
Bióloga, mestra em Zoologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro e professora nas redes estadual e particular do Rio de Janeiro.
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Nome popular: falcão-peregrino
Nome científico: Falco peregrinus
Estado de conservação: “pouco preocupante” (LC) na lista vermelha da IUCN e no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção – ICMBio.
A história do casal preso a um feitiço que os impedia de estarem juntos na forma humana encantou a muita gente.
Em O Feitiço de Áquila, os protagonistas vivem juntos, mas de uma forma totalmente inusitada: durante a noite, enquanto ela está na forma humana, ele é um lobo; ao passo que durante o dia, ele é humano e ela um falcão. Esse impedimento rendeu uma das cenas mais belas do cinema (confira o vídeo no final).
Romances à parte, o bicho de hoje é considerado o vertebrado mais rápido do mundo, podendo alcançar mais de 300 km/h ao mergulhar em direção à sua presa. É uma verdadeira “máquina” de caça: o falcão-peregrino.
Seu nome traduz perfeitamente o que ele é: um andarilho, um viajante. Ocorre praticamente em todos os continentes, exceto a Antártica. No Brasil, suas visitas acontecem entre setembro/outubro e abril, quando aqui chegam, fugindo do inverno no hemisfério norte.
A espécie é subdividida em 19 subespécies, sendo a mais comum por aqui a Falco peregrinus tundrius. Já a Falco peregrinus anatum raramente nos visita.
De hábitos diurnos, esse predador topo de cadeia vive em regiões costeiras ou montanhosas, alimentando-se de outras aves, pequenos mamíferos e até morcegos, que caçam ao entardecer. É um caçador magistral, graças à sua visão apurada, garras afiadas, velocidade e precisão. É um animal solitário, mas também pode caçar em dupla.
Apesar de toda a eficiência, nem sempre o falcão-peregrino consome o que abateu. Às vezes, outras aves de rapina o atacam e roubam o produto de sua caçada. Quando estão em áreas urbanas, também é comum “perderem” o alimento em razão do movimento de pessoas ou veículos, o que dificulta a recuperação caso este caia no solo.

A captura de suas presas é geralmente feita em pleno ar, onde persegue a caça. Outra maneira é voar bem alto, observando a área abaixo e, ao avistar uma ave, por exemplo, descer em queda livre com as asas coladas ao corpo (o que torna seu corpo ainda mais aerodinâmico) e controlando sua velocidade. O choque muitas vezes leva à morte instantânea ou gera ferimentos graves na vítima. Após atingir seu alvo, o predador volta e o pega em queda ou no solo.
Os falcões-peregrinos não se reproduzem em território brasileiro. Migram para cá anualmente e voltam para seu local de origem ao final do inverno no hemisfério norte, onde ocorre a reprodução.
O macho, que mede em torno de 35 cm a 51 cm e pesa entre 410 g e 1.060 g é menor que a fêmea. São colocados de três a quatro ovos (podendo chegar a seis), que são chocados pelos pais durante aproximadamente 35 dias. Após o nascimento, os filhotes levam de 35 a 42 dias para ficarem emplumados e após esse período ainda dependerão dos pais por mais cinco semanas.

Uma curiosidade em relação aos falcões-peregrinos é sua “fidelidade” aos locais de invernagem, uma vez que retornam sempre à mesma região, usando inclusive os mesmos locais de pouso e descanso. Esses locais tanto podem ser em áreas rurais como urbanas. No segundo caso, alimentam-se basicamente de pombos e pardais, abundantes nessas localidades, onde costumam ocupar torres, sacadas, enfim, locais altos que acabam facilitando sua vigília.
Essa “fidelidade” foi constatada pela equipe de pesquisadores liderada pelo professor Elias Pacheco Coelho do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IB/UFRJ), que em meados dos anos 1980 percebeu a presença de um exemplar da espécie sempre alojado em uma pequena sacada no 13° andar do Hospital Universitário, no Fundão, a cada ano em que vinha para cá. O animal era monitorado a cada vinda, o que era muito importante uma vez que, na época, a espécie ainda estava ameaçada devido ao uso de defensivos agrícolas (DDT, principalmente). Essas substâncias, ao penetrar nas cadeias e teias alimentares, trazia como uma das consequências o enfraquecimento das cascas dos ovos que quebravam quando os pais tentavam chocá-los, o que levou à diminuição das populações de falcões-peregrinos.

A proibição do uso dessas substâncias nas décadas de 1970 e 1980, após terem sido largamente utilizadas, aliada a programas de reprodução em cativeiro e reintrodução da espécie no ambiente, permitiu sua recuperação. Atualmente, seu risco de extinção é baixo. Que sirva de exemplo para que o erro jamais se repita.
https://www.youtube.com/watch?v=1ODVyWqW4ps&t=14s
Trecho do filme O Feitiço de Áquia
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