Biólogo, mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), em Recife, e coordenador técnico do projeto de reabilitação, soltura e monitoramento de papagaios-verdadeiros intitulado de Projeto Papagaio da Caatinga
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Os centros de triagem e reabilitação de animais silvestres (Cetras) têm como função a recepção de animais do tráfico, de resgates (feridos e doentes) e de entregas voluntárias. Nas apreensões é onde reside o maior leque de situações diferenciadas, para não dizer esdrúxulas, e onde se testa todos os limites de quem trabalha por amor à causa animal.
As situações de apreensões são diversas e cada uma mais absurda que a outra. Você encontra crimes corriqueiros e até os envolvendo centenas ou milhares de animais ilegais com uma única pessoa, sendo que esse infrator nunca vai responder de forma proporcional ao tamanho do crime. A maioria dos envolvidos é solta antes mesmo de os animais serem levados ao Cetras para receberem cuidados, o que faz com que o índice de mortalidade suba drasticamente por falta de socorro imediato.
Vamos ter também situações em que repetidamente a mesma pessoa é flagrada traficando animais. Muitas já são conhecidas por décadas, o que banaliza a detenção do bandido, já que nunca houve qualquer tipo de justiça contra ele.
E existem ainda aquelas situações em que se questiona a nossa essência humana tal o nível de maldade encontrada. É o que ocorre em muitas ações de fiscalização contra caça e tráfico de fauna com animais encontrados nos estados mais deploráveis de sofrimento.
Situações como a que aconteceu no último fim de semana na região metropolitana de Recife (PE). Uma equipe da Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente (Cipoma) da PM foi atender a uma denúncia sobre uma pessoa que mantinha doze preguiças-de-garganta-marrom em cativeiro para a venda. Na chegada ao local, quatro animais se encontravam amarrados e os outros já estavam mortos, sendo transformados em um ensopado. Muitos ossos e peles foram também encontrados. O responsável foi encaminhado para a delegacia, mas acabou liberado por ser considerado incapaz por motivos de saúde psíquica.
O trabalho de triagem, cuidado, reabilitação e soltura de animais nos Cetras por vezes vai além do atendimento cotidiano, sendo difícil se manter firme. Nos meus 15 anos trabalhando em centros de atendimento à fauna, conto nos dedos os profissionais que conseguem se manter nessas instituições por mais de dez anos. Todos alegam cansaço mental.
Porém, o processo deve ser visto como algo incessante e que o seu trabalho não é um filme, em que o final feliz está prestes a acontecer com duas horas de história. O processo é contínuo, as mudanças seguem o fluxo da evolução dos seres humanos e o trabalho não pode deixar de acontecer, pois é uma atividade essencial para a saúde do mundo.
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