Por Cristine Prates
Bióloga, consultora ambiental e guia de observação de aves. Proprietária da Birding Chapada Diamantina. Tem experiência em projetos de pesquisa e conservação de aves da Caatinga.
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A Chapada Diamantina recebe anualmente milhares de turistas em busca, principalmente, de trilhas de longo percurso e cachoeiras. São mais de 300 quedas d’água catalogadas na região, além de grutas, vales e montanhas que formam cenários de tirar o fôlego. A região também é conhecia pela prática de esportes de aventura como escalada, canoagem, rapel, mountain bike, flutuação, tirolesa, voo livre, entre outros.
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Nas diversas agências de turismo que atendem a região, os portfólios estão recheados de atrações de trekking, banho de cachoeira, visitas a grutas, flutuação em águas transparentes, esportes de aventura e turismo de base comunitária. Vocês devem estar achando estranho esse tema numa coluna de observação de aves, não é? É exatamente aí onde eu quero chegar…
A Chapada Diamantina abriga uma biodiversidade de fauna e flora riquíssima, que é muito pouco explorada pelo turismo. Raras são as agências que oferecem pacotes específicos para observação de fauna ou flora. O que mais se aproxima seria um passeio de barco no Marimbus, um grande alagado conhecido como o mini Pantanal da Chapada Diamantina, onde as aves, principalmente de ambiente aquático, voam muito próximo das pessoas que ali navegam.
As aves são os animais mais cativantes que existem e não é à toa que estão em primeiro lugar no ranking de observação de animais silvestres no mundo. A Chapada Diamantina possui quase 400 espécies de aves, endêmicas do Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga, além de um beija-flor engravatado com as cores do arco-íris e duas espécies que só existem aqui, o papa-formiga-do-sincorá (Formicivora grantsaui) e o tapaculo-da-Chapada-Diamantina (Scytalopus diamantinensis).
O turismo de observação de aves poderia estar nos portfólio das agências de turismo sendo apresentado para os visitantes que nunca ouviram falar dessa atividade. Engana-se quem pensa que para observação de fauna você precisa fazer um safári na África ou uma viagem ao Pantanal. O Brasil inteiro tem um potencial gigante para esse tipo de turismo, que ainda é pouco divulgado. Se esse serviço não for oferecido, muitas pessoas nem saberão que ele existe.
Tenho feito, pela Birding Chapada Diamantina, uma experiência de observação de aves para quem nunca a praticou, unindo a novidade com trilhas e banho de cachoeira. É uma tentativa de levar mais pessoas a conhecerem essa atividade, que comprovadamente reduz o estresse e faz bem à saúde. Além disso, acredito que a observação de aves é uma importante ferramenta de conscientização sobre os benefícios da natureza em pé, já que, sem ela, não teria como existir tantos passarinhos fantásticos no mundo.
“Nós estamos acostumados a viajar bastante por todo o Brasil pelas grandes agências de São Paulo e nunca nos foi oferecido um passeio de observação de aves. Como isso é possível?”, questionou a turista paulista Cristina Fontes. “Desde que fizemos a nossa primeira observação de pássaros, um dos nossos passatempos favoritos é sentar na varanda do sítio, com um café em uma das mãos, o binóculo noutra, a máquina fotográfica pendurada no pescoço, e esperar os passarinhos se aproximarem”, comenta Jonatan Muller.
Podemos aproveitar as milhares de pessoas que passam anualmente pela Chapada Diamantina e oferecer um turismo diferente, de conhecimento e muito divertido. Precisamos sair da bolha dos já observadores de aves e ousar apresentar a atividade para pessoas que praticam um turismo mais comum, como o de trilhas e de cachoeiras. Assim, ganharemos mais aliados para a conservação da natureza. Nós cuidamos do que amamos, então a ideia é fazer um número cada vez maior de apaixonados pelas aves.
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