
Por Gabriela Schuck
Graduada em Ciências Biológicas e mestra em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É doutoranda em Ecologia e atua no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma instituição
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Telemetria significa medir algo remotamente. No universo da ecologia do movimento, usamos esse termo para referenciar a observação à distância do movimento de animais, através de transmissores que geram informações espaciais de onde eles estão. Essas informações normalmente são utilizadas para entender as relações dos animais com o ambiente, como seleção de habitat, e individuais, como aspectos comportamentais.
Com o avanço de tecnologias, informações minuciosas do comportamento e movimento de animais podem ser acessadas por pesquisadores e utilizadas para planejar estratégias de conservação das espécies, inclusive no âmbito das rodovias. São diversas as abordagens possíveis que o uso das informações de movimento pode beneficiar os estudos com a Ecologia de Rodovias. Por exemplo, informações de onde implementar estruturas de mitigações e no auxílio do monitoramento da efetividade dessas estruturas.
É o caso de um estudo realizado na Guatemala e no México, que usou informações de movimento de onças-pintadas para simular potenciais travessias em uma rodovia e indicar possíveis locais para passagens de fauna. Outro estudo utilizou informações de telemetria em répteis para verificar o uso de passagens de fauna que já foram implementadas. Já uma pesquisa com o texugo-americano trabalhou com as informações de telemetria para explorar as relações da espécie com a rodovia, como a influência nos padrões de movimento e a seleção de habitat.
Porém, mesmo com a disponibilidade dessa tecnologia, segue sendo um desafio compreender as informações de movimento e das relações dos animais com as rodovias, principalmente para auxiliar na redução dos danos que essas infraestruturas causam para a fauna. Há custos elevados de equipamentos que, geralmente, são malvistos e negados antes da compreensão dos benefícios dos possíveis resultados. Também há dificuldades técnicas, logísticas e jurídicas de unir o conhecimento da Ciência com as ações efetivas de mitigações. Entretanto, nem sempre é necessário investir do zero em equipamentos de telemetria e capturar animais para compreender o movimento de diferentes espécies em relação a estradas, pois há bancos de dados (como a plataforma Movebank) disponíveis para uso livre, com informações detalhadas de movimento de diversas espécies do mundo que podem gerar conhecimento das relações com rodovias e até mesmo orientar mitigações e ajudar em predições de atropelamentos.
O futuro está aí com cada vez mais tecnologias que podem auxiliar na mudança do cenário desastroso que as rodovias causam para a fauna. Porém, são necessários mais investimento e valorização no tema e nas pesquisas, além de incentivar a conexão de diferentes setores (gestores, empreendedores e pesquisadores.), áreas (biologia, engenharia, computação, etc.) e compartilhamento de dados. O conhecimento e as ferramentas seguem sendo geradas, mas precisam ser valorizadas e aplicadas na prática.
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