União entre solturas e contemplação religiosa é uma possibilidade

A ação de soltura é definida como a execução de um protocolo técnico que visa translocar ou reintroduzir um indivíduo ou uma espécie de ocorrência no seu hábitat natural. Um elemento fundamental desse processo é o monitoramento pós solturas, que poderá implicar na suplementação alimentar e até mesmo na recaptura, caso o indivíduo não se adapte ou seja necessário a obtenção de dados clínicos ou sanitários para avaliar o sucesso da ação.

Tem sido muito comum a veiculação de vídeos nas redes sociais de pessoas fazendo a famosa “abertura da caixinha” e dali, com a câmera em close sai algum animal e logo após a imagem é cortada para o rosto de quem solta – que está sorrindo. Lindo, não é?

A realidade nem sempre é tão cinematográfica e claro, os erros não são divulgados. Mas uma coisa é certa: fazer uma soltura de forma correta dá uma alegria danada! Talvez por essa alegria que dá e pelo sentimento intenso que se experimenta ao contemplar animais silvestres no seu meio, não é incomum que entidades religiosas se interessem pelo trabalho com fauna. São santuários, mantenedores de fauna nativa e exótica e áreas de soltura que são mantidos ou apoiados por entidades religiosas de vários matizes.

Conheça dois destes locais

Localizada aos pés da Serra da Mantiqueira, em Pindamonhangaba (SP), a Fazenda Nova Gokula cultiva, há 45 anos, os valores de vida simples e uma cultura espiritual baseada nos antigos ensinamentos dos Vedas. Iniciada em 1978, a maior comunidade Hare Krishna da América Latina pertence à Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna (ISKCON), conhecida como a maior escola de filosofia védica criada no ocidente. Foi fundada em 1966, em Nova Iorque, por Swami Prabhupada, que trouxe esta ciência conhecida antes apenas por yogis e santos do oriente.

A ONG Mater é uma organização sem fins lucrativos que coordena a Área de Soltura e Monitoramento de Pássaros e Animais Silvestres, situada na Fazenda Nova Gokula, homologada pelo Ibama e pela Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo. Sua principal missão é promover a soltura de pássaros e animais da fauna local e monitorar se haverá sucesso na readaptação.

Esses animais são encaminhados principalmente pelos centros de triagem e reabilitação de animais silvestres (Cetras), todos em condições físicas favoráveis a essa prática. Dessa maneira, eles passam por um período de aclimatação e, posteriormente, são liberados. Após esse processo, se inicia o monitoramento formal e informal das aves.

Um fator importante é a educação ambiental que é promovida através da ONG Mater. Escolas, instituições, visitantes, todos estão convidados a participar das solturas e a conhecer um pouco mais sobre a rica diversidade que possuímos pertinho de nós.

E para garantir o sucesso das solturas, a equipe da área de soltura abastece, todos os dias, diversos comedores localizados em diferentes locais na fazenda. É uma forma de a avifauna advinda de soltura receber a complementação alimentar necessária. São mais de 500 quilos de milho, sementes e frutas por ano. Um verdadeiro banquete.

Especialmente nesta época do ano, quando nossas baterias já estão precisando recarregar, é um bonito passeio – mesmo quando não há soltura ocorrendo! Tem um comedor que fica bem perto do templo, muito bem frequentado, especialmente porque muitos pássaros-pretos (Gnorimopsar chopi) vêm visitar. Uma gostosura de ver e de se ouvir! Os sons da natureza purificam o coração e a mente de quem ouve.

Que o ano de 2025 possa nos trazer muitas solturas bem feitas e muita paz!

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