Prêmios como estratégias para educação ambiental

A Comissão de Educação e Comunicação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) trabalha por uma comunicação criativa e por ferramentas e abordagens educacionais que aumentem a consciência e inspirem ações que protejam a natureza. E ainda, aponta a tarefa de mobilizar as pessoas de todo o planeta a trabalharem por um mundo comprometido em defender a natureza agora e no futuro.

Vários exemplos de projetos e documentos mostram a importância de se integrar educação com comunicação, como meio de responder às pressões destrutivas e, assim, reverter os quadros de degradação em diferentes níveis que causam perdas, muitas irreversíveis. Restaurar a natureza é possível, mas os sistemas naturais são complexos e nada fáceis de serem recuperados. É quase impossível alcançar a riqueza que havia originalmente, a não ser que as áreas sejam próximas de remanescentes naturais, o que se torna bem mais eficaz. O melhor teria sido não degradar. Mas, claro, essa não é uma tarefa simples.

Daí a importância de se atrair interesse à riqueza da natureza por meio de eventos que propiciem conhecimentos e valores, e que incentivem o engajamento pessoal e coletivo em questões socioambientais. Públicos e temas variados podem ajudar a tornar os trabalhos realizados e os profissionais que os conduzem mais conhecidos, de forma que despertem em outras pessoas de diversos campos profissionais a curiosidade e a vontade de saber mais.

Programas em escolas e em outros estabelecimentos educacionais sempre terão inquestionável importância, pois alunos e professores são públicos abertos a ideias novas e ao aprendizado. Mas existem outras oportunidades de se chamar atenção para o maravilhamento do mundo natural. Uma ideia é dar visibilidade a “heróis” e “heroínas” que se destacam por salvar espécies ou ecossistemas. Em uma época com poucas lideranças capazes de inspirar, defender causas nobres pode ser uma estratégia digna de atenção. E proteger a natureza, mesmo que mal compreendido por muitos que consideram “excêntrico” ou até mesmo “maluquice”, há um senso de admiração digno de ser explorado.

Muitos conservacionistas poderiam ser analisados com base na “Jornada do Herói”, proposta por Joseph Campbell em 1949. Nela existem doze etapas, das quais muitos conservacionistas conhecem bem, indo da inquietação em seguir um rumo que exige que saiam da zona de conforto, encarar os desafios que encontram nas trajetórias, aprender no caminho para se tronar mais eficiente, até chegarem ao reconhecimento pelas mazelas a alegrias pelas quais passaram.

Características de um herói (uma heroína) merecedor(a) de reconhecimento público

Em geral, essas pessoas passaram ou passam por dificuldades de serem compreendidas, até entre familiares que as veem com futuros incertos (para dizer o mínimo). Sem apoio, aprendem a caminhar sozinhos e a enfrentar imensos desafios como pouca ajuda externa, escassos recursos financeiros, dificuldade de comunicar o porquê escolheram o tema ao qual se dedicam. Outra característica é a de se dedicar a estudos que os ajudem a compreender melhor e, assim, aclarar o que pode os levar à maior efetividade no cumprimento de seus anseios de salvar a espécie de seu interesse e seus hábitats, seja qual for o foco de sua dedicação. São movidos por paixão e seu propósito, muitas vezes, se torna quase “obsessivo”. Muitos se sentem mais felizes no mundo selvagem da natureza do que em meios sociais, que exigem explicações aos interrogatórios que comumente surgem sobre o trabalho que realizam.

Incansáveis e apaixonadas por seus projetos conservacionistas, caminham constantemente em incertezas materiais. Seguem suas certezas internas de compromisso com uma causa que escolheram, ainda que bastante incompreendida.

Essas pessoas merecem ser reconhecidas e aplaudidas. É isso que ocorre quando ganham prêmios que lhes trazem visibilidade.

E por que não analisar essas ocasiões como um possível campo para se promover educação ambiental?

Um herói ou heroína quando ganha prêmio recebe atenção, publicidade, e talvez o mais importante, um palco com microfone ou mesmo um vídeo inspirador. As mensagens que passam são capazes de sensibilizar quem as ouve, mesmo que muitos sejam leigos nos assuntos tratados.

Um belo exemplo é o recente prêmio recebido na Inglaterra pela Yara Barros, conservacionista dedicada a salvar as onças de Foz do Iguaçu, no Paraná. Por décadas, Yara se empenha em promover meios de conhecer as onças, seu declínio populacional e o que precisava ser feito para reverter o quadro desolador em um esperançoso.

