A conservação da vida depende de sairmos da inércia

Vivemos um momento de grande imprevisibilidade em relação às condições de vida no planeta nos curto e médio prazos. E, por outro lado, da certeza do imprevisível, da possibilidade de ocorrência de eventos extremos e inéditos, como a pandemia de Covid-19, a sequência de enchentes catastróficas no Rio Grande do Sul, as ondas de calor extremo, as queimadas generalizadas pelo mundo…

Essa proximidade do fim do mundo, ou dos vários “fins de mundo possíveis e prováveis”, na abordagem de muitos estudiosos do tema – sobretudo para as espécies silvestres mais sensíveis e para as populações humanas mais vulneráveis – gera uma paralisia, uma sensação de que nada podemos fazer para mudar a realidade.

Como diz o imortal Ailton Krenak, usar da inevitabilidade do fim do mundo como argumento para a inércia é covardia, além de ser adoecedor, pela já conhecida e epidêmica ansiedade climática.

E quem terá o poder de adiar esses fins de mundo?

Em artigo de 17 de maio de 2024, para o Sul21, o psicólogo e doutor em Psicologia Social e Institucional, José Mário Neves, traz, como primeira alternativa para lidar com a ansiedade climática, a necessidade de “estimular um amplo processo de engajamento das pessoas na defesa do meio ambiente, pois dessa maneira não apenas daremos vazão à tensão que gera ansiedade através de ações que superem o sentimento de impotência, como efetivamente estaremos atuando sobre as causas do problema climático, tão crucial neste momento”.

Nós, biólogos, temos que nos posicionar na linha de frente, até mesmo pelo juramento que fizemos ao nos formarmos: “Juro, pela minha fé e pela minha honra e de acordo com os princípios éticos do biólogo, exercer as minhas atividades profissionais com honestidade, em defesa da vida, estimulando o desenvolvimento científico, tecnológico e humanístico com justiça e paz.”

Rede Brasileira de Especialistas em Ecologia de Transportes Brasil

Nesse sentido, quero aqui compartilhar a iniciativa da REET Brasil, de promover a estruturação de uma rede de especialistas preocupados em melhorar suas práticas, que congrega atores para além da Ecologia de Transportes, uma vez que a inter e a multidisciplinaridade são de extrema importância.

No âmbito da REET, desde o ano passado (junho de 2023), formamos um Grupo de Trabalho para discussão do licenciamento ambiental no Brasil, com a participação de membros da academia, consultoria, empreendedores e órgãos ambientais.

Participar da REET e coordenar este GT, com a promoção de reuniões mensais, tem sido altamente motivador e tem provocado mudanças sensíveis nas minhas práticas e nas práticas de outros participantes, que assim relataram nos encontros. É urgente agirmos e é fundamental termos consciência de que as melhorias nos processos virão a partir das mudanças em cada um de nós: em nossas práticas de trabalho, em nossos hábitos de consumo, em nossas relações com o outro.

Felizmente, vivemos num momento de expansão de consciência da humanidade, com o avanço nas pautas relacionadas à promoção dos direitos humanos, à promoção da paz e a proteção do meio ambiente. Finalizo com uma parte do discurso de Greta Thunberg, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 25, realizada na Espanha, em 2019:

Estamos desesperados por um sinal de esperança. Mas eu gostaria de dizer que há esperança. Eu a vi. Mas ela não vem de governos ou corporações. Ela vem das pessoas, que não tinham consciência, mas começaram a acordar”.

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