Cativeiro legalizado: sofrimento animal dentro da lei

Atualmente, a Lei n° 5.197/1967 e a 9.605/1998 separam os animais silvestres em duas categorias: os ilegais, que vieram do tráfico de animais silvestres, e os autorizados, oriundos de criadores comerciais.

O cativeiro de animais ilegais atua de forma negativa na biodiversidade. Afinal, os animais são capturados. Em se tratando de passeriformes, altera-se a razão sexual de uma região, pois se privilegia a captura de machos. Em qualquer outro grupo também se interfere nas interações ecológicas de competição, predação, polinização, dispersão de sementes, entre outras. Espécies muito traficadas podem se tornar raras ou ameaçadas de extinção.

Mas não apenas a biodiversidade e as espécies sofrem; os indivíduos também sofrem. No tráfico de fauna, eles são capturados, mantidos em depósitos imundos, além de transportados amontoados e sufocados para que os traficantes escapem da fiscalização ou do policiamento.

Assim, a alternativa para evitar o sofrimento dos animais silvestres é comprá-los de criadouros legalizados, correto? Errado.

Criadouros legalizados são alternativa?

As condições são, óbvio, diferentes das do tráfico, mas o sofrimento está lá. Quando comprou seu papagaio, sua arara, seu passarinho, sua jiboia ou outro animal silvestre, você visitou o criadouro? Sabe como os pais do animal que adquiriu são mantidos? Eles podem voar ou se locomover? Tomam sol? Vivem em locais com enriquecimento ambiental? Ou são apenas uma fábrica de ovos e filhotes, uma fábrica de dinheiro para o proprietário do criadouro? Menos espaço, mais animais se reproduzindo, mais filhotes vendidos e, portanto, mais dinheiro.

Os pais da sua arara podem voar? Os pais da sua jiboia podem se esticar? Eu respondo: na maior parte dos criadouros, eles não voam, nem se esticam. Isso é uma preocupação válida ou pouco importa para você o sofrimento dos pais de seu bichinho de estimação? Se os pais do seu bichinho sofrem, você tem participação nisso? Sim, afinal parte de seu dinheiro financia aquele criadouro.

Quando você comprou um animal de espécie silvestre para ser seu bicho de estimação, alguém lhe forneceu alguma normativa de tamanho mínimo de recintos e de condições de manutenção? Eu respondo: nenhuma normativa. Sabe por quê? Porque elas não existem. Sempre que se tentou estabelecer tamanhos mínimos para viveiros, gaiolas ou terrários para manutenção de animais em criadouros e no cativeiro doméstico, os representantes dos criadouros foram contra.

Você não pode ter uma jiboia de 1,5 metro em um terrário de um metro ou mesmo de 1,5 metro, concorda? Como também não pode criar uma arara em um viveiro cônico com um único poleiro e tendo-a como enfeite de sua sala ou varanda em seu apartamento.

Mas isso acontece.

Como mudar essa situação

Então, o que fazer para mudar isso? O primeiro passo, e definitivo, é entender que silvestre não é pet e não compactuar com esse mercado. Se ainda não conseguiu perceber isso, ao menos cobre do criadouro e não aceite comprar de locais onde os pais não possam voar ou se esticar, no caso das serpentes. Lembre-se que espaços menores significam menos custos e preços menores dos animais. Se adquiriu um animal, ou seja, se não entendeu que lugar de silvestre é na natureza, então dê uma vida digna a ele. Uma arara precisa voar e isso pode significar um viveiro de mais de uma dezena de metros. Aves tem que voar, serpentes precisam rastejar e isso é apenas o básico.

Portanto, não seja ingênuo, ou seja, o mercado e a competição entre os criadouros tende a espaços menores. Mas preços menores, em geral, significam menos espaço e menos cuidados para os animais. Isso é sofrimento.

Se você gosta se animais, quebre este ciclo. O lucro vence a empatia, mas sua empatia pode vencer o lucro. Silvestre não é pet.

O texto reflete posição pessoal e não, necessariamente, institucional.

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