No dia 30 de abril, Yara Barros foi agraciada com o honroso prêmio Whitley, considerado “Oscar da Conservação”. Holofotes, aplausos e uma plateia de grandes líderes, até da realeza britânica, já que a princesa Anne é a patrona do Whitley Award, como é conhecido.

O criador do prêmio chama-se Edward Whitley, um apaixonado pela vida selvagem e admirador de “gente que faz” para a proteger. Começou com um pequeno prêmio, após ter conseguido transformar uma fundação familiar, que cuidava de animais urbanos como cães e gatos, na hoje renomada Whitley Fund for Nature, que já premiou mais de 220 conservacionistas de aproximadamente 80 países do Sul Global, onde a biodiversidade é mais rica. Empresário bem-sucedido, muitos de seus contatos e amigos tornaram-se doadores, aumentando os valores e o número de prêmios que hoje já ultrapassaram 24 milhões de libras em seus 32 anos de existência (aproximadamente R$ 180 milhões).

O próprio Edward é exemplo de como disseminar a mensagem de valorização de heróis e heroínas. Começou sua trajetória escrevendo o livro Gerald Durrell’s Army, que em cada capítulo focava na história de algum conservacionista que havia passado pelo zoológico da Ilha de Jersey, fundado pelo escritor Gerald Durrell, cuja missão era proteger animais em extinção. Depois de conhecer seus personagens em seus locais de atuação pelo mundo afora, ampliou seu leque de contribuição ao criar os Whitley Awards.

Como foi a mensagem de Yara Barros?

O que me fez pensar em escrever esse artigo foi a forma apaixonada com que Yara descreve como se encantou com os olhos “dourados” das onças, que nunca mais a deixaram e tornaram-se seus guias. Frases assim vêm do coração! E o que fez para salvá-las precisou de elaboração e crescimento de sua mente aguçada e ávida por informações que a ajudassem a atingir sua missão.

Pois não são esses os principais componentes de uma educação ambiental bem formulada? O intuitivo (coração) e o racional (mente) juntos, capazes de formular ações consistentes com base em Ciência, envolvimento com os atores que podem influenciar e compromisso de fazer o melhor para atingir seus objetivos, nesse caso, salvar as onças de extinção ou do declínio populacional em que se encontravam. Todos esses aspectos estão presentes no trabalho da Yara Barros. Assistam ao vídeo abaixo, que mostra seu alto nível de envolvimento, comove e transmite um percurso impecável em sua trajetória conservacionista.

Vídeo sobre Yara Barros exibido na cerimônia de entrega do prêmio Whitley 2025 – Vídeo: Whitley Award

Outros brasileiros já ganharam o Prêmio Whitley

São diversos os brasileiros honrados com o Prêmio Whitley e sempre com imensa emoção. Cada ganhador tem a chance de aparecer na mídia passando seu recado. É um momento de glória e reconhecimento por todo o caminho e dedicação que investiu pela causa que defende.

Ao pegar o microfone, compartilha suas paixões e feitos heroicos, dignos de tamanho reconhecimento. E nesses momentos as mensagens são banhadas de emoção e experiências vivenciadas com muita sabedoria. O vídeo abaixo mostra a seriedade da solenidade e do empenho de transformar cada ganhador(a) em herói ou heroína, merecedor(a) dessa honrosa aclamação.

Os ganhadores têm a chance de utilizar comunicação criativa e meios educativos para sensibilizar o público, como recomenda a Comissão de Educação e Comunicação da IUCN. Os temas com os quais se envolvem variam, como as onças (Yara Barros); os micos-leões-pretos (Claudio Padua e, anos depois, Gabriela Rezende); os corredores de vida (Laury Cullen Jr.), as antas (Patrícia Medici), os tamanduás- bandeira (Arnaud Desbiez), os 30 anos de parceria (IPÊ e Whitley – Claudio e Suzana Padua), as passagens de fauna para evitar atropelamentos em rodovias (Fernanda Abra); as florestas de araucária (Pablo Hofman), os golfinhos (Pedro Fruet), o Arco do Desmatamento (Carlos Peres) e a dinâmica integrativa do manejo das florestas (Patrícia Pinho). Parabéns a cada herói e heroína! Que muitos mais venham!

Gratidão a cada indivíduo que se envolve em proteger a natureza com tamanha garra e qualidade. Gratidão também ao Edward Whitley e sua família (que muito se doa ao Prêmio Whitley) e ao time do Whitley Fund for Nature pelo envolvimento em nossas causas/paixões.

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