Desafios na avaliação da efetividade da mitigação em estradas

Passagens de fauna estão se tornando cada vez mais populares e sendo instaladas em projetos rodoviários e ferroviários ao redor do mundo. Um desafio crucial nesses projetos é o monitoramento posterior e avaliação de efetividade das medidas de mitigação de impactos, para saber se o que foi implementado está atingindo seus objetivos, se foi suficiente ou se precisa de adequações.

O primeiro passo é, então, ter clareza sobre qual o objetivo de cada medida. Por exemplo, uma medida pode ser instalada almejando reduzir o número de atropelamentos ou aumentar a conectividade entre os dois lados da estrada, portanto ter clareza sobre o objetivo vai ajudar a definir o que significa o sucesso de uma medida. Podemos também definir o sucesso de uma medida em diferentes níveis, como a mitigação ao nível do indivíduo ou a mitigação de efeitos nas populações.

O pesquisador Dror Denneboom e dois colaboradores realizaram uma revisão e identificaram que tipo de passagens de fauna são utilizados por diferentes espécies. Nesse estudo, eles definiram efetividade das passagens de fauna como a “proporção de travessias bem-sucedidas em relação ao total de aproximações”, que é uma medida de sucesso ao nível dos indivíduos. Esse tipo de informação sobre a aceitação de passagens de fauna pelas espécies ajuda a otimizar o design dessas estruturas, mas não fornece informações sobre se a mitigação mantém ou restaura o tamanho e a viabilidade de uma população, ou se mantém ou restaura o nível de conectividade que existia antes da estrada ser construída.

Avaliar efetividade

Para avaliar a efetividade de uma medida em relação a quanto essa medida mitiga um impacto, precisamos medir variáveis que sejam relevantes para o objetivo da mitigação e as perdas e ganhos nesses resultados precisam ser medidos em relação a condições de referência apropriadas, os chamados controles. É impossível determinar se nenhuma perda líquida foi alcançada, quanto de perda ocorreu ou quais efeitos negativos foram prevenidos pela mitigação sem comparação com marcos de referência aos quais o efeito da mitigação pode ser comparado (por exemplo, condições “sem estrada” ou “estrada não mitigada”).

Num artigo publicado recentemente liderado por Kylie Soanes, da Universidade de Melbourne, nós tentamos responder o quanto as passagens de fauna mitigam o efeito de barreira de rodovias no movimento animal.

Para isso, identificamos centenas de estudos que avaliaram passagens de fauna e os classificamos de acordo com o contexto do projeto: se era uma nova estrada, uma ampliação ou duplicação, implantação de mitigação em uma estrada existente ou ainda adequações de medidas já existentes. Também classificamos os tipos de controle utilizados em cada estudo como referência – por exemplo, se o estudo comparava o movimento com uma condição sem estrada ou com uma estrada não mitigada.

Com isso, identificamos quatro cenários comuns nos estudos sobre passagens de fauna, que permitem responder a diferentes perguntas: As passagens de fauna previnem a perda do movimento? Restauram o movimento aos níveis pré-construção? Aumentam o movimento em relação a deixar a estrada não mitigada? Ou ainda, as passagens de fauna permitem o movimento da fauna?

O que encontramos foi que, apesar de muitos estudos indicarem que as passagens de fauna permitem o movimento animal e que isso ocorre para diferentes espécies, a maioria das pesquisas não é desenhada para responder as outras perguntas. Isso acontece porque não incluem a comparação com controles e, portanto, não permitem tirar conclusões sobre a mudança no movimento.

Considerando os estudos que incluem controles e permitem avaliar se a mitigação está sendo efetiva em mudar o movimento animal, infelizmente, as evidências apontam que essa mitigação normalmente é apenas parcial. Isto é, a perda de movimento não é totalmente evitada ou o movimento não é totalmente restaurado.

Esses resultados apontam que construir passagens de fauna é sim melhor do que não implementar nenhuma medida de mitigação. Mas também apontam que a construção destas passagens não é suficiente para mitigar completamente os efeitos das estradas na redução do movimento animal. E, importante lembrar, estamos falando aqui somente de mitigar o efeito de barreira ao movimento e não de todos os impactos negativos de estradas.

Precisamos investir na implementação e em mais estudos com passagens de fauna. Mas não podemos deixar que a possibilidade de construir passagens de fauna seja utilizada como um aval para construir estradas em lugares altamente sensíveis, pois elas são uma mitigação parcial e pontual.

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