Por Elisângela de Albuquerque Sobreira Borovoski
Pós-doutora em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses pela Universidade de São Paulo. Mestra em Ecologia e Evolução e doutora em Animais Selvagens pela Universidade Estadual Paulista. Coordenadora de Fauna da Prefeitura de Anápolis (GO), presidente da Comissão de Animais Selvagens e Meio Ambiente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás e membro da Comissão Nacional de Animais Selvagens do Conselho Federal de Medicina Veterinária
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O tráfico de animais selvagens é uma questão transversal que requer coordenação entre os níveis de implementação e de fiscalização do poder público, desde a erradicação da corrupção nas burocracias até o combate ao surgimento de doenças. Embora a pandemia de Covid-19 tenha aumentado a conscientização sobre alguns dos vínculos entre atividades humanas, degradação ambiental, crime internacional e saúde pública, o mundo continua despreparado para a ameaça de crimes contra a vida selvagem.
O comportamento humano – incluindo agricultura, rápida urbanização e desmatamento – transformou a superfície da Terra, alterando os ecossistemas e causando uma perda de biodiversidade sem precedentes. Apenas 3% das terras permanecem ecologicamente intactas. Isso aproxima os humanos, o gado e a vida selvagem, expondo cada um a patógenos aos quais não têm imunidade. Ao mesmo tempo, com leis de comércio de vida selvagem inadequadas, aplicação deficiente e ausência de um acordo global sobre crimes contra a vida selvagem, os animais são retirados da natureza e vendidos como alimento, remédio, lembranças turísticas, animais de estimação e outros produtos em um lucrativo mercado ilegal internacional.
A pandemia de Covid-19 nos lembrou, embora de maneira devastadora, da natureza interconectada das coisas, principalmente entre economias, meio ambiente, saúde e bem-estar humano e da vida selvagem.
Apesar de suas sérias implicações para uma ampla gama de áreas problemáticas, o crime e o tráfico de animais selvagens permanecem pouco estudados e pouco sem combate coordenado. Há uma grande necessidade de cooperação internacional para mitigar o impacto do crime contra a vida selvagem no meio ambiente, na disseminação de doenças zoonóticas e para a segurança transnacional.
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