Por Barbara Zucatti
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestranda no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma instituição (NERF-UFRGS)
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Atualmente, devido ao novo coronavírus, estamos vivendo uma realidade de isolamento social em que há meses as nossas vidas mudaram abruptamente. Em função disso, o turismo foi muito afetado , reduzindo bastante suas atividades ao redor do mundo. A diminuição desse setor reverberou também no número de atropelamentos de fauna. Pesquisas mostram que o tráfego diminuiu em 70% na Califórnia, contribuindo em 21% na diminuição dos casos de atropelamento durante o período de isolamento social. A título de curiosidade, se projetarmos esses mesmos valores para a nossa realidade, considerando que o Brasil tem uma média estimada de 475 milhões de atropelados anualmente, esse número poderia reduzir a 99 milhões durante um ano de pandemia.
A curto prazo, essa notícia é ótima em se tratando da fauna atropelada. Porém, sabemos que a longo prazo as coisas tenderão a voltar ao normal tão logo voltemos a nossa antiga realidade. O fluxo de carros transitando nas rodovias retornará às suas antigas taxas e os animais voltarão a ser atropelados na mesma quantidade, senão mais. Digo isso porque durante a pandemia também pudemos presenciar vários relatos de animais próximos aos centros urbanos, fato esse que está atrelado à diminuição das atividades antrópicas durante a quarentena. Se a fauna se acostumar ao nosso novo normal, com a diminuição das nossas atividades, e se encorajar a buscar abrigo ou alimento próximo aos centros urbanos, então teremos um grande problema quando a situação se normalizar, eventualmente.
Em épocas festivas, como finais de ano e veraneio, a taxa de mortalidade da fauna aumenta bastante, assim como em rodovias que levam a regiões turísticas. Dado que, geralmente, o maior fluxo de carros nas estradas nesses casos é também a época de reprodução e maior atividade da grande maioria dos animais.
Entretanto, não são apenas as regiões turísticas que apresentam um aumento nessas taxas. As fatalidades ocorrem também nas rodovias adjacentes e dentro das próprias unidades de conservação. Em alguns casos, esses atropelamentos podem ser causados pelo desrespeito aos limites de velocidade. Já pensou quão irônico é visitar um local de proteção à fauna e ser responsável por atropelar alguns animais no caminho?
A situação atual nos permite perceber que, mesmo acidentalmente, a diminuição das nossas atividades tem contribuído para a conservação da fauna. No entanto, é impossível pausarmos nossas rotinas para que a vida possa se restabelecer em paz na terra. O próprio turismo é a principal fonte de renda em muitas regiões. Ter consciência de todos os efeitos colaterais das atividades turísticas pode nos ajudar a tomar algumas atitudes inteligentes que ajudem a amenizar a problemática dos atropelamentos da fauna. Utilizar o próprio turismo como forma de educar ambientalmente as pessoas a respeitarem as regiões que visitam, tanto em questões da biodiversidade quanto em questões culturais, pode gerar resultados positivos. Atividades que trazem à tona esse problema e educação ambiental podem ser muito úteis na tentativa de sensibilizar os visitantes e, consequentemente, dar o devido respeito aos verdadeiros anfitriões desses locais.
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