Por Talita Menger Ribeiro
Bióloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
estradas@faunanews.com.br
Seja de dentro de casa, enxergando mais insetos entrando pelas janelas, seja andando nas ruas da nossa cidade e vendo as plantas florescerem. Ou, ainda, quando escutamos os cantos das aves e dos anfíbios mais fortes do que de costume. É fácil perceber a chegada dessa época do ano.
A primavera é um período importante para muitas espécies. Animais de um grande número delas iniciam sua reprodução nessa época do ano, já que essa estação propicia boas condições ambientais para que deixem seus descendentes: temperaturas amenas e alimento em maior quantidade. Sendo assim, durante a primavera, a fauna está mais móvel. Seja por estar procurando parceiros para reprodução, alimento ou algum lugar seguro para deixar seus filhotes.
Semelhante com o que ocorre no verão, na primavera os encontros com a fauna se tornam mais frequentes.
É comum, então, escutarmos a frase: “Encontrei esse animal, ele estava perdido!”.
Isso é ainda mais comum para aqueles animais considerados mais carismáticos, como os cágados ou tartarugas. Quando esses animais são encontrados, muitas vezes nas estradas, algumas pessoas os recolhem julgando que estão perdidos. O que esse bicho estaria fazendo num ambiente “humano”, afinal?
Bom, acontece que, como falado acima, os animais são móveis e estão desempenhando “tarefas” das suas vidas. Eles não estão perdidos. Durante as épocas de maior mobilidade, aumentam as chances de eles cruzarem com as pessoas, e as estradas geralmente são um grande ponto de encontro.
Não que os animais busquem as estradas (apesar de isso acontecer para algumas espécies, veja aqui e aqui), mas elas estão por toda parte e acabam ficando no caminho deles. Como relatou uma reportagem sobre os cágados que morrem atropelados por estarem buscando uma nova lagoa para viver.
Só para termos uma ideia, apesar de passar a maior parte do tempo em ambiente aquático, um indivíduo da espécie tigre-da-água (Trachemys dorbigni) pode percorrer mais de um quilômetro em ambiente terrestre no mesmo dia, podendo ser encontrado um pouco afastado de corpos d’água. Além disso, apesar de esse ser um fenômeno mais conhecido para tartarugas-marinhas, algumas espécies de cágados podem voltar ao mesmo lugar onde nasceram para desovar, mostrando como são capazes de se localizar.
Nos próximos encontros com fauna ou se alguém perguntar o que fazer com um animal “perdido”, saiba que ele deve saber melhor do que você onde está. Apenas deixe-o no local em que o encontrou. Se o encontro for em uma estrada, se possível, diminua a velocidade e espere o animal atravessar. Se você precisar mover o animal (o que não é indicado), mova-o no mesmo sentido que estava indo (como já falamos).
Vamos fazer com que os encontros fiquem realmente mais fáceis para todos!