Bióloga, mestra em Zoologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro e professora nas redes estadual e particular do Rio de Janeiro.
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Nomes populares: jararacuçu, jararacuçu-verdadeiro, surucucu, surucucu-dourada, surucucu-tapete, urutu-dourado, urutu-estrela, patrona
Nome científico: Bothrops jararacussu
Estado de conservação: “pouco preocupante” (LC) na Lista Vermelha da IUCN e no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção – ICMBio
Em agosto de 2021, fomos surpreendidos pela notícia de que a peçonha (ao contrário de veneno, a peçonha é uma substância produzida em local específico e injetada por um “aparelho especial”) da jararacuçu possuía um componente capaz de inibir a capacidade de multiplicação do coronavírus da Covid-19 em células de macacos infectados. Resultado muito promissor em uma pesquisa relacionada ao combate à doença, uma vez que retardando-se a reprodução do vírus, haveria um tempo adicional que permitiria ao sistema imunológico uma reação mais eficiente.
A pesquisa ainda está em andamento e não há previsão para resultados definitivos. Mas enquanto isso não ocorre, que tal conhecermos um pouco a respeito da “dona” desta matéria prima tão valiosa?
Conhecida como a espécie brasileira com a capacidade de produzir e inocular a maior quantidade de peçonha entre nossas serpentes, a jararacuçu é também nossa segunda maior serpente peçonhenta, perdendo em tamanho apenas para a surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta).
Dentre os sintomas associados aos acidentes por jararacuçu, observam-se edema e dor no local da picada, hemorragias, infecção, necrose e insuficiência renal. Se o soro não for aplicado a tempo, pode haver amputação do membro atingido.
A jararacuçu pode alcançar de 1,80 a 2 metros, com suas presas (dentes anteriores modificados) chegando a atingir 2 centímetros de comprimento. As fêmeas costumam ser maiores que os machos e diferentes na coloração, sendo eles acinzentados e elas, amareladas. As jararacuçus são vivíparas, dando à luz por volta de 16 a 20 filhotes a cada ninhada.
É encontrada na América do Sul (Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina). No Brasil, ocorre no Nordeste (BA), Centro-Oeste, Sudeste e Sul, vivendo em florestas com dossel mais denso e solo com bastante folhas caídas, em campos, em beira de matas e margens de riachos e lagoas.
Costumam ficar enrodilhadas no solo (são terrícolas), onde se aquecem, sendo mais ativas à noite, o que não impede sua atividade também durante o dia. Apresentam uma coloração dorsal variável entre cinza, rosa, amarelo, marrom ou preto, com manchas triangulares marrom-escuras que permitem uma camuflagem quase perfeita, dificultando sua localização no meio da floresta por andarilhos e outros animais desavisados.
Sua alimentação consiste basicamente em anfíbios, roedores, gambás, aves e muitos outros animais que encontra na floresta.
Apesar de não estarem ameaçadas de extinção, a fragmentação da Mata Atlântica, o avanço da urbanização e a caça a esses animais, pelo simples fato de causarem medo ou aversão em algumas pessoas, fatalmente as colocará em risco. É sempre bom lembrar que esses animais, como quaisquer outros seres vivos, têm grande importância no equilíbrio dos ecossistemas e devem ser respeitados pelo simples fato de existirem.
A propósito: em relação ao componente mencionado no estudo, além de não ser a peçonha em si, pode ser produzido em laboratório, não sendo necessária a captura ou criação da jararacuçu em cativeiro.
https://www.youtube.com/watch?v=1N4ebUFBYiA&t=31s
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