Graduada em Ciências Biológicas e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda pela mesma instituição e está vinculada ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf).
Seus interesses estão voltados para os impactos antrópicos na fauna silvestre. Atua na área da Ecologia de Rodovias para compreender os impactos direitos e indiretos, bem como explorar alternativas de mitigação.
Primeiramente, feliz 2025! Embora seja um ano novo, muitos debates continuam os mesmos, incluindo o tema dos impactos das infraestruturas lineares, como rodovias e ferrovias, sobre a fauna silvestre. É impressionante como sempre há algo novo para refletir, melhorar e aplicar.
Recentemente, ganhei um livro chamado Crossings: How Road Ecology is Shaping the Future of our Planet, escrito por Ben Goldfarb, um jornalista ambiental que se aprofundou no tema da Ecologia de Estradas. Mal comecei a leitura, mas o livro já trouxe muitas reflexões. Algumas delas não são exatamente novas, mas são antigas reflexões que valem a pena revisitar.
Por exemplo, a Ecologia de Estradas é uma área ainda muito recente. Surgiu na década de 1990 e, embora 30 anos possam parecer suficientes para transformar a forma como as coisas são feitas, na prática, não é bem assim. Três décadas são um período curto para avaliar, testar, obter certezas e convencer engenheiros, tomadores de decisão, políticos e a população em geral de que precisamos mudar a maneira como estradas são planejadas e construídas. Não estou tratando apenas da parte prática, mas de reflexões fundamentais, como: “Será que essa estrada é realmente necessária?”, “Como evitar os impactos sobre a fauna?”, “Quais alternativas e soluções podem minimizar os danos?”… Essas questões, muitas vezes, não recebem a devida atenção.
Estradas são frequentemente vistas como essenciais para as populações humanas, a economia e o desenvolvimento regional. É até difícil imaginar a vida sem estrada, pois são o principal meio de deslocamento seja qual for o motivo. Nesse contexto, colisões com fauna acabam sendo encaradas como eventos trágicos, porém inevitáveis e até justificáveis, já que as estradas são consideradas indispensáveis. É verdade que, ao longo dos anos, adquirimos mais conhecimento sobre os impactos causados às espécies e buscamos soluções para evitá-los e minimizá-los. Muitas medidas têm sido implementadas e passaram a ser consideradas essenciais.
No livro, há outra frase que me marcou: na tradução, seria algo como “Se as estradas são uma doença, as passagens de fauna parecem ser o tratamento”. De certa forma, concordo. No entanto, penso que deveríamos nos concentrar em evitar a doença, ao invés de buscar tratamentos ou alternativas quando as soluções tradicionais não são suficientes.
O livro traz outro ponto provocativo, na tradução: “As estradas representam o mesmo enigma incômodo que as mudanças climáticas: tendo lucrado muito com o crescimento, as nações ricas podem negar aos países menos desenvolvidos os benefícios da conectividade?”. Essa reflexão ressalta a desigualdade no debate sobre infraestruturas lineares, lembrando que os países desenvolvidos já usufruíram de suas redes de estradas e ferrovias, enquanto as nações em desenvolvimento ainda enfrentam a necessidade de crescimento, muitas vezes à custa da biodiversidade.
Outra reflexão marcante é uma frase transcrita no livro que reflete a visão de populações tribais locais: “A estrada é um visitante que deve responder e ser respeitoso com a terra e o espírito do lugar”. Para mim, essa ideia faz muito sentido, pois a estrada não é algo natural que surgiu ali, mas sim algo imposto. Essa perspectiva nos leva a considerar que o planejamento e a construção de rodovias devem ser realizados com respeito e responsabilidade em relação ao ambiente e às comunidades locais.
Infelizmente, o livro ainda não tem uma versão traduzida para o português, estando disponível apenas em inglês. Mas, para quem se interessar, acredito que seja uma excelente leitura para este ano, especialmente porque é acessível e de fácil compreensão para todos os públicos.
Com a chegada de 2025, fica a esperança de que este ano seja mais positivo para o meio ambiente e para a Ecologia de Estradas. Mesmo que os avanços ocorram em passos de formiga, seguimos em frente, promovendo mudanças necessárias.
Graduada em Ciências Biológicas e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda pela mesma instituição e está vinculada ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf). Seus interesses estão voltados para os impactos antrópicos na fauna silvestre. Atua na área da Ecologia de Rodovias para compreender […]
