Médica veterinária e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Atua desde 2010 na Divisão da Fauna Silvestre da cidade de São Paulo, sendo responsável pelo setor de recebimento de animais oriundos do tráfico. Tem experiência nas áreas de patologia animal, clínica de aves e répteis e reabilitação. É docente do curso de bacharelado em medicina veterinária do Centro Universitário Anchieta desde 2023.
Em 17 de outubro de 2024, 21 ovos de aves silvestres brasileiras foram apreendidos no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). Eles foram encaminhados para o Centro de Manejo e Conservação da Fauna Silvestre (Cemacas) da prefeitura de São Paulo, onde descobriu-se serem ovos de tucanos, araras e psitacídeos menores, ainda em processo de identificação.
O tráfico de ovos silvestres começou a ser mais bem monitorado em meados de 2023, quando no mesmo aeroporto foram apreendidos ovos de araras-vermelhas e em Foz do Iguaçu (PR) de tucanos. Somente neste ano, o Cetras São Paulo recebeu 24 ovos de araras, refletindo a contínua ameaça a nossa biodiversidade.
Os ovos exigem condições específicas e relacionadas a temperatura e umidade elevadas, além de uma movimentação (rolagem) adequada, necessitando de equipamento específico para viabilizar o desenvolvimento embrionário. Depois de eclodidos, os filhotes passam a ser acompanhados em uma unidade de tratamento animal (UTA) e são frequentemente alimentados e limpos, considerando as fases de crescimento de cada espécie.
Apesar do desafio de acompanhar o desenvolvimento de cada recém-nascido, todo nascimento e até um simples ganho de peso trazem a tranquilidade que a equipe precisa para continuar trabalhando.
Essa foi a primeira vez que o Cemacas recebeu de ovos provenientes do tráfico de fauna. E nesse processo de recebimento, cuidado com os ovos e depois com os filhotes foi formada uma rede de apoio extremamente positiva, com o compartilhamento das informações por quem já participou dessas apreensões e de quem já criou essas aves desde o nascimento.
Ainda há muito pela frente – as aves não completaram um mês! –, mas tiveram uma chance de sobreviver. O retorno delas ao ambiente natural é o nosso propósito e a Polícia Federal, através da análise dos isótopos estáveis contidos nos ovos, identificará a origem dessas aves, permitindo realizar sua reintrodução na área que de fato foram coletadas.
A apreensão de ovos demonstra um avanço na fiscalização desse tipo de tráfico, mas também traz um sentimento de angústia e pesar para com a nossa fauna silvestre. Depois das queimadas que assolaram nosso país e destruíram diversas árvores e ninhos, as aves tem seus ovos sequestrados! Mais uma vez, contamos com a resiliência de nossa fauna, que é subjugada por nós. Até quando?
Vídeo: Alice Soares de Oliveira
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Médica veterinária e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Atua desde 2010 na Divisão da Fauna Silvestre da cidade de São Paulo, sendo responsável pelo setor de recebimento de animais oriundos do tráfico. Tem experiência nas áreas de patologia animal, clínica de aves e répteis e reabilitação. É docente do curso de […]
