Ações para proteção dos animais em desastres: entenda essa questão

Incêndios, enchentes, deslizamentos… Os desastres ambientais estão se tornando mais frequentes e mais severos. Em momentos assim, as atenções se voltam para as pessoas afetadas, perdas materiais e, em alguns casos, para os danos aos ecossistemas. Mas há vítimas que continuam invisíveis, ou melhor, silenciadas mesmo dentro da pauta ambiental: os animais, especialmente os silvestres.

Esses animais sofrem de forma intensa, profunda e muitas vezes irreparável. Ferimentos, fome, desidratação, queimaduras, desorientação e perda de território são apenas algumas das consequências diretas de eventos extremos. Mas enquanto comunidades humanas são protegidas por protocolos básicos e políticas emergenciais, a fauna segue, muitas vezes, fora dos planos. Além disso, nem sempre há protocolos ou equipes prontas para responder a essa emergência. E é justamente aí que entra a importância das equipes especializadas no resgate de fauna.

Por que é essencial ter equipes preparadas?

O resgate de animais, em especial os silvestres, em situações de desastre exige muito mais do que boa vontade. São necessárias habilidades técnicas, conhecimento sobre o comportamento e a biologia das espécies, preparo físico e psicológico para lidar com ambientes de alto risco e protocolos bem estabelecidos para garantir o bem-estar dos animais e das pessoas envolvidas.

Essas equipes atuam onde o improviso não pode acontecer. Um erro pode colocar em risco a vida do animal ou da equipe. Além disso, cada desastre traz suas particularidades: um incêndio em uma área de Cerrado, por exemplo, afeta espécies diferentes de uma enchente na região de Mata Atlântica. Adaptar a estratégia, reconhecer pistas no ambiente e saber o momento certo de agir são parte do trabalho.

A força da atuação multidisciplinar

As equipes de resposta à fauna em situações de desastre são multidisciplinares por definição. Reúnem veterinários, biólogos, zootecnistas, bombeiros, especialistas em logística, socorristas, voluntários treinados, especialistas no uso de drones e em análise de risco e até psicólogos. Cada profissional cumpre uma função essencial, desde a busca e captura segura dos animais até o atendimento clínico, transporte adequado, planejamento de reabilitação e soltura ou destinação para local seguro e com pessoal habilitado para os cuidados necessários.

Não se trata apenas de “resgatar”, mas fornecer respostas éticas, técnicas e estratégicas com base em cada caso. Isso demanda formação técnica, experiência e um profundo respeito aos animais.

ONGs e grupos especializados: uma atuação essencial

Em todo o Brasil, diferentes ONGs, redes de voluntários e grupos técnicos vêm se organizando para atuar em desastres com foco na fauna. Essas iniciativas vêm preencher uma lacuna que ainda não é totalmente coberta pelas políticas públicas e, muitas vezes, são essas entidades que conseguem chegar primeiro, organizar as ações e garantir atendimento emergencial aos animais afetados.

Além dos resgates, essas equipes também produzem guias, oferecem capacitações, desenvolvem protocolos e pressionam por mudanças estruturais para que a fauna esteja incluída nos planos oficiais de resposta a desastres.

Uma das referências nessa área é o GRAD Brasil (Grupo de Resposta a Animais em Desastres). Com uma atuação consolidada e reconhecida, o GRAD organiza operações em campo com profissionais experientes e voluntários capacitados, sempre com foco no bem-estar animal, na conservação e na segurança das equipes.

E o papel das políticas públicas?

Apesar dos avanços em algumas regiões, o Brasil ainda carece de políticas públicas robustas e integradas que considerem a fauna silvestre em emergências ambientais. Na maioria dos casos, os planos de contingência não contemplam medidas específicas para o resgate e o cuidado dos animais — e quando contemplam, faltam estrutura, orçamento e articulação interinstitucional.

É fundamental que o poder público reconheça a urgência dessa pauta e estabeleça diretrizes claras, com base em evidências e em diálogo com quem atua na linha de frente. Isso inclui:

• A criação de protocolos nacionais e estaduais para o resgate e reabilitação da fauna em desastres.
• A inclusão da fauna silvestre nos planos de Defesa Civil e nos sistemas de emergência ambiental.
• Investimentos em capacitação técnica, estrutura logística e centros de atendimento.
• Parcerias com universidades, ONGs e especialistas.
• Previsão de recursos orçamentários nas três esferas de governo para prover emergencialmente os insumos e os recursos materiais para as ações necessárias na situação do desastre.

Sem esse respaldo institucional, o trabalho de quem atua no campo se torna mais difícil e milhares de animais seguirão sofrendo em silêncio.

Sobre a importância de políticas públicas para a proteção de animais em desastres, a médica veterinária Vania Plaza Nunes, diretora técnica do Fórum Animal e vice-presidente do GRAD, reforça a mensagem de que, a cada dia, os desafios aumentam diante da complexidade de interesses da vida em sociedade e do fato de não promovemos a qualidade de vida necessárias a todos os seres.

Quando postergamos tomadas de decisão para mudarmos o cenário de descaso frente a fauna silvestre, estamos contribuindo fortemente para o agravamento cada vez mais acelerado da qualidade de vida de todos os seres humanos. Isso se evidencia fortemente nas milhares de vidas dos animais silvestres que se perdem em qualquer tipo de desastre que atinja o ambiente natural.

Como você pode apoiar esse trabalho

Para que equipes como essas possam continuar agindo e se fortalecendo, o apoio da sociedade é essencial. Veja algumas formas de ajudar:

• Divulgue o trabalho de grupos e ONGs que atuam no resgate de fauna em desastres.
• Contribua financeiramente para a manutenção das operações e compra de insumos.
• Compartilhe informações seguras sobre como agir ao encontrar um animal silvestre em risco, como no guia prático disponível em: silvestrelivre.org.br.
• Apoie políticas públicas que incluam a fauna nos planos de resposta a desastres ambientais.
• Se voluntarie ou participe de campanhas de mobilização.
• Seja membro e acompanhe as reuniões dos conselhos de meio ambiente da sua cidade e avalie se esse tema tão sensível e necessário está entre as prioridades em sua cidade.

A vida silvestre precisa ser considerada com seriedade quando falamos em desastres, catástrofes e mudanças climáticas. E isso só será possível se houver equipes treinadas, estratégias bem construídas e o envolvimento da sociedade. Apoiar esse trabalho é uma forma concreta de proteger os animais, os ecossistemas e o futuro do planeta.

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