A Amiga da SAVE Brasil Cristina Rappa começou a observar aves em 2013. Conheça um pouco sobre a sua jornada no universo passarinheiro.
Por Cristina Rappa
observacaodeaves@faunanews.com.br
Foge um pouco do esperado, mas foi o lançamento do meu primeiro livro infantil, Topetinho Magnífico (Ed. Melhoramentos, 2012), que me levou à observação de aves e não o contrário.
Lembro-me bem. Chegaram os “exemplares de autora”, enviados pela editora, em um mês de maio e uma amiga sugeriu: “Está rolando um evento de aves no Parque Villa Lobos. Por que você não vai lá dar uma olhada?”.
Enfiei uns exemplares na mochila, peguei a bike e me mandei para o parque na região oeste da capital, onde acontecia um evento chamado Avistar, o primeiro de muitos que acabaria frequentando, uma vez até como palestrante. Nem podia imaginar isso naquela época.
Encantei-me com aquele mundo das aves, mas era tudo muito novo para mim. No estande do Cristalino Lodge – um eco resort na divisa do Mato Grosso com o Pará, na beira do rio de mesmo nome e onde já foram registradas cerca de 600 espécies de aves – a proprietária, dona Vitória, gosta do livro e sugere: “Vá nos visitar e escreva depois um livro infantil cujos personagens são espécies da nossa região”.
Eu acabei indo ao Cristalino, mas antes, em setembro do ano seguinte (2013), resolvi participar, a convite do meu amigo Ademir Carosia, então secretário do Meio Ambiente de Arceburgo, sul de Minas Gerais, e ardoroso defensor da natureza, de um curso sobre observação de aves numa fazenda em Mococa (SP), município vizinho. Os avistamentos e os registros de um casal de arirambas-de-cauda-ruiva (Galbula ruficalda) e de uns indivíduos de periquitos-de-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri) marcaram, nesse final de semana, minha iniciação na observação de aves.
Outro dia, um conhecido e bem experiente observador de aves, que participou desse evento, lembrava-se no Facebook que eu e o Ademir usávamos camisas vermelhas. Nem me passava pela cabeça naquela época que seria inadequado e eu sempre achei que ficava bem de vermelho… Para falar a verdade, ainda não tenho tanta certeza se uma peça de roupa de cor mais chamativa assustaria tanto as aves assim.
O mesmo acabou se repetindo na tal viagem ao Cristalino, em agosto de 2014. Paulo, um observador de aves que esperava chegar na milésima espécie registrada na viagem (eu devia ter no máximo 30 no WikiAves naquela época), implicava com o meu tênis de trilha vermelho e com o boné fúcsia da minha amiga Maria Luiza. “Cristina, o passarinho vai olhar o seu tênis e se perguntar se é uma cobra coral”, fazia chacota o Paulo. Eu ria e adorava os meus tênis Salomon vermelhos, superconfortáveis e com boa aderência para fazer trilhas.
Listas no eBird
A observação de aves me fisgou, a paixão pelos pássaros aumentou, passei a frequentar anualmente o Avistar, virei Amiga da SAVE Brasil, lancei mais quatro livros infantis tendo aves como protagonistas.
E, além de publicar as fotos das aves que observo na plataforma WikiAves, acabei virando fã das listas de observações no eBird, o aplicativo do departamento de ornitologia da muitíssimo bem-conceituada universidade norte-americana Cornell. Fazer listas tornou-se um hábito delicioso, mas, mais do que isso, dá uma satisfação saber que, ao fazê-las ,estamos contribuindo com a Ciência.
Comecei a fazer listas no eBird dentro de um projeto coordenado no Brasil pela SAVE, de monitoramento de aves limícolas migratórias, que são aquelas que costumam viver em ambientes úmidos, como praias, mangues, beira de rios etc. e se alimentam de invertebrados que vivem nesses locais. Estão nessa categoria maçaricos, batuíras, quero-queros, entre outros.
Criei o costume e hoje acabo fazendo listas da minha cama, em São Paulo, escutando os passarinhos quando acordo; nas pedaladas na ciclovia da marginal do rio Pinheiros, também na capital paulista; nas andanças na propriedade rural da família no sul de Minas; e em praças de Lisboa, em Portugal, por exemplo.
Engana-se quem acha que só importam as listas feitas em locais como o Cristalino. Listas feitas nas praças e ruas de qualquer cidade, além de serem uma distração para quem as faz (nestes tempos de pandemia, fizeram com que muitos mantivessem o equilíbrio emocional), ajudam em muito a Ciência a monitorar a população de aves, entender desequilíbrios e buscar saídas para a conservação das espécies. Recomendo!
E sobre as arirambas do meu primeiro envio no WikiAves, continuo a registrá-las bastante – e a foto que publiquei na plataforma, da ave se alimentando de uma borboleta, já foi usada para uma pesquisa sobre hábitos de alimentação da espécie. Recentemente, ainda forneci a uma pesquisadora que está fazendo um estudo sobre o ameaçado macuquinho-baiano (Eleoscytalopus psychopompus) uma foto recente que consegui tirar dele na região de Itacaré (BA). Viram como leigos podem colaborar com a Ciência?
Anterior
Próximo
________________________________________________________________________
Cristina Rappa faz parte dos Amigos da SAVE Brasil, uma rede de pessoas conectadas e engajadas pela conservação das aves na natureza. Você também pode fazer parte contribuindo anualmente com uma doação. Para isso, basta acessar savebrasil.colabore.org.
Cristina também escreve para a coluna Educação Ambiental do Fauna News.
– Leia outros artigos da coluna OBSERVAÇÃO DE AVES
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)