Dicas para fotografar aves

Salve, salve! Espero que esteja tudo bem com você. Estou de volta com mais algumas dicas para registrar animais silvestres (semana passada foram sobre os mamíferos) e neste artigo vou abordar as celebridades da fotografia de vida selvagem: as aves! Considero essa a minha “especialidade”, já que esses animais são o assunto da maioria das minhas fotos, assim como estudei e trabalhei com eles durante toda a minha formação como biólogo.

Nos últimos anos, a popularização da fotografia de aves explodiu, muito por conta do aumento das atividades de birdwatching (ou observação de aves) e turismo ecológico ao redor do mundo. Além disso, juntamente com os insetos, as aves estão entre os animais mais comuns de serem encontrados não só na natureza, mas também em centros urbanos.; Ou seja, elas são muito acessíveis a fotógrafos com diferentes níveis de experiência. É um dos poucos e raros grupos da fauna que você nem precisa sair de casa para fotografar – basta ter um quintal ou outro tipo de atrativo (bebedouros, comedouros, árvores etc.).

Atualmente, existem mais de 10.400 espécies de aves catalogadas no mundo. Segundo o Comitê de Classificação de Aves da América do Sul (SACC), o Brasil abriga 1.859 dessas espécies, ocupando a terceira colocação entre os países com maior diversidade de avifauna, perdendo somente para o Peru (1860 espécies) e a Colômbia (1869 espécies) – dados de 2023. Já para o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), são 1.971 espécies (2021).

Um dos meus objetivos pessoais é fotografar cada uma delas ao longo da minha vida. Sei que essa tarefa é quase impossível, mas é uma motivação para nunca parar de colocar minha câmera no pescoço. Por enquanto, tenho na minha galeria fotos de pouco mais de 180 espécies de aves brasileiras.

Já que estamos em um dos melhores lugares do mundo para encontrar esses bichos alados, então vamos às dicas…

Dicas

• Assim como vimos nos mamíferos na semana passada, as aves também têm seus períodos de maior atividade durante o entardecer e, principalmente, amanhecer. Então, esteja preparado para acordar bem cedinho! Também existem exceções, como aves noturnas (bacuraus, urutaus, corujas etc.), então trace seu plano de acordo com seu objetivo.
• O uso de roupas discretas e/ou camufladas volta a ser importante. A visão é o sentido mais desenvolvido na maioria das aves, a famosa “visão de águia”.
• As lentes teleobjetivas são indispensáveis para esse tipo de fotografia, já que raramente você conseguirá chegar bem próximo de alguma ave. Além disso, por esses animais serem muito inquietos, priorize o modo de foco AI Servo (Canon)/AF-C (Nikon) (significam autofoco contínuo). Nele, o foco irá seguir o assunto principal da sua foto (no caso, a ave) independente do seu movimento e não ficará travado em um único plano.
• Procure por fontes de água, poleiros, árvores frutíferas, flores ornitófilas (polinizadas por aves) e até mesmo ninhos e espere por alguma atividade. No caso dos ninhos, mantenha o máximo de distância possível e tenha muito cuidado para não causar qualquer tipo de impacto – é muito fácil fazer com que os pais abandonem os ovos ou filhotes em qualquer sinal de perigo.

• Estudar o comportamento, a alimentação, a rotina e a vocalização das aves é fundamental para encontrar seu alvo com muito mais facilidade na natureza.
• Utilizar o playback (gravações com cantos e chamados de aves) pode ser uma maneira efetiva de atrair a ave para mais perto e em lugares mais expostos para a foto. Porém, isto deve ser usado com moderação, uma vez que a gravação pode ser interpretada como outro indivíduo que está invadindo o território, estressando o animal que realmente existe. Vale lembrar que o playback nunca deve ser utilizado perto de ninhos ativos.
• O plano de fundo pode ser tão importante quanto o assunto da foto. Para aves coloridas, procure fundos mais neutros e menos distrativos. Já para aves mais discretas, fundos coloridos podem contrastar bem – só tenha cuidado para não sobrecarregá-lo de informação. Tente evitar o uso do céu repetidamente; use a criatividade e procure alternativas mais interessantes. Também tente sempre desfocar bem o fundo para dar destaque à sua ave, utilizando aberturas do diafragma maiores e mantendo uma boa distância entre o assunto e o último plano.

• Para aves em voo, aumente bem a velocidade do obturador para congelar o movimento. Particularmente, costumo utilizar entre 1/500s e 1/1000s (significa que a câmera ficará “aberta” para a entrada de luz durante um quinhentos avos de segundo). Diferentes espécies voam em ritmos diferentes (como o bater de asas frenético de um beija-flor e o planar suave de um urubu), então configure sua câmera em relação ao que você encontra. Lembre-se, as aves decolam na direção contrária do vento, então se posicione de acordo caso queira uma foto de uma ave voando em direção a você.

• Inclua outros elementos que enriqueçam a composição para deixá-la mais interessante, como o hábitat, a vegetação (de forma não ruidosa), aves se alimentando ou interagindo com outras, etc.

• Para se aproximar de uma ave que está parada em algum lugar, tente sempre caminhar em zigue-zague e desviar o olhar ocasionalmente. Encarar constantemente o animal e caminhar diretamente até ele pode ser interpretado como uma tentativa de caça (isso serve para outros grupos de animais também). Preste atenção ao comportamento do bicho e tenha paciência para ganhar distância sem afugentá-lo. Um sabiá, por exemplo, está forrageando no solo e assim que você começa a se aproximar ele para o que está fazendo e levanta a cabeça. Isso é um sinal de alerta e significa que devemos esperar. Assim que ele perceber que você não é uma ameaça, vai voltar às suas atividades, sendo então seguro dar mais uns passinhos para a frente.
• Lembrando do que discutimos no artigo sobre mamíferos, tome cuidado com o contraluz e não fique diretamente embaixo da árvore em que a ave está para fotografá-la. Afaste-se um pouco e depois corte a foto com a composição que desejar em um editor de imagens para deixar o animal maior no frame. Ângulos horizontais costumam ser mais agradáveis e harmônicos em relação aos muito verticais.

A primeira foto que tirei lá em 2017 foi de uma coruja-buraqueira e, apesar de tê-la perdido ao longo do tempo e de muitos cartões de memória, ainda tenho sua imagem bem nítida em minha cabeça. Comparando com as fotos que tiro hoje das mesmas corujas, consigo ver um abismo de diferença. Então minha dica final é: treine! Quanto mais fotos você tirar, melhores elas vão ficar. O segredo é não desanimar e criar motivações para você mesmo. Prometo que é uma sensação muito boa quando você começa a ficar feliz com os seus resultados!

Não esqueça de conferir no final do artigo uma galeria com algumas fotos mais recentes que tirei.

Espero que tenha gostado das técnicas que trouxe para você hoje. Sei que a comunidade de passarinheiros é gigantesca e cheia de ideias inovadoras, portanto fique à vontade para compartilhá-las comigo!

Muito obrigado e nos encontramos na semana que vem para abordar um dos grupos mais difíceis e menos populares de se fotografar: a herpetofauna – répteis e anfíbios!

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