Executar um esforço amostral efetivo de fauna é um desafio

Estudar e planejar a execução e otimização do esforço amostral é fundamental para a economia de recursos pessoais e financeiros e, ainda, potencializar a obtenção de resultados efetivos.

Na realização de um estudo de fauna, especialmente em grandes obras de empreendimentos lineares, sobretudo em ferrovias, que transpassam inóspitos locais a quilômetros de qualquer cidade, unir estes três quesitos – planejamento, economia e resultados – tem se mostrado um grande desafio.

É indispensável que se façam as perguntas corretas, no âmbito do licenciamento ambiental de empreendimentos que possuam um termo de referência ou plano de trabalho minimamente alinhados com a hierarquia da mitigação – avaliando a possibilidade de evitar, minimizar, restaurar ou compensar os impactos ambientais. As perguntas corretas seriam as que se dispõem a responder quais são os impactos que determinado empreendimento pode causar em cada grupo faunístico, qual sua relevância e o que se pode fazer para mitigar, evitar, restaurar e/ou compensar as interferências.

Diante disto, para qualquer que seja o estudo de fauna, o esforço amostral efetivo é aquele capaz de responder e/ou de nortear as respostas, aliado à economia de recursos humanos e financeiros.

A escassez de recursos financeiros e de tempo parece ter se tornado a irmã da urgência na busca da obtenção de resultados concretos e efetivos, passando a se tornar a realidade da maioria dos estudos de fauna de empreendimentos lineares nos quais trabalho.

Sabe-se que estudos ecológicos são correlacionados e que demandam um tempo considerável (anos), utilizando-se de séries temporais, sazonais e comparativas. Nos estudos realizados para licenciamento ambiental, sobretudo diagnósticos de fauna, o tempo disponível se mede em meses, com campanhas sazonais e janelas curtas. Os monitoramentos de fauna ocorrem durante, no mínimo, todo o período de obras, que normalmente é longo, muito longo, no Brasil, mas o cronograma para planejamento e proposição, além de curto, prevê um tempo de obra curto.

Estou realizando um trabalho de monitoramento de fauna numa ferrovia do Nordeste brasileiro, onde se percorre mais de 800 quilômetros até chegar em uma das áreas de trabalho. Cada setor de monitoramento fica a quase 100 quilômetros da cidade mais próxima, sendo que 60% são constituídos de estradas de terra, muitas vezes intransitáveis. Há que se considerar que o veículo utilizado transporta todos os equipamentos (armadilhas de captura de mamíferos carnívoros de médio porte), além de material de pesquisa e veterinário. Não há sinal de telefone e nem de internet.

Desafios do esforço amostral efetivo

Nesse trabalho, a lista de desafios se inicia em:

• conhecer a área de estudo, as estradas e acessos. Obter autorização de acesso e trabalho dos proprietários das áreas;
• conhecer o regime de chuvas em cada região trabalhada;
• desenvolver boas relações com os proprietários e moradores locais, em relação aos acessos e/ou porteiras cadeadas;
• planejar antecipadamente onde alocar o esforço amostral na estação seca e na chuvosa, prevendo as condições de trafegabilidade das estradas e acessos, contemplando na escolha a presença de locais-chave para uso pela equipe, que sejam seguros do ponto de vista de furtos e roubos, permitam acesso em ambas as estações do ano, tanto na instalação dos dispositivos quanto na coleta de dados, e, principalmente, sejam correlacionados aos impactos ambientais aos quais buscamos respostas;
• planejar as campanhas de monitoramento de fauna dentro do período exato em que os dispositivos de monitoramento e armazenamento de dados foram programados para abertura do sinal e coleta de dados (no caso do estudo com radiotelemetria); e
• programar a mobilização e a logística de todos os integrantes da equipe dentro da janela de dias planejados e contados da campanha.

Ademais, as condições climáticas nem sempre são favoráveis e muitas vezes promovem atrasos que levam a prejuízos. Os recursos financeiros destinados nem sempre alcançam o mínimo necessário para a aquisição de equipamentos, custeio de logística e imprevistos. As demandas documentais e burocráticas dos processos de licenciamento abocanham um tempo precioso que a urgência pelas respostas do estudo não contabiliza.

Percebe-se que é muito desafiador planejar este tipo de estudo em áreas inóspitas e distantes, com dias e recursos contados, esperando que não ocorram muitos imprevistos, visando resultados rápidos.

Focar o esforço amostral no resultado

Desse modo, para tentar minimizar as perdas e alcançar resultados, a ideia central se concentra em otimizar tempo e recursos e focar o esforço amostral no resultado e não no cumprimento do esforço predefinido, em qualquer situação estrutural e/ou climática. O planejamento do todo é fundamental para que os objetivos sejam alcançados. Aplicar um esforço de alta qualidade é o grande diferencial.

Aplicar um esforço efetivo requer coragem e conhecimento; requer pensar diferente e pensar além do que está posto no papel, o qual fomos programados a ler e a executar. Requer arriscar em fazer o novo a partir dos dados, informações e conhecimento já construídos, dirigindo-se ao que se busca como resultado.