
O poder público insiste em combater o mercado negro de animais silvestres somente com fiscalização. E essa miopia dos governantes é generalizada, ocorrendo em todo o país. Os órgãos de repressão cumprem seu papel, mesmo que ainda com muitas falhas, pois desenvolvem seu trabalho, na grande maioria dos casos, baseando-se em denúncias e não em ações de inteligência para coibir a captura e abate de animais antes que ocorram.
Um exemplo da política do “enxuga gelo” ocorre na Paraíba, onde não se houve falar de ações de conscientização da população.
“Nos oito primeiros meses de 2014, a Polícia Ambiental da Paraíba já apreendeu 1.755 animais silvestres que foram capturados irregularmente. Desses, 508 foram descobertos só em agosto, sendo 80% deles aves da espécie ribaçã. Até o final do ano, a corporação promete intensificar fiscalização no Sertão, onde há mais incidência desse tipo de crime.
“As ribaçãs capturadas já estavam abatidas. Foi em uma operação à noite, em Sumé e Monteiro. Apreendemos os caçadores, armas e roupas camufladas. Foram 11 pessoas envolvidas”, contou o comandante do Batalhão de Polícia Ambiental, major Tibério Leite, que destacou o empenho da corporação em combater o tráfico e comércio de animais silvestres.
Major Tibério explicou que esse tipo de prática criminosa acontece principalmente em período de migração das aves. “Elas ficam vulneráveis. São aves consumidas na Paraíba, que vão para bares da região do Sertão e João Pessoa, além de feiras”, acrescentou.
A multa para esse tipo de crime é de R$ 500 por ave silvestre abatida. Só nas duas operações realizadas em Sumé e Monteiro, no Cariri Oriental, foram R$ 222 mil de prejuízo para os responsáveis.
Além da ribaçã, outro pássaro silvestre que é alvo de capturas irregulares é o galo de campina. A caça ilegal de aves em geral é comum em Campina Grande e no Sertão. “Por isso vamos intensificar a operação no Sertão”, garantiu major Tibério. “Há outras regiões onde há registros de outros tipos de crimes ambientais, como a extração de areia com incidência em Cruz do Espírito Santo (Zona da Mata) e Mogeiro (Agreste)”, exemplificou.” – texto da matéria “Polícia Ambiental intensifica combate ao tráfico e comércio de animais silvestres”, publicada em 29 de setembro de 2014 pelo site PB Agora
Enquanto houver gente comprando animais silvestres, seja para mantê-los em cativeiro doméstico como bichos de estimação, seja para consumi-los como iguaria em botecos e restaurantes, haverá gente capturando e caçando. O comércio ilegal de fauna e seus subprodutos (como carne, peles, garras e dentes, por exemplo) e a criação sem autorização são hábitos antigos e que podem ser mudados.
Cabe ao poder público, junto com ONGs, universidades e instituições organizadas da sociedade, se mobilizar para elaborar e colocar em prática projetos que conscientizem a população dos males que tais práticas causam. Animais sofrem, espécies são extintas, ecossistemas ficam desequilibrados e doenças (zoonoses) acometem as pessoas.
A situação é grave! Mas os governantes ainda ignoram essa realidade. Estimativa de 2001 da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) indicam que mais de 38 milhões de animais são retirados todos os anos da natureza no Brasil para abastecer o mercado negro (sem contar peixes e invertebrados).