Engenheiro agrônomo e mestre em Sistemas Costeiros e Oceânicos. É coordenador do programa MarBrasil Ciência e Mergulho da Associação MarBrasil e professor na pós-graduação em Biologia Marinha pela Universidade Espírita (PR)
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Mais de 20 peixes-leão já foram retirados do mar do arquipélago de Fernando de Noronha (PE) por mergulhadores até novembro. Como já mencionado em um artigo de minha autoria publicado em agosto aqui na coluna Aquáticos do Fauna News, se a espécie conseguir se estabelecer na região, os danos podem ser irreversíveis. Nas ilhas existem muitas espécies endêmicas (que só ocorrem em uma localidade) e a presença desse animal não nativo poder levar importantes espécies de peixes à extinção.
Os mergulhadores têm entregue os peixes-leão para a equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pelo Parque Nacional. Os animais seriam encaminhados para Recife, onde serão utilizados em uma pesquisa do Projeto Conservação Recifal.
O primeiro registro de peixe-leão em Fernando de Noronha ocorreu 28 metros de profundidade, em dezembro de 2020. De lá para cá, os encontros com esse animal não pararam mais de ocorrer.
O impacto ecológico da ocorrência desses animais invasores pode ser enorme, pois o peixe-leão consome espécies menores, que seriam alimentos para peixes maiores como o atum por exemplo, portanto o desequilíbrio ecológico tende a acontecer.
Amostras dos peixes também são enviadas para a Universidade Federal Fluminense e a Universidade da Califórnia, nos EUA, que também analisam o material.
O peixe-leão, conhecido mundialmente pelo nome Lion Fish, é uma espécie natural do Indo-Pacífico, que chegou ao Caribe no início dos anos 2000. Ele se espalhou rapidamente pela região causando muitos danos à fauna aquática, pois se alimenta de muitas espécies de peixes importantes para o equilíbrio da biodiversidade e cadeia trófica marinha.
Esses animais podem viver até 15 anos e chegam a pesar 500 g. Habitantes de recifes e costões rochosos e de hábitos noturnos, eles preferem se abrigar em cavernas ou fendas durante o dia. Conhecidos também como peixes-dragão, são venenosos, apresentando vários e longos espinhos nas regiões dorsal, pélvica e anal que possuem glândulas com veneno. Dificilmente algum predador se alimenta desses peixes, somente alguns tubarões, ocasionalmente. É justamente por praticamente não serem predados e serem grandes predadores que os torna uma verdadeira ameaça.
Pertencentes à família scorpianidae, a espécie mais conhecida é a Pterois volitans, com listras vermelhas ou laranjas ao longo do corpo.
Segundo a equipe do ICMBio de Fernando de Noronha, ainda em novembro serão concedidas autorizações para as operadoras de mergulho no arquipélago levarem em suas embarcações equipamentos específicos para a captura desses animais, tentando assim evitar a proliferação dos animais.
É importante que condutores de visitantes, mergulhadores, pesquisadores, pescadores, entre outros, que frequentem ilhas e costões rochosos e de corais do Brasil, registrem e informem ao ICMBio e aos pesquisadores associados ao tema caso encontrem essa espécie. Essa atitude permite assionar, com a maior brevidade, planos de emergência para identificação, captura, sequenciamento genético, entre outras ações capazes de avaliar ou reparar potenciais danos.
O monitoramento da invasão do peixe-leão é uma ação alinhada com o objetivo 7 do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Ambientes Coralíneos (PAN Corais). Algumas unidades de conservação marinhas já iniciaram campanhas de sensibilização e divulgação sobre a temática, como a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais (PE), a APA de Fernando de Noronha (PE) e Reserva Extrativista (Resex) Marinha de Arraial do Cabo (RJ).
A mobilização de pesquisadores, parceiros, condutores e empresas de turismo, visitantes, pescadores entre outros é fundamental para que se tenha maior vigilância e monitoramento para essa ameaça aos recifes brasileiros.
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