Engenheiro agrônomo e mestre em Sistemas Costeiros e Oceânicos. É coordenador geral do Programa Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar) da Associação MarBrasil e professor na pós-graduação em Biologia Marinha pela Universidade Espírita (PR)
aquaticos@faunanews.com.br
Os cavalos-marinhos são peixes ósseos que pertencem à família Syngnathidae (nome grego devido ao focinho em forma de tubo), que também inclui peixes-cachimbo, cavalos-cachimbo e dragões-do-mar. Hoje, no mundo, são conhecidas 51 espécies de cavalos-marinhos, todas do gênero Hippocampus.
No Brasil, há registros da ocorrência das seguintes espécies: Hippocampus reidi, Hippocampus erectus e Hippocampus patagonicus, estando as três na Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), como “em declínio populacional”. Embora o Hippocampus reidi – cavalo-marinho-de-focinho-longo – seja o mais avistado em nossa costa, está classificado como “quase ameaçado”, enquanto as duas outras espécies estão “vulneráveis” à extinção.
Para conservar, é necessário conhecer as espécies, sua ecologia e seus comportamentos, além das principais áreas de ocorrência. Diversas iniciativas, em várias áreas do saber, têm sido desenvolvidas, tais como: dinâmica populacional; reprodução e cultivo, com fechamento do ciclo de vida em cativeiro; pesquisas sobre doenças e parasitas; estudos genéticos; estatísticas pesqueiras tendo cavalos-marinhos como fauna acompanhante, entre outros. Contudo, ainda há grandes lacunas no conhecimento desses animais. A distribuição geográfica e a taxonomia das populações, bem como o morfotipo brasileiro do Hippocampus erectus – que apresenta diferenças nítidas em relação ao do Atlântico Norte – são exemplos disso.
Embora sejam mestres do disfarce, camuflando-se muito bem, cavalos-marinhos costumam habitar locais de fácil acesso aos humanos (sejam moradores ou turistas), tais como ambientes estuarinos, recifes, baías, costões rochosos e manguezais, o que os torna suscetíveis à exploração ilegal e à poluição. Além disso, o comércio desses peixes – vivos, como organismos ornamentais, e secos, como base para medicinas tradicionais, principalmente asiáticas (sem comprovação científica) – os colocaram em situação de extrema vulnerabilidade e perigo.
Desde a Grécia Antiga, os cavalos-marinhos estão presentes no imaginário popular, sendo representados em pinturas, poemas, lendas, esculturas, etc. Com tanto carisma, são considerados excelentes espécies-bandeira, embaixadores para a conservação dos oceanos. Mas a importância desses peixes fantásticos não para por aí. Do ponto de vista ecológico, eles têm uma significativa função como… predadores! Sim, apesar de sua aparência frágil, esses animais são carnívoros, podendo comer de 50 a 300 pequenos crustáceos por hora, ajudando a controlar as populações de diversos invertebrados marinhos.
Ainda mais curioso é o fato de que são os cavalos-marinhos machos que engravidam! A partir de uma dança de acasalamento, que pode durar horas, as fêmeas colocam seus ovócitos (células reprodutivas) dentro da bolsa incubadora dos machos. No interior desse órgão, ocorre a fertilização e o pai fica “grávido”, guardando os futuros bebês até a hora do parto, que acontece com fortes contrações.
Você já se perguntou o que pode fazer pelos cavalos-marinhos e seus ambientes? Há várias maneiras de colaborar, algumas muito simples, como reduzir a geração de resíduos e ser um turista consciente. Outras são mais específicas, como não tocar nos cavalos-marinhos (nem em outros animais) durante o mergulho, porque isso os estressa e tira a proteção natural que eles têm na pele. Não comprar esses seres (nem vivos e nem mortos), divulgar essas informações e apoiar ações de conservação dos oceanos também são ótimas formas.
Há mais de sete anos, o Projeto Cavalos do Mar destaca-se pelas iniciativas de proteção aos cavalos-marinhos no Brasil. Dentre seus grandes esforços, está a campanha 20 Razões para Acreditar, um alerta para mostrar que, embora os cavalos-marinhos existam no planeta há mais de 20 milhões de anos, podem desaparecer em menos de 20 se os humanos não mudarem as atitudes em relação à natureza.
Vamos ajudar?
– Leia outros artigos da coluna AQUÁTICOS
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)