Por Cristina Rappa
Jornalista com MBA Executivo de Administração e especialização em Comunicação Corporativa Internacional. Observadora de aves e escritora de livros infantojuvenis com temática voltada à conservação da fauna
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Leio com alegria que a Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, de São Paulo, vai retomar em 23 de agosto suas atividades presenciais, interrompidas por conta da pandemia de Covid-19, inicialmente em horários restritos, que devem ser ampliados em setembro. E que, nessa volta, ela se torna a primeira biblioteca do país a ter uma sala dedicada exclusivamente para a primeira infância, dividida por faixas etárias, de 0 a 3 anos e de 4 a 6 anos de idade.
Paralelamente à sua reabertura presencial, os programas on-line, que incluem até condução de leitura para bebês, continuarão firmes. Um processo que veio para ficar e que não tem volta.
Quando era estudante de jornalismo, com pouco mais de 18 anos, já bastante interessada em educação e leitura, eu fazia um trabalho voluntário pela Cruzada Pró-Infância. Minha função era coordenar a ida de parte do acervo infanto-juvenil da Biblioteca Circulante Mario de Andrade a uma entidade social em região carente da capital paulista, onde ficava alocada, para uso das crianças, por um mês, quando então se mudava para outro local.
Para celebrar e anunciar a chegada da biblioteca volante, eu organizava um evento com um escritor ou escritora de livros infanto-juvenis, que contava estórias para as crianças. Era muito gratificante ver a alegria e a empolgação delas, com os olhos fixos no contador de estórias. Nessa época, nem passava pela minha cabeça que viria, algumas décadas mais tarde, a escrever livros para crianças.
Educação virtual
Mas isso foi há bastante tempo e o assunto principal deste artigo é a importância e o crescimento dos canais de educação virtuais, processo acelerado durante a pandemia, por razões óbvias. Uma forma de manter e popularizar a educação, cientifica ou não, nesse período, e que veio para ficar. É claro que sua abrangência depende de conexões de internet e de aparelhos para se conectar, como computadores, tablets e smartphones, mas não é minha intenção entrar nessa seara aqui.
Imaginem ter acesso por um clique a obras que só poderiam ser consultadas em grandes bibliotecas de Ciências Naturais, como a Peter H. Raven Library, do maravilhoso Missouri Botanical Garden, em Saint-Louis, nos Estados Unidos. Pois milhares de obras que cobrem a fauna e a flora de diferentes países já se encontram disponíveis, gratuitamente, na internet, graças à Biodiversity Heritage Library (BHL), Biblioteca Patrimônio da Humanidade, em português, um consórcio de bibliotecas de História Natural e Botânica que é administrado por uma secretaria sediada nas bibliotecas Smithsonian, em Washington.
Com o objetivo de tornar acessível seu acervo sobre biodiversidade, o projeto digitalizou, em parceria com o Internet Archive e, por meio de iniciativas locais de digitalização, milhões de páginas de literatura taxonômica, representando cerca de 160 mil títulos e mais de 270 mil volumes.
Muitas das obras digitalizadas oferecidas pela BHL são dos séculos 17, 18 e 19, quando pesquisadores amadores e profissionais viajavam o mundo descobrindo, catalogando e representando em desenhos e pinturas ricas em detalhes novas espécies de plantas e animais, além de minerais. Eram os chamados naturalistas, categoria que tem entre seus expoentes Alexander Von Humboldt, Charles Darwin e Carl Friedrich Von Martius. Suas expedições geraram grandes coleções, que abasteceram museus, jardins botânicos e institutos de pesquisa de vários países.
O Brasil, com sua enorme biodiversidade, não ficou de fora dessas expedições. Pelo contrário. Martius veio ao Brasil no início do século 19, a convite da princesa Leopoldina, primeira esposa de D. Pedro I, que organizou aquela que ficou conhecida como Expedição Austríaca, em alusão à nacionalidade da princesa e dos cientistas.
Tive a felicidade de ver algumas obras de Martius, assim como de Johann Baptiste Spix e do príncipe Maxiliano de Wied-Neuwied, contendo o levantamento da fauna e flora observadas em suas viagens pelo interior do Brasil, em mostra organizada pelo Instituto Itaú Cultural, em São Paulo.
Conhecer essas obras faz qualquer um ser fisgado pela “mosca da Ciência” e certamente vai encantar muito jovem curioso que o acesse de casa, pela internet. Quanto mais pessoas se interessarem por Ciência Natural, mais defensores ganha a natureza, penso.
Ciência cidadã
Nesse sentido, há experiências que entram na categoria de ciência cidadã e que têm atraído cada vez mais usuários. É o caso de plataformas como a iNaturalist, uma iniciativa da Academia de Ciências da Califórnia e da National Geographic Society; o eBird, do laboratório de ornintologia da Universidade de Cornell, também nos Estados Unidos; e as enciclopédias brasileiras de animais Biofaces e de aves WikiAves, sendo que esta já reúne quase 40 mil usuários, numa grande popularização da prática de observação de aves em nosso país.
A característica comum dessas plataformas é sua alimentação pelos usuários, que podem ser biólogos ou pessoas com outras formações, mas que têm interesse pela natureza e nelas registram suas observações de fauna e flora. Essas observações, que contribuem para mapear a biodiversidade de diferentes lugares do mundo, podem ser feitas através de um site ou, no caso do iNaturalist e do eBird, também por celular, por meio de um aplicativo. Por falar em aplicativos, já há vários que ajudam o usuário a identificar uma planta ou ave, pelo som ou foto, no campo.
O desenvolvimento dessas novas tecnologias tem permitido fazer com que um número cada vez maior de pessoas se interesse por Ciência, que o conhecimento científico seja mais democrático e, ainda, que os pesquisadores consigam ter acesso a um número de dados gigantesco se comparado aos que conseguiriam sozinhos ou com as equipes de suas universidades e institutos de pesquisa. Que esses dados gerem bons projetos que aumentem a proteção e o bem-estar de todos os seres vivos do nosso planeta!
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