
Por Tati Pongiluppi
Bióloga, mestra em Biodiversidade em Unidades de Conservação e guia de observação de aves da Brazil Birding Experts pelo Sudeste e Nordeste do Brasil
observacaodeaves@faunanews.com.br
Neste momento, é difícil abordar turismo de observação de aves e não tratar da pandemia que assola o Brasil e o mundo há um ano. Desde que tudo começou, a minha palavra para resumir essa situação continua a mesma: INCERTEZA. Acho que nunca na vida me senti mais fora do controle de alguma coisa como agora.
Todos sabemos que o setor turístico está entre os mais afetados pela pandemia, especialmente para as pessoas que trabalham com o público estrangeiro. Atualmente, existem diversos protocolos para viagens e, também, o selo de Turismo Responsável do Ministério do Turismo. Mas, mesmo assim, as atividades para o setor da observação de aves ainda não puderam se restabelecer. No segundo semestre do ano passado, algumas viagens de observação de aves começaram a acontecer timidamente em nosso país com o público nacional e poucas com o público estrangeiro.
No entanto, mudanças drásticas ocorreram na vida de quem trabalha com turismo de observação de aves, principalmente na dos guias e equipes de pousadas e agências focadas nessa atividade. Alguns acabaram mudando de profissão temporariamente, fazendo bicos, vendendo bens, estourando o “porquinho”, entrando em dívidas e recebendo ajuda dos amigos (em alguns casos até de clientes) e da família. Além da questão financeira, todos que estavam acostumados a passar boa parte dos seus dias observando aves por aí tiveram que mudar seus hábitos e ficar mais em casa, explorando mais os seus quintais e arredores.
Com o afrouxamento dos decretos estaduais, as viagens voltaram a acontecer. As pessoas querem viajar! Muita gente não aguenta mais estar presa na cidade ou à rotina. Logo que foi liberado, as pessoas começaram a comprar as suas viagens. Em sua maioria, as viagens foram para grupos pequenos e privadas (como já era previsto), salvo poucos casos daquelas em grupos maiores de estrangeiros. Ouvi vários relatos, desde as pessoas que disseram sentir muito medo e apreensão até as pessoas que afirmaram se sentir tranquilas por estarem seguindo as medidas de segurança e em ambientes abertos durante a prática da observação de aves. No geral, os hotéis e restaurantes têm seguido com afinco os protocolos, o que dá um maior sentimento de proteção. O início das viagens e a redução dos números de casos e mortes foi dando aquela esperança, tanto para as pessoas que trabalham com o turismo quanto para os observadores de aves.
Mas, como o momento é da INCERTEZA, estamos nós aqui em uma situação ainda pior do que ano passado. Apesar de alguns países já terem passado por essa “etapa” e vários outros estarem trabalhando duro para isso, nós ainda estamos “patinando na lama”, na verdade em uma areia movediça. Caminhamos um pouco e, de repente, afundamos. São passos lentos e cheios de obstáculos que todos sabem e nem vale a pena entrar em discussões sobre a falta de políticas públicas do nosso país.
Agora estamos aqui, contando os dias para trabalhar novamente, contando os dias para sair por aí e fazer aquela viagem de observação de aves tão planejada e contando os dias para ver uns lifers (espécies de aves novas para um observador de aves) e estar na natureza novamente. Sem falar, em reencontrar os amigos e dar boas risadas juntos.
Enquanto isso, há sete coisas que podemos fazer para “aproveitar” os dias em lockdown, nos distrair um pouco dessa loucura do nosso país e estar próximo das aves:
1 – EXPLORE O SEU JARDIM. Sim! Olhe à sua volta. A vida pulsa! Observe as aves, os insetos, toda a vida que vive com você no seu quintal, nos arredores de casa e no seu bairro.
2 – FIQUE LIGADO NO AVISTAR CONECTA! Vai lá no canal do Youtube e ativa as notificações para não perder nada. Tem muita informação sobre o mundo das aves e tudo gratuito. São diversas séries, palestras, conversas sobre os mais variados temas envolvendo aves. Semanalmente, tem a série Destinos Silvestres que apresenta locais incríveis para observar aves assim que tudo passar.
3 – CONTRIBUA COM A CIÊNCIA CIDADÃ. Aproveita para colocar os seus registros em forma de fotos, sons ou listas em plataformas de ciência cidadã, como o WikiAves e o eBird.
4 – APRENDA MAIS SOBRE AS AVES. Que tal aprender um pouco mais sobre o mundo das aves através do grande número de guias publicados, websites, livros e bibliotecas de fotos e sons?
5 – PLANEJE VIAGENS. Aproveite para sonhar e buscar informações sobre os locais que você quer visitar. Para contribuir com o trade turístico da observação de aves, contrate um guia e visite pousadas especializadas.
6 – ESTUDE SEUS LIFERS. Sim, isso mesmo! Estude sobre as espécies de aves que você ainda não conhece. É um mundo praticamente infinito e que até hoje ninguém conseguiu completar o álbum. Que fique claro não ter nada de errado em querer lifers, pois cada observador de aves tem seu estilo ou pode ter vários estilos ao mesmo tempo. Os lifers não são apenas mais uma figurinha nova. Cada nova espécie em uma lista ou fotografada traz consigo uma história, memórias, pessoas e tudo aquilo que fazia parte do cenário e dos sentimentos do momento.
7 – CRIE SEU COMEDOURO. Já que você não pode ir até as aves, traga-as até você! Uma boa opção é colocar bebedouros e comedouros em sua casa. Não importa se é apartamento, se está na cidade ou se está em um sítio. As aves estão por toda parte e, mais cedo ou mais tarde, elas vão descobrir a oferta de alimento e passar a te visitar. No canal do Avistar Conecta tem muita informação sobre isso, mas uma das dicas principais é manter a higiene do seu comedouro em dia!
Agora é o momento de acalmar o coração, seguir as regras do lockdown e manter a esperança por dias melhores. Façamos a nossa parte!
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