É preciso fazer solturas

Este artigo vai direto ao ponto do maior problema relacionado a questão da soltura de animais silvestres, isto é, aborda a volta de animais aptos aos ecossistemas brasileiros. Ainda que sempre pesem aspectos relacionados a falta de recursos e os desafios técnicos envolvidos em cada soltura, o ponto central permanece: é preciso haver solturas!

O Fauna News se consolidou com uma mídia voltada ao acompanhamento de tudo o que acontece com a fauna silvestre no Brasil e no mundo (basta ver a matéria publicada sobre a prisão de Paul Watson), muitas vezes quase em tempo real. Então vejamos, se cotejamos os dados sobre animais atropelados nas diversas matérias técnicas publicadas no portal com os números oficiais publicados sobre o tráfico de fauna, em especial aves, somando-se os dados de cada reportagem sobre animais resgatados, temos um universo anual de milhares de animais sendo removidos, principalmente por acidentes ou por tráfico, dos seus ambientes de origem.

Poder público com problemas

Por outro lado, quando se vai cotejar os dados oficiais sobre solturas, publicados por exemplo, pela Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, já identificamos o primeiro problema: estão disponíveis dados atualizados até o ano de 2021. Ou seja, temos dados desatualizados por três anos seguidos (o que aconteceu com animais silvestres nesse período?)!

O segundo problema: os dados de destinação são decrescentes – vão reduzindo ano a ano. Há uma diferença de 55% de destinação de animais a menos entre os dados de 2018 e 2021.

Ruim, não é mesmo?

Ok, vamos seguir um outro caminho, bastando ver na coluna Segunda Chance – que trata especificamente sobre solturas. Quando olhamos o número efetivo de ações realizadas e somando todos os dados apresentados, chegamos na casa das centenas! Ou seja, existe um tremendo descompasso entre a retirada de animais do ecossistema, na casa dos milhares e o que é efetivamente devolvido a natureza, na casa das centenas. A conclusão é óbvia, erradicação de espécies resultando em florestas vazias.

Pode piorar?

Sim, quando além dos animais, eliminamos também as florestas. A mudança de uso do solo, com a conversão de vegetação nativa em áreas para construção de imóveis, erradica toda a fauna e essa ação pode ser realizada por uma única pessoa usando, por exemplo, uma retroescavadeira. Esse equipamento, em poucas horas, retira o solo, deixando apenas aquela área vermelha de subsolo, completamente esterilizado, pois nem as bactérias suportam. Milhões de anos de processos evolutivos para a estabilização de um ecossistema erradicados em algumas horas…

Mais ainda dá tempo! E vendo o “copo meio cheio”, é preciso lutar tanto pela recomposição e regeneração florestal como pela soltura de qualquer animal silvestre que esteja apto! Nenhum a menos!

Como poderia ser? Primeiro: promover de fato a ação de soltura de animais silvestres e quem tem esse poder é o poder público, inclusive, fomentando a adesão de novos interessados. Hoje, 99% de todas as solturas são feitas por particulares.

Segundo: financiar quem faz, pois a conservação da fauna silvestre é dever do Estado e direito inalienável do cidadão – e se o estado delega, tem que viabilizar os projetos. Terceiro: uma base de dados que “converse” com outras bases, como as bases estaduais (secretarias estaduais de Meio Ambiente e Polícia Militar Ambiental) e federais (Ibama e ICMBio), gerando estatísticas adequadas que permitam planejamento e ações efetivas de soltura.

Quarto e o mais importante: respeito a fauna, pois se um animal silvestre que passa por mil dificuldades ao ser retirado de seu ambiente, e ao final de tudo, sobrevive, merece a chance de ser livre.

Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
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