Bióloga, mestra em Biologia Animal e doutoranda em Biologia pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia: Diversidade e Manejo de Vida Silvestre na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)
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Não é de se negar que a curiosidade humana se move diante do progresso e do desenvolvimento sociocultural. Antigamente, em meados do século 19, naturalistas renomados e de status social pertencente à nobreza e comerciantes, ao longo de suas viagens, foram também instigados por um certo tipo de curiosidade: o de colecionar. Não é mentira dizer também que o mercado da época também buscava aguçar a curiosidade de seus compradores. O “possuir” era considerado de grande valor pela sociedade. Ao longo dos anos, com a incessante descoberta da biodiversidade, essas coleções passaram a ser entendidas como repositórios históricos.
Alguns fatos marcam a história de grandes coleções científicas, como as zoológicas. Com o conhecimento de A Origem das Espécies e de muitos outros conceitos relacionados à descrição da biodiversidade, essas coleções tornaram-se alvos de estudos sobre a riqueza das espécies zoológicas e um maior número de naturalistas e médicos passaram a atuarem para essas instituições.
A importância das coleções científicas, para além de estudos taxonômicos e evolutivos, tem a missão de identificar lacunas do conhecimento sobre a vida, assim como áreas prioritárias para conservação de espécies e para a cultura. São espaços fundamentais para a formação em educação ambiental. Em outras palavras, subsidiam atividades de ensino e prestação de serviços sociais importantes, além de apresentar valioso registro histórico sobre os domínios da vida.
Coleções brasileiras
O Brasil ganhou sua primeira coleção científica em 1784. O vice-rei da época, Luís de Vasconcelos e Sousa, criou o primeiro gabinete de História Natural do Brasil e das Américas – a Casa dos Pássaros –, precursor do Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Já na grande metrópole de São Paulo, o Museu de Zoologia, da Universidade de São Paulo foi criado na década de 1890 pelo conselheiro Francisco Mayrink. Ele doou ao governo do Estado de São Paulo uma coleção de história natural, que havia sido reunida por Joaquim Sertório a partir de 1870. Atualmente, o museu é composto por distintas coleções zoológicas e possui um dos maiores acervos da América Latina.
Mais tarde, em 1911, o Museu Paraense Emílio Goeldi foi fundado pelo naturalista Domingos Soares Ferreira Penna, em Belém (PA). É considerado o segundo maior museu de história natural brasileiro. Possui inúmeros acervos relacionados à Amazônia, além de promover pesquisas e estudos científicos dos sistemas naturais e culturais da região, recebendo pesquisadores de diferentes regiões.
Para o Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, o Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) foi inaugurado em 1998 e é um dos maiores museus interativos de ciências naturais da América Latina. O naturalista e aracnólogo Arno Antonio Lise, quando se tornou professor do curso de Ciências Naturais, também iniciou sua amostragem em diferentes ambientes das regiões do Brasil, iniciando assim, na década de 90, a coleta líquida com aracnídeos preservados em álcool 80% da denominada Coleção Arachnida e Myriapoda do Museu de Ciências e Tecnologia (MCTP) da PUC-RS. Ela é considerada a quinta maior em termos de acervos aracnológicos.
Importância das coleções
A importância das coleções científicas vai além do valor comercial e visa integrar a comunidade e o conhecimento local e, muitas vezes, global sobre a biodiversidade. Além disso, são frequentemente relacionadas a curadores taxonômicos, sendo que a taxonomia é uma ciência de base para qualquer outro assunto ligado a conhecimento e conservação da biodiversidade. As coleções científicas zoológicas subsidiam atividades de ensino e serviços importantes à disposição da sociedade, além de apresentarem valioso material de importância histórica. Deve ser constantemente avaliadas, além do receberem reconhecimento e valorização social, econômica e cultural.
Referências
– Absolon, B. A., de Figueiredo, F. J., & Gallo, V. (2018). O primeiro gabinete de história natural do Brasil (“Casa dos Pássaros”) e a contribuição de Francisco Xavier Cardoso Caldeira. Filosofia e História da Biologia, 13(1), 1-22.
– Beal-Neves, M., Mielke, A., Gamarra, S. D. P., Beier, C., & Fontana, C. S. (2022). A students’ oppinion on the importance of natural history collections and taxonomy in Brazil. Zoologia (Curitiba), 39.
– Dantas, R. (2018). Casa dos pássaros: local de preparação de material zoológico a ser enviado para Portugal. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, 18, 3-22.
– de Vivo, M., Silveira, L. F., & Nascimento, F. (2014). Reflexões sobre coleções zoológicas, sua curadoria e a inserção dos Museus na estrutura universitária brasileira. Arquivos De Zoologia, 45(esp), 105-113. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7793.v45iespp105-113
– Netto, L. (1870). Investigações históricas e scientificas sobre o Museu Imperial e Nacional do Rio de Janeiro: acompanhadas de uma breve noticia de suas collecções e publicadas por ordem do Ministerio da Agricultura. Instituto Philomatico.
– Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
– Museu Paraense Emílio Goeldi
– Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo
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