Alterações ambientais afetam comportamentos naturais de animais silvestres

Ultimamente, temos visto várias notícias sobre comportamentos incomuns de animais silvestres, que estão vivendo cada vez mais próximos dos humanos.

Exemplos não faltam, como o caso do urso em um barco e de maritacas penduradas na fachada de um prédio. A matéria do portal G1 sobre o caso vai, inclusive, até o detalhe das possíveis explicações para esse comportamento das aves: fome de terra? Parada para afiar o bico? Esquenta para o voo?

Os exemplos são inúmeros!

Mas o que pode explicar esses comportamentos? Por que alguns animais são mais curiosos e não se importam com os riscos, que podem ser mortais, de se aproximar dos seres humanos?

Afinal: animais silvestres têm personalidades? A resposta é: sim!

As características de personalidade de cada indivíduo são hereditárias e estão sujeitas à seleção natural. Ao mesmo tempo, também estão sujeitas às influências ambientais que determinam o desenvolvimento do animal. Em particular, as condições durante o desenvolvimento neonatal são decisivas para explicar tanto a variação como a consistência dos traços de personalidade.

Mecanismos epigenéticos também são responsáveis pela personalidade e compreendem o conjunto de processos químicos e físicos que programam os genes a se expressarem em um determinado tempo, ambiente e célula através de meios não mutagênicos. As modificações epigenéticas podem ser induzidas por repentinas mudanças no ambiente, porém com efeitos duradores que podem se propagar através das gerações. Efeitos epigenéticos, como a metilação do DNA, têm sido propostos como mecanismos-chave para o controle da variação de personalidade.

Agora imagina todos esses mecanismos complexos e delicados sendo afetados pelas brutais mudanças ambientais determinadas por nós, humanos? Sem contar a contaminação do meio ambiente por poluentes com ação química ativa, a degradação ambiental sem precedentes e alimentos processados industrialmente sendo consumidos por animais silvestres.

Além disso, temos o histórico de vida do animal sendo determinante para sua sobrevivência. Aprendizado e memória afetam a maioria dos comportamentos cruciais à sobrevivência de um ser vivo, incluindo forrageamento, reconhecimento de predadores e reprodução.

A aquisição de novas informações e sua manutenção no cérebro permitem que os organismos respondam às variações e à imprevisibilidade do ambiente. Crescem as evidências científicas de que esses traços, memória e aprendizado, são adaptativos e sujeitos a modulações positivas ou negativas. A variação individual para o aprendizado e a memória leva a possibilidade de que algumas formas ou níveis de habilidade podem determinar processos mal adaptativos, com consequências negativas para a sobrevivência do indivíduo e até mesmo determinando seu isolamento reprodutivo, o que afeta as populações da espécie como um todo.

Mas em que parte entra a questão da soltura neste artigo da coluna Segunda Chance?

A bióloga especialista em psitacídeos, Silvana Davino, relata o curioso caso da Malélova, uma tiriva que, após soltura, demorou dois anos para “achar” a caixa-ninho para conseguir criar uma ninhada.

“A Malévola atacava todo mundo… Vinham os alunos da escola fazer ações de educação ambiental e ela, firme, atacava! Daí o nome do bichinho! Todo mundo a conhecia, mas depois ela se acalmou e conseguiu achar a caixa-ninho. Mas todo o tempo ela procura um vão no telhado. De fato, ela prefere mil vezes o telhado. Tenho a experiência de que toda tiriva que nasce em telhado procura um telhado.”

Em síntese: animais nascidos em telhados procuram telhados!

À medida que modificamos irreversivelmente o meio ambiente, modificamos também a vida e o comportamento dos animais silvestres. Cada ação de soltura nos faz refletir qual é o espaço da fauna em nosso mundo, uma vez que modificamos tanto o seu ambiente que algumas espécies, como dos psitacídeos, altamente inteligentes, parecem preferir os prédios e os telhados das casas a árvores!

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