
Casal que há mais de 30 anos viaja até os lugares mais remotos do Brasil para fotografar a natureza. São adeptos da ciência cidadã, ou seja, do registro e fornecimento de dados e informações para a geração de conhecimento científico
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Este ano, aproveitamos nossa ida ao Lajedo dos Beija-flores, que será motivo de outro artigo, e esticamos nossa viagem para Itacaré, na Bahia, para tentar o registro de algumas espécies endêmicas (que só existem em uma região) e com a existência ameaçada. Contratamos o experiente guia Nido Cafezeiro para tentar em dois dias e meio fazer os tão esperados registros.

Acomodação em Itacaré
Por sugestão do Nido, nos hospedamos na Pousada Cariocaré, que fica bem próximo a uma padaria, uma mercearia e a restaurantes. A pousada não oferece café da manhã e outras refeições, mas reservamos um quarto com uma cozinha conjugada com fogão, geladeira e os utensílios básicos, com os quais nós preparávamos de madrugada nosso café da manhã e nosso lanche no jantar.
Macuquinho-baiano
O macuquinho-baiano (Eleoscytalopus psychopompus) é uma ave com cerca de 11 centímetros e que vive em áreas alagadiças e se locomove andando em emaranhados. Tem apenas 75 registros fotográficos em todo Brasil e em apenas quatro cidades da Bahia. É o tipo de registro difícil de ser feito, seja pela pequena quantidade de indivíduos, pelas condições do ambiente, pela falta de luz ou pela dificuldade de atrair o bichinho para uma área em que possa ser visto.
Partimos para a área rural da cidade de Maraú e, como tinha chovido nos últimos dias, as estradas de terra estavam com atoleiros em vários pontos e com algumas descidas muito lisas que nos preocupavam já que elas seriam subidas no retorno. Indo e jogando barro para todos os lados, chegamos no ponto de deixar o carro e entrar na mata, praticamente sem trilhas, e caminhamos até chegar ao local onde o Nido iria tentar atrair o macuquinho-baiano. A mata estava muito molhada e o ambiente extremamente úmido. Sentamos em cima de uns galhos caídos, que o Nido forrou com algumas grandes folhas de palmeiras.
O Nido colocou o canto do macuquinho-baiano e em poucos minutos o bichinho respondeu… Bem longe. Para a nossa surpresa, nosso guia começou a chamar o bichinho, não com o playback, mas sim falando “vem cá…. vem cá”. E o macuquinho-baiano continuava cantando longe, mas o Nido estava confiante, dizendo “ele está vindo” e chamando “vem cá”. Já se passavam quase duas horas, quando o dia escureceu bastante e as rãs começaram a vocalizar, como prenúncio que a chuva estava chegando. Ficamos todos apreensivos. O tempo não melhorou, mas por sorte a chuva não veio.

Após horas, o macuquinho-baiano já cantava bem próximo a nós e o Nido continuava chamando a ave. Nos posicionamos para as fotos e o nosso guia ficou a cerca de um metro e meio do local onde a ave finalmente apareceu, caminhando no lodo. Por incrível que possa parecer, ao chegar, ele olhou para o Nido, que também estava imóvel aguardando o bichinho. Tiramos poucas fotos, mas o suficiente para fazer o registro dessa raridade.
Parece até que o Nido tem uma relação de amizade com o macuquinho-baiano! Ficou claro para nós que ele tem um carinho e um cuidado todo especial com a ave. Em duas horas, ele usou pouquíssimas vezes o playback e nos avisou diversas vezes para não utilizar o flash, evitando assustar ou estressar o bichinho.
Tangará-rajado
O tangará-rajado (Machaeropterus regulus), embora pareça bem maior nas fotos, é um pássaro que mede de 9 a 9,5 centímetros, ou seja, menor que a maioria dos beija-flores. Sua beleza é impressionante e o macho tem uma coroa de cor vermelha intensa e um marcante peito rajado. Existem registros apenas na Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Já tínhamos tentado registrar essa preciosidade em algumas de nossas viagens, mas nunca tínhamos tido sucesso.
O interessante nesse registro foi que ao chegarmos ao local, dois ou três indivíduos responderam ao playback, mas não apareciam para as fotos. Após algum tempo, o Nido percebeu a presença de um picapauzinho-de-pintas-amarelas (Picumnus exilis), que também estava em nossa lista de desejos, e passamos a tirar fotos dele, esquecendo momentaneamente do tangará-rajado.

Em determinado momento, o Nido ficou mudo e apenas apontou para um galho onde o tangará-rajado estava pousado no limpo, a cerca de dois metros de nós – parecia estar nos observando. Foram algumas fotos nesse momento e ainda tivemos outras oportunidades em que ele apareceu para nossa felicidade.
Rabo-branco-de-margarette
O rabo-branco-de-margarette (Phaethornis margarettae) é um beija-flor que mede de 16,5 a 17 centímetros, com as longas penas da cauda na cor branca. Seu bico é longo e largo e a parte inferior é de cor vermelha, sendo isso o que mais nos chamou a atenção ao vê-lo. No WikiAves, existem registros fotográficos em Alagoas e Pernambuco, mas a maioria das fotos foram feitas na Bahia.
Para registrar o rabo-branco-de-margarette, viajamos para o Parque do Conduru, na cidade de Uruçuca. Esse beija-flor habita o interior das matas e, quando chegamos ao local, já escutamos o canto contínuo deles, o qual faz parte do ritual nupcial.
O playback não foi usado em nenhum momento e o Nido localizou dois indivíduos cantando dentro da mata pousados a cerca de dois metros do solo. Em menos de 15 minutos, fizemos mais de 100 fotos.


O comedouro
Uma atração à parte é o comedouro que o Nido tem no quintal de sua casa. Ficamos surpresos em ver, bem de pertinho, aves de belas espécies desfrutando dos cachos de banana que ele pendura no local.
O comedouro é frequentado por muitas espécies, mas destacamos a saíra-beija-flor, a saíra-pérola, a cambada-de-chaves, o tiê-sangue, o fim-fim-grande e o tempera-viola.













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