Por Ingridi Camboim Franceschi
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é mestranda, sendo integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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É comum vermos animais arborícolas, como macacos, tamanduás-mirins, preguiças e ouriços (porcos-espinhos) atropelados nas estradas. Animais arborícolas são mais adaptados a viver em árvores e utilizam preferencialmente as copas ao logo de suas vidas. Quando estão no chão, são menos hábeis, logo, ficam mais vulneráveis a qualquer ameaça, principalmente às colisões com os veículos.
Como já sabemos, ao construir uma infraestrutura linear em uma floresta, a área será dividida ao meio e essa ruptura gera diversos prejuízos a vários animais. Por exemplo, a presença desses empreendimentos limita o acesso deles a recursos, como alimentos, altera suas áreas de vida e a forma como utilizam o espaço e dificulta o contato com outros indivíduos da mesma população, alterando a estruturação dessa espécie na região. Especificamente para os animais arborícolas, esses empreendimentos também impedem que eles circulem livremente, obrigando-os a descerem das árvores e atravessarem a rodovia pelo chão, ficando assim mais suscetíveis às fatalidades.
Um estudo recente mostrou que infraestruturas lineares (rodovias e ferrovias) impactam diretamente os primatas. Essas infraestruturas estão associadas com aumento do desmatamento, da caça e da expansão das áreas agrícolas e urbanas. Todas essas alterações na paisagem, além da presença em si da infraestrutura linear, resultam em grande mortalidade e mudanças de comportamento nas espécies. Esse trabalho ainda sugere locais de alta prioridade no mundo para implementação de medidas mitigadoras devido à grande riqueza de espécies de primatas e à alta densidade dessas infraestruturas já existentes (e o Brasil está entre esses países).
Apesar de ser importante planejar medidas mitigadoras em infraestruturas já em funcionamento, é ainda mais importante planejar essas medidas durante o projeto de construção de novos empreendimentos, levando em consideração os principais impactos, quais espécies serão mais impactadas e como reduzir esses impactos. No caso dos primatas é essencial manter a conectividade no ambiente e reduzir a perda e fragmentação das florestas.
Como já discutimos em outros artigos, as passagens aéreas são uma alternativa eficiente para permitir uma travessia segura aos animais arborícolas e reduzir os impactos das infraestruturas lineares. Esse método permite a conexão entre os fragmentos florestais por cima do empreendimento e existem diferentes formas de planejar essas pontes. Alguns trabalhos criam passagens artificiais com corda, podendo ser apenas cordas que conectam as árvores (mais específico para macacos) ou uma ponte mais elaborada (veja em Biota Neotropica e em Australian Mammalogy), a qual permite a travessia de outros animais arborícolas além dos primatas.
Contudo, também há passagens naturais, onde pontos específicos mantem as árvores conectadas e assim permitem a circulação dos animais. Para isso, essas pontes naturais devem ser criadas, preferencialmente, durante a fase de construção do empreendimento, mantendo a vegetação nesses pontos selecionados e construindo abaixo, porém também podem ser elaboradas após a construção. Independentemente do tipo de passagem selecionada, é sempre importante avaliar o custo-benefício de uma medida mitigadora, bem como a eficiência do método em reduzir os impactos.
Apesar deste artigo ter abordado o impacto das rodovias e medidas mitigadoras ao grupo de mamíferos arborícolas, existem outros animais arborícolas que também requerem atenção, como algumas serpentes, anfíbios e aves. O planejamento e a construção de uma medida mitigadora para uma ou algumas espécies em específico também podem auxiliar e serem uma opção para outras espécies. Logo, seja qual for o tipo de infraestrutura em questão, o planejamento e o estudo prévio dos impactos ao meio ambiente e às espécies devem ser sempre avaliados e elaborados da forma mais adequada possível.
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