Vale a pena implantar medidas para reduzir atropelamentos de fauna em rodovias?

A resposta é simples: sim, vale a pena! Salvar uma vida já vale a pena. A mitigação de atropelamentos de fauna é importante tanto para a conservação de espécies quanto para a segurança dos usuários das rodovias. Esse problema é uma das maiores ameaças às populações de animais silvestres, sendo que milhares de indivíduos morrem nas rodovias do Brasil. Além disso, animais de maior porte, quando colidem com um veículo, podem causar acidentes com danos materiais, físicos e psicológicos para as pessoas, incluindo o risco de acidente fatal também para os humanos.

Apesar da grande importância de reduzir as colisões e os acidentes com fauna nas rodovias, a implantação de medidas de mitigação estruturais ainda está muito aquém do necessário.

Um dos grandes desafios é a questão do custo do investimento. Os gestores de rodovias frequentemente se perguntam se o investimento em medidas de mitigação vale a pena em termos de custo e efetividade. Uma preocupação que sempre aparece é se o gasto será aceito pela fiscalização rigorosa do Tribunal de Contas da União.

Embora os motivos para justificar a implantação de medidas de mitigação sejam claros, a avaliação financeira é fundamental. No entanto, poucos estudos no Brasil avaliaram se os custos associados à implementação de medidas mitigadoras compensam os custos das colisões veiculares com a fauna.

Estudos de caso

Para o Mato Grosso do Sul, um estudo conduzido pelo Instituto de Conservação de Animais Silvestres (Icas) verificou que o investimento em implantar cercamento nos trechos críticos de colisões com fauna nas rodovias do Estado seria compensado entre 9 e 25 anos.

Em uma rodovia no estado de São Paulo, a análise de custo-benefício sobre os gastos com reparação de veículos associados às colisões com capivaras menciona que, em trechos com cerca de cinco colisões de capivaras por quilômetro por ano ou mais, a combinação de cercamento com passagens de fauna seria economicamente viável.

Ambos os estudos analisaram apenas os custos associados à reparação de veículo. Mas caso fossem incluídos os custos por danos à integridade física das vítimas humanas, valoração dos serviços ecossistêmicos dos animais, tratamento e reabilitação de animais feridos, certamente o investimento com medidas de mitigação seria pago ainda mais rapidamente ou seria compensado com menor número de colisões.

Apesar dos benefícios da instalação de medidas mitigadoras tanto para fauna quanto para humanos, o planejamento de rodovias usualmente não inclui o investimento nessas estruturas, dificultando sua implantação após o licenciamento ambiental. A decisão de implementar essas medidas depende diretamente dos custos e a análise de custo-benefício pode ajudar a escolher quais medidas a serem implantadas e a acelerar o processo de mitigação.

A prevenção de atropelamentos de animais pode compensar os investimentos em mitigação no curto e médio prazos. No entanto, precisamos de mais estudos de análise de custo-benefício associados a outros tipos de medidas de mitigação, analisar o investimento inicial, os custos de manutenção e o tempo necessário para o retorno do investimento. Esse tipo de análise é uma ferramenta crucial para embasar decisões, proporcionar maior segurança, maximizar benefícios e minimizar custos.

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