Por Andreas Kindel
Biólogo, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
transportes@faunanews.com.br
Nas últimas semanas, a “reconstrução” das políticas ambientais no Brasil foi uma das pautas. Embora a necessidade de encarar esse desafio seja indiscutível, 2023 começa acenando com possibilidades que vão muito além.
Embora eu discorde da diferenciação dos animais de outros organismos quanto à considerabilidade ética – animais não tem nem mais nem menos direito à existência digna do que qualquer outro organismo -, a atuação de uma secretaria e departamento dedicados à fauna permite sonhar… Sonhar com a criação de políticas de Estado sistemáticas, coordenadas, continuadas, contextualizadas e adaptativas, voltadas à redução de ameaças à fauna silvestre e à promoção do bem-estar da fauna de criação e doméstica, domiciliada ou não. É a oportunidade também, talvez, de fazermos avançar, com mais celeridade e qualidade, as medidas de mitigação de impactos sobre a fauna resultantes de infraestruturas como rodovias e ferrovias já em operação, em construção ou planejadas.
Esse fato novo no organograma das instituições que cuidam da nossa política ambiental contribui para esperançarmos por ações concretas de proteção da fauna dos impactos de infraestruturas.
Temos a estrutura organizacional (que demonstra vontade) para fazer acontecer e temos os compromissos, tanto na legislação brasileira quanto nos acordos internacionais, como o Marco Mundial Kunming-Montreal da Biodiversidade (em particular os alvos 14 e 15), recentemente aprovados na COP-15 da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário. Seguramente, avançar dependerá de intensos esforços, com resultados concretos – ampliação do número de vidas e ambientes protegidos – apenas no médio prazo. Mas o que comemoramos nessa virada de ano é que novamente, e talvez mais do nunca, podemos avançar! E com certeza precisamos e queremos muito!
Nos meus próximos artigos, pretendo, vez ou outra, explorar como qualificar a implantação de alguns instrumentos da política ambiental que já existem e contribuir para que alcancemos as metas da CDB com as quais estamos comprometidos.
(20)22 se foi, mas não podemos deixar de agradecer a todos os bravos servidores da área ambiental (e de tantos outros setores governamentais) deste país pela bravura da sua resistência. Graças também a eles temos como reconstruir e avançar.
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