
Por Barbara Zucatti
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestranda no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma instituição (NERF-UFRGS)
transportes@faunanews.com.br
Semana passada, lemos aqui no Fauna News a notícia sobre a identificação de uma nova espécie de ouriço neotropical (Coendou longicaudatus) e a descoberta do risco de extinção de uma das espécies mais conhecidas, Coendou prehensilis, em função da sua distribuição restrita ao norte da Mata Atlântica. Aliar pesquisas que visam a correta identificação das espécies àquelas que procuram compreender como elas se relacionam com o ambiente é fundamental e necessário para os estudos em Ecologia de Rodovias.
Recentemente, conclui meu mestrado avaliando a influência da paisagem nos atropelamentos de ouriços na rodovia RSC-287, região central do Rio Grande do Sul. Uma das dificuldades encontradas no estudo foi identificar corretamente qual das espécies de ouriços estávamos encontrando nos monitoramentos (registramos dois morfotipos – indivíduos com variações morfológicas e/ou de cores pertencentes a uma mesma espécie – de carcaças), visto que a taxonomia para o sul do Brasil não é esclarecida. Existem estratégias de identificação de carcaças através de análise do DNA, porém não foi possível realizar durante o mestrado por conta da falta de recurso financeiro. Por essa razão, decidimos trabalhar com o gênero Coendou sem especificar a espécie. O objetivo do trabalho foi avaliar em diferentes escalas quais classes de paisagem poderiam estar influenciando nos atropelamentos dos ouriços encontrados no monitoramento de fauna atropelada.
Os resultados apontaram a importância das formações florestais para os ouriços, independentemente da escala analisada, o que já era esperado por se tratar de animais com hábitos arborícolas. Essa evidência pode servir de base para estudos de predição dos locais de maior risco de fatalidades e, eventualmente, poderia auxiliar no planejamento de mitigação dos atropelamentos de ouriços em rodovias.

Os próximos passos decorrentes do meu mestrado serão usar os modelos explanatórios que desenvolvi para os ouriços para prever locais de atropelamento da espécie em outras rodovias que tenham dados das fatalidades, a fim de validar nossos modelos quanto ao poder de predição deles. Uma vez validado, os modelos podem ajudar a predizer os locais de maior risco de colisão para rodovias que não têm esses dados de atropelamentos, como as em construção. essa forma, estudar os ouriços pode servir de modelo para os arborícolas, visto que possuem características em comum com o grupo e foram facilmente encontrados atropelados nas rodovias estudadas, diferentemente de outras espécies arborícolas. Assim, é possível propor medidas de mitigação específicas para o grupo de acordo com as características mais importantes na influência dos atropelamentos, segundo os modelos explanatórios.
Nesse caso, pesquisas que envolvem o estudo da taxonomia de uma espécie são fundamentais para sustentar nosso trabalho, proporcionando correta identificação dos registros e predições dos riscos de atropelamentos mais precisos. Estudos de classificação das espécies no âmbito da Ecologia de Rodovias podem esclarecer dúvidas como essa que encontrei no meu mestrado. Além disso, podem subsidiar a identificação das carcaças de espécies raras e, consequentemente, a ocorrência delas no local de pesquisa e auxiliar na definição das distribuições das espécies na região de interesse.
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