Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestra e doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ecologia da mesma universidade, onde atua no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF).
Tem como principais interesses assuntos relacionados à ecologia de ferrovias e rodovias, assim como conservação da natureza e educação ambiental.
Em geral, baseamos as decisões dos nossos estudos para indicação de medidas mitigadoras para atropelamentos de fauna em rodovias em apenas um tipo de abordagem de obtenção de informação. Porém, diferentes abordagens, pensadas para diversos impactos, podem gerar resultados variados e inúmeras recomendações.
Por exemplo, ao utilizarmos dados de atropelamentos, vamos identificar os locais onde os animais mais morrem. Mas será que esses locais são os mesmos em que os animais cruzam mais a rodovia?
Seria muito bom ter todas essas informações, pois a combinação delas pode gerar uma compreensão mais abrangente sobre o funcionamento da região estudada e resultados mais robustos para a tomada de decisão.
Obviamente, a obtenção de diferentes tipos de dados não é uma questão crucial, mas, felizmente, pesquisadores da Costa Rica conseguiram considerar isso em um estudo.
Os autores do estudo decidiram utilizar diferentes abordagens de obtenção de informações para pensar em ações de mitigação de atropelamentos de fauna em um dos países com maior biodiversidade do mundo. Publicado em junho deste ano, o trabalho tinha como objetivo indicar locais em duas rodovias onde deveriam ser instaladas passagens de fauna inferiores e superiores, além de também recomendar a modificação de algumas estruturas de drenagem com potencial uso pelos animais silvestres.
Foram usadas três abordagens: armadilhas fotográficas, ciência cidadã e análise de circuitos.
As armadilhas fotográficas foram utilizadas para compreender sobre as espécies presentes ao longo de duas estradas em uma região de importância ecológica. Essa abordagem gerou uma estimativa de riqueza e de abundância de fauna na região.
A ciência cidadã foi utilizada para obter dados de atropelamento, a partir dos registros deles no site iNaturalist. Essa abordagem identificou os locais da estrada com maior número de atropelamentos.
E a análise de circuitos foi utilizada para avaliar como a estrutura da paisagem poderia influenciar o movimento animal. Esse tipo de análise é baseado na teoria de circuitos da física e cria um fluxo de corrente ligando dois pontos, equiparando-se ao deslocamento esperado entre fragmentos de hábitat, com base no custo de viagem entre diferentes tipos de cobertura da terra. Essa abordagem gerou um mapa com valores de corrente e, a partir dos maiores valores (que equivalem aos locais com mais movimentação animal), foram identificados os locais onde a presença da estrada impediria esse movimento.
Os resultados de todas as abordagens foram combinados para determinar quais as melhores áreas para implementar estratégias de mitigação. Foram sobrepostas as áreas de maior riqueza e abundância, os locais mais críticos de atropelamentos e os onde a estrada impediria o movimento dos animais.
A partir dessa sobreposição, foram identificadas quatro áreas que deveriam ser priorizadas para instalação de estruturas de travessia de fauna. As áreas apresentaram diferentes critérios em cada, como uma área que apresentou três locais críticos para atropelamentos, enquanto outra área apresentou alta riqueza e abundância e um local limitante para o movimento.
A indicação de mitigação é resultante de uma análise robusta da combinação de diferentes abordagens, o que possibilitará reduzir impactos em áreas não seriam identificadas caso se utilizasse apenas uma abordagem. A partir disso, é importante que sejam pensadas medidas de mitigação que contemplem os impactos avaliados (atropelamentos e perda de conectividade), como cercas que evitem os animais chegarem à via, mas associadas a estruturas que permitam a travessia deles.
Além disso, é importante também pensar com cautela sobre a utilização de dados de ciência cidadã. Embora possam ser muito úteis, essas informnações podem representar registros esporádicos ou de apenas alguns locais específicos. Entretanto, outros locais que também podem ser importantes para a mitigação podem não ter sido identificados apenas pela ausência de monitoramento para obtenção de registros.
Uma estratégia para diminuir esse problema foi adotada no estudo e é interessante de ser compartilhada. Os pesquisadores incentivaram a população local durante o período do estudo a coletarem informações nas rodovias da região, aumentado a quantidade e a abrangência dos dados coletados. Tendo essas questões em mente, a ciência cidadã pode ser uma forte aliada para ampliar a disponibilidade de alguns tipos de informações.
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).
Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestra e doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ecologia da mesma universidade, onde atua no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF). Tem como principais interesses assuntos relacionados à ecologia de ferrovias e rodovias, assim como conservação da natureza […]
