidades crescentes e incessantes. O acúmulo de bens passou a ser uma prática aceita e invejada por quem não tem, que hoje é a maioria da população planetária. Com isso, a natureza e a grande maioria das pessoas têm sido exploradas insustentável e injustamente.

Todavia, o dito popular preconiza que o ser humano aprende pelo amor (o que seria ideal e evitaria muitas perdas que hoje fazem parte de nossa realidade) ou pela dor. Infelizmente, o segundo caminho tem predominado no decorrer da história. Os aprendizados a partir de crises são inúmeros. Como descrito anteriormente, a própria educação ambiental surgiu a partir de crises.

Atualmente, os impactos causados pelas mudanças climáticas, que em sua maioria decorrem de comportamentos e escolhas irresponsáveis e levam a consequências devastadoras, vêm batendo às nossas portas, com calamidades e perdas irrecuperáveis. Mas nem assim parece haver vontade real de mudança de posturas e de escolhas irresponsáveis e de deixar de ansiar por ter. O momento é de se buscar “ser” de maneira integral e não “ter” de forma voraz, gananciosa e ilimitada.

Essas são as razões do porquê se deve transformar o sistema educacional. Trata-se de uma busca por luz no fim do túnel. E essa luz precisa vir com amor e empatia por todos os seres vivos e elementos naturais que sustentam a vida na Terra. Temos muito a evoluir, mas aprender a amar talvez seja um passo decisivo se pretendemos ter um futuro com belezas e riquezas socioambientais.

Referência
– Padua, S.M. 2022. Por uma nova educação que nos leve ao encantamento e ao amor pela vida. In.: Educação Interdimensional: uma paidéia para o século XXI. IAMAR, Instituto Alair Martins, Uberlândia, MG, 2021. p. 62-69.

Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)