Fauna marinha: o mundo submerso do litoral do Paraná

Uma expedição científica busca compreender o estado de conservação do ecossistema marinho da região costeira do litoral paranaense. Essa é a premissa de um dos capítulos do documentário Saúde Oceânica, que retrata as pesquisas do Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar) no território da Grande Reserva Mata Atlântica. Mas como registrar imagens de um processo tão complexo? Eu me chamo Gabriel Marchi e sou o documentarista desse programa científico da Associação MarBrasil. Minha missão é fotografar e documentar as espécies da fauna marinha que aqui vivem e como elas contribuem para a pesquisa científica.

Antes mesmo de navegarmos, iniciamos o planejamento. As condições de mar no Paraná mudam constantemente e isso afeta o cronograma de navegação. Em várias ocasiões, as condições meteorológicas mudam da noite para o dia, adiando ou até mesmo cancelando as expedições. Então, é no meio da noite que ficamos sabendo da confirmação da saída para campo. Nosso destino é o Parque Nacional Marinho das Ilhas dos Currais.

Iniciamos cedo: zarpamos ao raiar do sol, com a maré bem calma. Alguns chamam de “tapete” ou “mar de almirante”. Outros, ainda mais criativos, chamam de “mar de azeite”. Um céu azul, quase sem vento, o que chamamos de “condições perfeitas” ou “dia bom de campo”. Mas isso fora d’água. Um dia bonito não quer dizer excelente visibilidade debaixo d’água. Isso só vamos descobrir quando mergulharmos.

O início da expedição

Motor da embarcação desligado. Âncora no mar. Mergulhadores equipados. Hora de cairmos na água. O pesquisador André Cattani realizará um censo visual da ictiofauna, a fauna dos peixes. Para isso, ele leva uma trena e um bloco de anotações, enquanto eu preparo o equipamento fotográfico para realizar as imagens subaquáticas. O comandante nos avisa que a água está fria, 18º de temperatura, com profundidade entre 10 e 12 metros. Essa variação acontece por conta das enormes rochas que formam a plataforma do arquipélago de Currais.

Caímos na água! Esvaziamos os coletes que nos mantinham flutuando e fomos para o fundo. Chegamos a uma profundidade de 10 metros e somos surpreendidos por uma água com pouca visibilidade. Por conta da dinâmica sedimentar do litoral do Paraná, quando chove nas montanhas que formam o paredão da serra do Mar, muito sedimento escorre para o estuário, que é levado pela movimentação da maré, chegando a tomar conta da costa paranaense. Esse sedimento, apesar de repleto de nutrientes para a vida marinha, deixa a água turva, dificultando a visão.

A missão continua mesmo sob essas condições. Enquanto o pesquisador realiza o censo, eu procuro a melhor maneira de documentar esse processo. Um mergulhador científico precisa ter atenção quando está submerso, sua respiração precisa ser tranquila e constante para evitar grandes bolhas que, por sua vez, podem fazer muito barulho e espantar a fauna marinha. Ao mesmo tempo, precisa manter uma flutuabilidade perfeita, sem esbarrar nos recifes, evitando ao máximo qualquer dano ao ambiente marinho.

A turbidez da água era tanta que, ao me afastar para conseguir um outro enquadramento, quase perdi de vista o pesquisador. Por isso, usamos nadadeiras chamativas, com cores vibrantes, como amarelo e laranja, que se destacam no azul e verde do mundo submerso. Assim sabemos onde o outro está.

Expedições como essa nos proporcionam uma aproximação com uma rica fauna marinha. No arquipélago de Currais, podemos encontrar várias espécies de peixes, como sargentinho, raias, badejo, peixe-frade, donzelinha, além de equinodermos como ouriços-do-mar e estrelas-do-mar. Por vezes, alguns animais são curiosos, chegando perto de nós para saber o que somos. Mas ao primeiro sinal de bolhas, se afastam, procurando um local para se esconder. Toda essa fauna é importante para o ecossistema e reforça o bom estado de conservação das ilhas. Mesmo com os desafios, fomos capazes de visualizar seus comportamentos e a interação que realizam com o ecossistema.

Ao chegarmos à superfície, as condições meteorológicas já haviam mudado e precisávamos retornar para o continente. Nos apressamos para retornar à embarcação de pesquisa, tomamos um chá quente para regular a temperatura do corpo (vale lembrar que estávamos numa água de 18º e o clima na superfície era de 26º), fomos desequipando dos aparatos de mergulho enquanto a embarcação se deslocava de volta para a costa, nos levando em segurança para casa.

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