Por Julia Faria Peixoto
Aluna de Jornalismo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e integrante do portal Impacto Ambiental para o Projeto Nova Geração
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Exames realizados em um tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) encontrado morto em 29 de setembro, em Uberlândia (MG), indicaram que o animal foi vítima de um incêndio ocorrido 20 dias antes. Ele perambulou pela região até sucumbir por conta de insuficiência respiratória. O caso chamou a atenção de especialistas por indicar que as consequências das queimadas em vegetação nativas para a fauna vão além do contato direto com o fogo.
Apesar de o tamanduá ter sobrevivido ao incêndio que em 9 e 10 de setembro atingiu a reserva do Clube de Caça e Pesca Itororó, a necrópsia feita no corpo do animal indicou que a inalação de fumaça foi uma das causas da insuficiência respiratória. Além disso, o médico veterinário patologista da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Gabriel Henrique Guimarães, que realizou o exame, verificou que “o animal apresentava uma ruptura da musculatura torácica, provavelmente decorrente de algum trauma de origem desconhecida e as patas apresentavam queimaduras de 2° e 3° graus, além de fuligem nas vias respiratórias”.
Durante os incêndios, como o que ocorreu na reserva, muitos animais morrem carbonizados ou intoxicados pela fumaça. Os que sobrevivem passam a habitar em um ambiente queimado. Gabriel explica que devido às condições da área, os espécimes “podem sofrer danos físicos que causam incapacidade ou dificuldade de locomoção e de captura de alimentos. Ou ainda, em casos mais graves, até a morte deles”, como aconteceu com o tamanduá-bandeira.
A transformação, degradação ou perda de habitat impactam diretamente na sobrevivência dos animais, podendo levar à redução na abundância de espécies e até risco de desaparecimento de algumas. Ademais, “a perda de habitat é provavelmente o principal fator de ameaça à conservação da maioria das espécies em risco de extinção atualmente”, afirma a professora do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Kátia Facure.
O tamanduá-bandeira é uma espécie ameaçada de extinção na categoria Vulnerável em listagem de 2018 do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. O principal motivo é a destruição, nos últimos 50 anos, de quase metade do Cerrado, que abriga a maior parte da população da espécie.
Outra dificuldade que os animais sobreviventes aos incêndios enfrentam nesse ambiente queimado é a falta de alimentos, “uma vez que toda a cadeia alimentar é afetada em decorrência de destruição da vegetação e do comprometimento de lagos e rios”, esclarece Gabriel.
Pensando nisso, desde o dia do incêndio na reserva, professores e alunos da UFU passaram a levar alimentos e água para os animais. A área é uma reserva particular do patrimônio natural (RPPN) com Cerrado conservado, onde estudantes e docentes da universidade realizam pesquisas há pelo menos três décadas, de acordo com Kátia.
Logo nas primeiras visitas do grupo à área após o incêndio, Kátia afirma que foram encontrados restos de dois cachorros domésticos e o de um jabuti que foram carbonizados. A professora lamenta: “o número de animais mortos em decorrência do incêndio, direta ou indiretamente, deve ter sido muito maior”.