![Bicho preguiça no colo de uma mulher](https://faunanews.com.br/wp-content/uploads/2020/07/Preguica-daniela-de-almeida.jpg)
Médica veterinária, mestranda em Saúde, Medicina Laboratorial e Tecnologia Forense pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e agente da Polícia Federal com especialização em Polícia Ambiental
nalinhadefrente@faunanews.com.br
Existem diversos elementos motivadores que fazem com que alguém escolha sua carreira. O trabalho policial, apesar do risco, tem suas recompensas. Aqui, será abordado especificamente o trabalho da polícia que atua na área de crimes ambientais.
No Brasil, tem-se uma lei muito branda que considera os crimes ambientais como de menor potencial ofensivo. Isso constitui um grande estímulo para a prática criminosa e um enorme desestímulo para a atuação policial.
É desanimador o investimento de tempo, de logística e de pessoal em ações que, além de colocarem em risco a vida desse material humano, muitas vezes, não proporcionam resultados efetivos para a sociedade. Essa realidade não mudará enquanto não for aprovada uma legislação ambiental mais rígida, uma vez que a existente atualmente, em vez de desestimular a atuação ilegal, acaba servindo, de fato, como instrumento motivador para essa prática delituosa.
![Daniela de Almeida dando mamadeira para um pequeno animal](https://faunanews.com.br/wp-content/uploads/2020/06/daniela-de-almeida.jpg)
Apesar desses diversos fatores desanimadores, quem atua na área ambiental sabe da sua importância, consegue ver o quanto o seu trabalho muda a vida de outros seres vivos. É como se fosse uma missão de vida, um acordo entre o planeta e nós. Mesmo que, para a maioria dos políticos e até mesmo para grande parte da sociedade, o meio ambiente não tenha tanta relevância, nós, agentes atuantes nessa área, sabemos dar o devido valor à beleza, à grandeza e, sobretudo, temos consciência de quão imprescindível e vital são os diferentes seres que compõem a natureza.
Mesmo com a pouca efetividade da lei atual, há algo que ainda torna o trabalho policial, na área ambiental, compensador e reconfortante: a sensação de dever cumprido quando se dá a libertação, ainda que não na proporção desejada, de animais presos pelo tráfico. Sentimos prazer sempre que, após um dia longo e cansativo, podemos voltar para casa com a consciência de ter realizado um trabalho realmente produtivo do ponto de vista ambiental, uma vez que, com a libertação desses animais, conseguimos evitar o sofrimento e até a morte de muitos deles.
Uma legislação ambiental tão permissiva quanto a que temos atualmente evidencia o flagrante antropocentrismo de nossa sociedade, implicando a absurda ideia de superioridade da vida humana em comparação com a dos outros seres animais.
É bem provável, pelo que se vê hoje, que ainda demore muito tempo para que o ser humano tome consciência de que a nossa espécie é apenas uma entre várias outras que também constituem o nosso meio natural.
É premente que o ser humano se conscientize de que a extinção de várias espécies animais certamente representará a extinção da sua própria espécie, pois todos os animais, sejam os “racionais” sejam os irracionais, constituem um ecossistema global e articulado, no qual a existência de uns é fundamental para a dos outros. Em outras palavras, urge que o ser humano entenda, o mais rápido possível, enquanto ainda há tempo, que ele não sobreviverá se o meio natural continuar sendo atingido como se verifica nos dias atuais.
Uma característica do trabalho que fazemos é que, nele, devemos deixar o ego de lado. Na dissolução de uma organização criminosa ou na recuperação de um animal, ele não vem nos agradecer, uma vez que não tem consciência de quem o salvou. Mas isso não impede que nós nos sintamos recompensados, pois o que realmente importa é o alívio que se constata nos olhos do animal liberto de um sofrimento e, especialmente, quando se consegue a readaptação dele ao meio natural.
O trabalho, na área ambiental, cria a sensibilidade de perceber, de sentir, nos olhos de um animal, que o seu sofrimento em nada difere do nosso, que sua presença no mundo tem a mesma importância que a nossa. Conseguimos, muitas vezes, enxergar a realidade que a maioria prefere negar, desconsiderar e até mesmo negligenciar. É um ofício diferenciado em que a recompensa não vem em bens materiais e é muito maior que isso: é uma recompensa pessoal, é um alimento para alma.
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