Bióloga, mestra em Zoologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro e professora nas redes estadual e particular do Rio de Janeiro.
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Nomes populares: arraia-elétrica, raia-elétrica, arraia treme-treme, raia treme-treme.
Nome científico: Narcine brasiliensis
Estado de conservação: “quase ameaçada” (NT) na Lista Vermelha da IUCN (2020) e “dados insuficientes” (DD) no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do ICMBio (2012).
A vida silvestre pode ser chocante e o bicho da vez representa literalmente essa afirmação.
Dotada de estruturas especiais que permitem a produção de eletricidade, a raia treme-treme talvez não seja tão popular quanto o famoso peixe-elétrico, animal amazônico conhecido como poraquê. Aliás, esse é o nome pelo qual são conhecidas pelo menos três espécies do gênero Electrophorus. Uma das mais recentemente descritas pode gerar – acreditem – descargas que chegam a 860 volts!
Mas a raia treme-treme, sobre a qual falaremos neste artigo, apesar de também ter o nome atribuído a três espécies de um mesmo gênero, não produz descargas tão poderosas, mas algo entre modestos 14 e 37 volts – o que não a torna menos digna de interesse que seu colega eletrizante.
Com uma distribuição geográfica que vai do Sudeste do Brasil até o norte da Argentina, a raia treme-treme apresenta de médio a pequeno porte, não passando de 50 centímetros de comprimento. Habita principalmente águas marinhas rasas, embora possa ser encontrada em profundidades medianas e em ambientes estuarinos. Sua preferência é por temperaturas em torno de 20 graus.
De hábito noturno, alimenta-se de pequenos invertebrados, que são sugados através da expansão de sua mandíbula, que é projetada formando um tubo, além de participar da escavação do substrato. Ocorre em áreas costeiras, em substratos de areia ou lama, onde costuma enterrar-se, deixando apenas os olhos à mostra. Sua coloração permite uma camuflagem bem eficiente. Alimenta-se preferencialmente de pequenos crustáceos e poliquetas.
Quanto ao seu lado “Super Choque”, a treme-treme produz descargas elétricas graças a órgãos reniformes, localizados em ambos os lados do corpo, entre a cabeça e a nadadeira peitoral, com células chamadas eletrócitos, que geram uma corrente elétrica de forma involuntária, ou seja, um reflexo do animal. Após a emissão de um choque contínuo ou vários repetidos, a raia precisa recuperar a energia que foi esgotada, através de descanso por algum período.
As descargas elétricas são importantes na sua defesa e especula-se que também possam ser usadas como forma de comunicação.
Como prevenção a acidentes decorrentes de contato com uma treme-treme, deve-se observar onde pisar e evitar o manuseio do animal, apesar de sua “fofurice”. Lembre-se que animais não devem ser importunados e, neste caso em particular, não esqueça que a água salgada é um excelente condutor de eletricidade. Já viu, né?
As consequências de um choque desta raia podem ir de um susto a sérias queimaduras, desmaios, tonturas ou parada cardíaca, no caso de pessoas que possuam aparelho de marcapasso implantado no corpo. Lembrando que, dependendo da profundidade, pode haver risco de afogamento.
Apesar de não ser utilizada na alimentação, a treme-treme costuma ser capturada acidentalmente em pescarias artesanais e comerciais e compõe a chamada “fauna acompanhante” no arrasto do camarão, sendo descartada, muitas vezes, com ferimentos ou sem vida. Além disso, é alvo da caça submarina, sendo vendida para aquariofilia. O nado lento facilita sua captura.
https://www.youtube.com/watch?v=Y_tPIgt-880
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