Engenheiro agrônomo e mestre em Sistemas Costeiros e Oceânicos. É coordenador geral do Programa Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar) da Associação MarBrasil e professor na pós-graduação em Biologia Marinha pela Universidade Espírita (PR)
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A família Pomacentridae (peixes-donzela) inclui cerca de 321 espécies pertencentes a 27 gêneros. O gênero Stegastes contém aproximadamente 33 espécies, sendo que seis são endêmicas do Brasil, ou seja, só existem por aqui. O peixe-donzela comum (Stegastes fuscus) é amplamente distribuído na costa brasileira possuindo hábito diurno e sendo abundante na maioria dos ambientes recifais costeiros. É geralmente encontrado em lugares rasos, de até oito metros de profundidade, em recifes biogênicos ou rochosos, apresentando coloração variada em suas fases de vida.
Os peixes herbívoros, como os “donzelinhas”, possuem um papel importantíssimo no consumo da produção primária nos recifes, contribuindo assim para a transferência de energia e nutrientes nesses ecossistemas. Na última década, muitos trabalhos de pesquisa foram realizados sobre as relações entre os peixes-donzela e seu habitat, o que gerou grande conhecimento sobre seus efeitos positivos sobre as comunidades bentônicas (de fundo) marinhas.
Aos peixes-donzela são atribuídos o papel de “espécies-chave” nas comunidades recifais, pois existem diferenças significativas na composição dos organismos bentônicos existentes nas áreas defendidas e nas não defendidas por esses peixes. Ou seja, há maior diversidade de invertebrados e algas em seus territórios, assim como maior produtividade primária.
De tamanho pequeno, os Stegastes forrageiam dentro de áreas restritas e possuem uma agressividade com outros herbívoros, apresentando notadamente sua característica territorialista. Esses peixes apresentam cuidado parental durante a reprodução. A desova é demersal, ou seja, seus ovos são aderidos ao substrato, formando ninhos, sendo protegidos pelos pais até a eclosão.
O comportamento territorial é tido principalmente como uma adaptação à limitação de recursos. Os peixes-donzela defendem os seus produtivos e ricos “jardins de algas” de outros peixes herbívoros.
Estudos sobre a territorialidade e os comportamentos associados podem aumentar o entendimento sobre como funcionam as interações ecológicas e como elas afetam a composição das espécies numa comunidade. Stegastes fuscus, por possuir uma ampla distribuição, com populações tanto em ambientes tropicais e subtropicais, é uma boa espécie para verificar a ação de tais fatores sobre seu comportamento e, dessa forma ampliar o entendimento do papel dos peixes-donzela territorialistas na estruturação das comunidades recifais. Além disso, compreendendo melhor de que forma o comportamento desta espécie é influenciado pela temperatura, as pesquisas poderão servir de subsídios para futuros trabalhos sobre como ela responderá, por exemplo, a possíveis aumentos de temperatura nos oceanos.
Vale ressaltar que a poluição marinha, como lixo e contaminantes, a acidificiação dos oceanos causada pela poluição urbana e o aumento da temperatura do mar afetam diretamente não só essa espécie de grande importância para o equilíbrio desses ecossistemas, mas centenas de outras com papéis fundamentais no equilíbrio da fauna marinha.
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