Fotografando o lobo-guará

Olá, tudo bem por aí? Neste artigo, vamos discutir um pouco sobre mais um figurão da fauna brasileira, o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus).

O lobo-guará (também conhecido como lobo-de-crina, lobo-vermelho e aguará) é o maior canídeo da América do Sul, endêmico desse continente e está distribuído pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia. Esse mamífero pode pesar até 30 quilos e medir cerca de 90 centímetros na altura da cernelha (o ponto mais alto das costas do animal, localizado entre as suas escápulas). Em 2020, foi o animal selecionado para ilustrar a nota de R$ 200.

As características mais marcantes do lobo-guará são suas pernas finas, compridas e pretas e seu pelo avermelhado. É um animal onívoro, muito oportunista (basicamente come tudo o que conseguir caçar e engolir) e um importante dispersor de sementes, principalmente da lobeira (Solanum lycocarpum), planta de muitas propriedades medicinais para os humanos e que também protege o lobo de vermes parasitários.

O lobo-guará está classificado como “quase ameaçado” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), porém suas populações estão diminuindo nos últimos anos, principalmente por conta da perda de hábitat. Além disso, as colisões veiculares e a caça (movimentada por crenças populares, superstições e conflitos com a agricultura) são fatores que afetam negativamente esse canídeo.

Localização

O lobo-guará pode ser encontrado em áreas de vegetação aberta, campos, nos Pampas e no Cerrado, sendo um grande símbolo desse bioma. Algo curioso é que esse animal se adaptou a ocupar regiões desmatadas da Mata Atlântica na região Sudeste, uma rara exceção de um ser vivo sendo beneficiado por uma ação tão destrutiva.

No Brasil, esse bicho ocorre no Nordeste (próximo a foz do rio Parnaíba), Centro-Oeste, Sudeste e Sul. As maiores concentrações de suas populações estão nos cerrados do Centro-Oeste e do Sudeste, respectivamente.

Diferente dos outros canídeos, o lobo-guará não forma matilhas e utiliza os campos abertos para caçar suas presas e se locomover solitariamente. O único momento em que dois indivíduos ficam juntos voluntariamente é durante o período reprodutivo. Apesar de ser difícil, também é possível encontrá-lo descansando ou dormindo em matas mais fechadas, moitas e no capim alto.

Equipamento

Por se tratar de um predador bem elusivo, acredito que a escolha mais segura para garantir boas fotos é a utilização de lentes teleobjetivas, que dispensam a necessidade de aproximação. Porém, caso consiga a aproximação, as grande-angulares são uma boa alternativa para incluir as paisagens, que costumam ser bem bonitas no Cerrado.

Quanto aos acessórios, os extensores podem ser úteis para ganhar um pouco mais de alcance e o para-sol é indispensável em dias de céu limpo e sol forte nos campos abertos. Lembre-se de proteger suas pernas e pés com calças, perneiras e botas, considerando que você provavelmente enfrentará mato alto e denso enquanto rastreia o lobo.

Técnicas

O lobo-guará pode ser um animal bem ágil dependendo da circunstância. Priorize velocidades mais altas do obturador para garantir fotos bem nítidas. O Cerrado é um bioma que costuma ser muito bem iluminado, então não se preocupe tanto com a menor entrada de luz causada por esse tipo de configuração.

Esse canídeo também gosta de se esconder quase que completamente no capim alto, seja para caçar, descansar ou caminhar, dificultando bastante a visualização de nós, fotógrafos. Procure ao seu redor algum lugar que lhe forneça alguma vantagem em altura, como uma rocha, um morro ou até o capô de um carro – isso pode ajudar na localização da pelagem vermelha em meio à vegetação.

Além disso, por conta desse mesmo comportamento, focar perfeitamente no lobo pode ser outro grande desafio. Tente priorizar o modo AI-Servo/AF-C e escolher uma composição que contraste bem o animal com os outros elementos (as câmeras baseiam o foco nos contrastes de cores e luz). Caso ainda esteja com dificuldades (e o bichinho estiver parado, claro), arrisque o foco manual para separá-lo das inúmeras camadas de capim através de um ajuste mais fino. Diminuir um pouco a abertura do diafragma também pode facilitar o foco, às custas do desfoque em planos diferentes do assunto principal.

Dicas extras

Os canídeos, de forma geral, possuem audição e olfato excepcionais. O lobo-guará não é exceção. Portanto, evite o uso de fragrâncias com aromas muito fortes (perfumes, desodorantes, etc.), tente se aproximar do animal na direção contrária do vento e mantenha o máximo de silêncio possível enquanto estiver em campo.

Falando em aroma, esses bichos são conhecidos por marcarem seus territórios com urina, que tem um cheiro bastante característico e que pode perdurar por até três dias ao olfato humano. Além de urinar, os lobos costumam realizar suas outras necessidades perto de suas tocas e em cima de pedras e cupinzeiros, também para delimitar seus domínios. Fique atento a esses sinais em campo para confirmar se há um indivíduo próximo de você. Eles costumam ser bem visíveis (e “cheirosos”).

Por fim, esses cachorros selvagens têm hábitos mais crepusculares, ou seja, são mais ativos durante o amanhecer e o anoitecer. Porém, existem estudos que mostram que em dias nublados ou mais frios os lobos-guarás podem permanecer ativos durante o dia inteiro. Então, vale a pena dar uma olhadinha na previsão do tempo para aumentar suas chances de fotografá-los.

Para mim, o lobo-guará é um dos mamíferos mais curiosos do Brasil. Algo sobre sua aparência e seu comportamento formam uma certa mística que acho que ninguém nunca vai ser capaz de entender por completo. Espero que esse texto tenha ajudado você de alguma maneira. Muito obrigado pela leitura e até a próxima!

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