Por Karlla Barbosa
Bióloga, observadora de aves, mestra em Conservação Ambiental e Sustentabilidade e doutora em Zoologia
observaçãodeaves@faunanews.com.br
Uma característica muito mencionada sobre as aves, que pode ser marcante e até impactante na vida de uma espécie, é o endemismo. Para os observadores de aves, que querem acrescentar espécies na sua lista, uma espécie endêmica faz com que eles se aventurem em diferentes regiões para registrá-las.
Eu já abordei aqui sobre como os observadores de aves colecionam suas figurinhas através de fotografias ou de registros de observação (no eBird, por exemplo), mas essa coleção cresce com registros de espécies que muitas vezes só ocorrem em um determinado local. Essa ocorrência restrita de uma espécie em uma localidade é o que chamamos de endemismo, que pode ser de um país, de um bioma ou mesmo de um Estado. Quando uma espécie só é encontrada em uma localidade geográfica, ela é chamada de endêmica dessa localidade.
No Brasil. temos 293 espécies de aves endêmicas, segundo a última lista de espécies do país (Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, 2021). Algumas ocorrem em vários Estados do Brasil, como o sanhaço-de-encontro-amarelo (Thraupis ornata); outras são restritas a um bioma, como o tiê-sangue (Ramphocelus bresilia) que é endêmico da Mata Atlântica; e outras ainda são mais restritas, sendo endêmicas de um Estado, como é o caso do soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni), que só ocorre no Ceará, e o bicudinho-do-brejo-paulista (Formicivora paludicola), de São Paulo. Essas duas últimas, além de endêmicas, ainda estão ameaçadas de extinção.
O bicudinho-do-brejo-paulista, por exemplo, é tão pequeno e discreto que passou despercebido por anos até ser descoberto pela Ciência. Essa é uma espécie que, além de ocorrer (ou ser endêmica) apenas no estado de São Paulo, ainda vive apenas em brejos bem preservados de poucas cidades da Região Metropolitana de São Paulo e do Vale do Paraíba. Apesar de discreto, essa pequena ave atrai a atenção de observadores brasileiros e estrangeiros que vêm de longe para vê-lo.
Para as comunidades dos locais onde espécies endêmicas ocorrem, essa pode ser uma oportunidade para atrair turistas e, em alguns casos, até usar a ave como símbolo do município. É o caso do gravatazeiro (Rhopornis ardesiacus), que tem uma linda história de conservação envolvendo toda a comunidade registrada no livro 15 Histórias de Conservação.
Se agucei sua curiosidade sobre as espécies endêmicas, você pode assistir ao vídeo “Aves que só existem no Brasil” (abaixo) para saber um pouco mais sobre essas espécies.
https://www.youtube.com/watch?v=eMXtBVrys2c
Agora, escolha uma espécie ou faça uma lista das espécies endêmicas que você gostaria de observar e boa passarinhada!
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