Por Ingridi Camboim Franceschi
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é mestranda, sendo integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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A duplicação de uma rodovia é o sonho de muitas pessoas. Mas qual é o verdadeiro impacto desse investimento? Essa obra é desejada pela maioria das pessoas que utilizam estradas com alto fluxo de veículos, pois elas acreditam que ampliar a estrutura melhoraria o deslocamento dos carros e reduziria os acidentes. Outras pessoas acham que uma rodovia duplicada é mais atrativa para investimentos na região. A questão é que poucas pessoas pensam sobre o impacto que a duplicação de uma rodovia pode causar no meio ambiente e, consequentemente, na fauna local.
A verdade é que a obra pode ocasionar desvios, resultando em novas estradas temporárias e assim novos impactos serão gerados além dos da rodovia principal. Independentemente de haver desvio ou não da estrada, a obra em si vai alterar o padrão das colisões dos veículos com a fauna, por exemplo, com os atropelamentos de animais ocorrendo em locais diferentes devido à alteração do tráfego ou da paisagem. Também ocorre aumento de diferentes tipos de poluição (atmosférica, sonora, química). Por exemplo, a poluição sonora influência nos cantos de aves e anfíbios (como já mencionamos em agosto de 2016 e setembro de 2017). Mas será que depois que as máquinas forem embora e a rodovia duplicada estiver operando, tudo volta a ser como era? Não, porque essa rodovia tem novas características e o ambiente do entorno também foi alterado.
Será que a rodovia duplicada vai ter um maior número de atropelamentos de animais? Ou será que vai se tornar uma barreira maior e os animais irão evitar atravessá-la, o que reduziria o número de atropelamentos? Questões como essas são importantes de serem respondidas não apenas durante a construção ou pavimentação de uma rodovia, mas também no contexto de uma duplicação. Para entender e responder essas questões é necessário realizar monitoramentos de fauna atropelada antes e depois da duplicação para avaliar o efeito desta obra em relação a esse impacto e assim indicar medidas mitigadoras.
Por exemplo, uma rodovia de via dupla pode apresentar locais de hotspots (pontos com alta mortalidade de animais) diferentes de quando a mesma rodovia era de via simples, o que influencia nas decisões de onde e como instalar medidas mitigadoras.
Então, como fazer?
É importante monitorar antes e depois da duplicação para saber se haverá um aumento nos atropelamentos e assim termos boas avaliações do efeito das duplicações. Atualmente não temos conhecimento suficiente sobre isso. Geralmente, a obra de duplicação é a oportunidade para instalação de medidas mitigadoras (baseado nas informações de atropelamentos da rodovia em pista simples e/ou com base na paisagem do entorno como já referenciamos em outro artigo), pois é mais viável economicamente. Após a duplicação da estrada e instalação das medidas mitigadoras, o mesmo monitoramento de atropelamento realizados antes da obra e depois pode ser utilizado para avaliar a efetividade das medidas instaladas, contudo é preciso que haja trechos de estrada duplicada sem medida instalada para serem comparados.
A duplicação de uma rodovia facilita e beneficia muitas pessoas, entretanto não podemos negligenciar os impactos desse tipo de obra. É fundamental pensarmos sobre as consequências desta ação em relação ao ambiente a nossa volta e reconhecer a importância de reduzir o impacto que geramos.