Dicas para fotografar invertebrados

Olá, tudo bem? Para você que acompanhou os últimos três artigos sobre como registrar melhor os mamíferos, as aves e a herpetofauna (répteis e anfíbios), chegamos ao fim de nossa jornada pelos grupos animais. Neste artigo, vamos discutir sobre uma outra área bem nichada da fotografia de vida selvagem: a fotografia de invertebrados. Apesar da imensa variedade de espécies desse grupo, os grandes protagonistas das imagens costumam ser os insetos e, ocasionalmente, aracnídeos.

Na semana passada, vimos que as lentes macro nos ajudam a capturar detalhes minúsculos dos répteis e anfíbios, mas que não eram obrigatórias. Porém, para os invertebrados, este tipo de equipamento é basicamente imprescindível para expor o que nossos olhos não veem. Sim, ainda é possível fotografar com outros tipos de lente (e até com o celular!), mas nesse caso os resultados raramente serão os mesmos por conta do tamanho desses animais.

Pessoalmente, nunca investi em qualquer tipo de equipamento macro por não ser o meu foco principal na fotografia, então as fotos que você verá aqui são o melhor que consegui com uma teleobjetiva 70-300 mm. No final do artigo, deixarei algumas indicações e referências de fotógrafos especializados em macro para você apreciar as produções especializadas deles e comparar com as minhas feitas no “improviso”.

Antes das dicas, vamos entender um pouquinho sobre como funciona a fotografia macro. Primeiro, uma foto é tecnicamente considerada macro quando o objeto (no nosso caso, o animal) é registrado com, no mínimo, seu tamanho na vida real no sensor da câmera (ou seja, numa proporção 1:1) até 10:1 (ampliando 10x o objeto). A partir disso, a imagem já pode ser considerada uma microfotografia.

Você deve estar pensando que a lente necessária para a macrofotografia deve ter um zoom muito bom – o que não é mentira. Porém, algumas lentes teleobjetivas possuem muito mais “zoom” e ainda não conseguem a aproximação em animais pequenos como as macros fazem. O segredo está na distância mínima de foco das lentes, isto é, o quão longe você deve ficar do objeto para sua lente conseguir focar. As lentes tele costumam precisar de alguns metros de distância, enquanto as macro podem ser quase encostadas no assunto que, ainda assim, vão conseguir focar.

Aqui, vale uma explicação: o termo “zoom” na fotografia é definido pela distância focal das lentes, ou seja, a distância entre o centro da lente e o sensor da sua câmera, em milímetros. Logo, quanto maior essa distância, maior o “zoom” da sua lente. A teleobjetiva que utilizo chega a 300 mm, sendo que existem outras de até 600 mm e 800 mm (as lentes macro normalmente têm entre 35 mm a 200 mm). Vale lembrar que distância focal e distância mínima de foco são coisas diferentes.

Espero que isso fique minimamente entendível, pois é possível mergulhar de cabeça e se aprofundar muito mais em uma área tão complexa como a macrofotografia. Voltando aos invertebrados, eles são animais muito fáceis de serem encontrados e, por conta disso, não é necessário fazer um esforço muito grande para fotografá-los. Qualquer jardim ou quintal está cheio deles, basta saber onde procurar. Seguem as dicas!

Dicas para fotografar pequenos invertebrados

• Estude a biologia dos animais que quiser fotografar. Como dito anteriormente, a biodiversidade de invertebrados é gigantesca, então tenha muito claro na sua cabeça seus objetivos. Para insetos polinizadores, por exemplo, procure por flores; para insetos sociais, por formigueiros, colmeias e cupinzeiros (muito cuidado com esses! Tenho mais medo de colmeia no meio do mato do que de cobras e onças); para minhocas e outros animais fossoriais, procure na terra e debaixo de pedras, troncos, etc.

• Se tiver o equipamento macro, o uso de periféricos, como flashes externos, disparadores, difusores e tripés, pode otimizar seus resultados.
• O foco é extremamente importante nesse tipo de fotografia. Escolha muito bem o ponto de maior interesse e faça várias tentativas até ele ficar bem nítido. Uma técnica bem avançada que macrofotógrafos utilizam é o focus stacking (sobreposição de foco, traduzindo livremente), que consiste na captura de várias fotos do mesmo animal, cada uma com o foco em um plano ligeiramente diferente. Depois, em um programa de edição, essas fotos são sobrepostas com a finalidade de deixar o animal inteiro focado. Já vi uma imagem feita a partir de mais de mil fotos através dessa técnica. Vale lembrar que o bichinho e sua câmera devem ficar imóveis durante todo o processo – se qualquer um dos dois se mexer só um pouquinho, teste sua paciência e comece do zero.
• Estude bastante sobre iluminação, tanto natural quanto artificial. Devido ao tamanho dos animais, qualquer mínima alteração nas luzes e sombras pode impactar toda a sua foto.
• Lembrem-se, invertebrados são muito mais do que insetos e aracnídeos. Muitos animais como moluscos, crustáceos, anelídeos raramente são vistos e fotografados. Então aproveite as oportunidades para tentar inovar e surpreender seus espectadores.

• Escolha muito bem seu plano de fundo para que ele não roube a atenção dos seus animais. Também é possível fotografá-los em estúdios para criar fundos infinitos pretos ou brancos e dar um tom mais artístico na foto (uma caixa de sapato forrada de sulfite já pode ser considerada um estúdio). Só tenha bom senso de tirar o animal de seu hábitat com o menor impacto possível e, lógico, de devolvê-lo ao mesmo lugar depois. Também é possível criar fundos infinitos de forma artificial em softwares de edição, evitando a necessidade de interagir com o bicho.

• A técnica que vimos nos outros artigos de se manter no nível dos olhos do seu protagonista volta a ser importante para os invertebrados.
• Use a criatividade e procure por detalhes e informações que somente a fotografia é capaz de revelar sobre uma espécie (padrões de cor, estruturas do corpo, retratos do rosto, etc.).

• Siga outros fotógrafos que se especializaram neste tipo de fauna e fotografia e utilize-os como inspiração. Eis as minhas recomendações: César Favacho, Pete Burford, Rafael Steinlesberger e Andrei Savin.

Por hoje é só e, com isso, chegamos ao fim da nossa série sobre como aproveitar melhor as oportunidades de fotografar os principais grupos de animais. Não deixe conferir a galeria no final do artigo. Espero que você tenha gostado do que leu e que tenha aprendido coisas novas. Como fotógrafo e cientista, acredito que nosso conhecimento nunca deve ficar guardado para nós mesmos. Agradeço imensamente pela sua companhia e nos vemos nas próximas semanas, com mais conversas sobre fotografia de vida selvagem!

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