Por Andreas Kindel
Biólogo, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma universidade (NERF-UFRGS)
estradas@faunanews.com.br
Ninguém ainda fez o exercício artístico de empilhar, em ambiente virtual ou real, a fauna morta, as pessoas mortas e mutiladas e os veículos retorcidos e inutilizados durante um ano, em uma determinada estrada, em virtude da colisão entre veículos e animais. Talvez essa fosse uma estratégia chocante de chamar a atenção para a tragédia ambiental e de saúde pública que acontece diariamente em nossas estradas.
Mas aparentemente nada choca esse país!
Alguns poucos talvez comentariam: por que esperar que uma pilha de animais ou pessoas mortas nas estradas mobilize uma reação social ou institucional se observamos, quase sem reação, a morte da Justiça neste país?
Se não conseguimos, suficientemente, chamar a atenção do grande público para as tragédias nas nossas estradas, podemos pelo menos chamar a atenção dos motoristas para o risco iminente de uma colisão nas rodovias? Como fazer isso de forma barata, com baixo custo de instalação e manutenção? Será que funciona?
Nessa categoria de estratégia, que busca mudar o comportamento do motorista (presumindo que ele responda ao risco de prejuízos econômicos ou à sua existência), estão diferentes intervenções que vão das simples placas de alerta de fauna, passando por refletores de faróis, a detectores de fauna conectados a painéis de alerta digitais. São estratégias populares porque são mais baratas do que outras soluções. Embora possa existir alguma função de resguardo dos operadores das estradas em virtude das suas responsabilidades legais em relação às colisões veículos-animais, acumulam-se as evidências de que não funcionam ou só funcionam em alguns contextos muito específicos. Em geral, a sua falta de efetividade está relacionada à habituação dos motoristas e/ou de parcela da fauna.
Tanto as pessoas como os bichos se acostumam e aceitam os riscos! Mesmo que parcialmente efetivas, infelizmente, são estratégias extremamente limitadas de proteção à vida.
Seguramente, tanto na condução de uma sociedade ou país como no contexto da implantação de infraestruturas viárias, a melhor estratégia para beneficiar a todos é não percorrer alguns caminhos. Tem estradas ou determinadas rotas que não deveriam ser construídas. Ter esperança na atitude empática dos condutores é garantia de frustração.
Seria a revolta dos bichos a solução? Depende…