Por Vanessa Vidal
Bióloga, mestra em Zoologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Integrante do Grupo de Estudos de Artrópodes da Amazônia – GEAA (Instagram e Facebook)
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Apesar de serem um aracnídeo, as aranhas-camelo, na verdade, não são aranhas (muito menos camelo!). Esses animais super diferentes pertencem à ordem Solifugae (derivado do latim que significa “fogem do sol”) e são chamados também de solífugos e internacionalmente de camel spiders, sun spider e wind scorpion.
O nome aranha-camelo tem relação com seu dorso, que possui a forma de arco, lembrando corcovas de camelo. Elas apresentam mais de 1.100 espécies descritas pelo mundo, principalmente em ecossistemas desérticos. Também têm distribuição no Brasil, com registro de sete espécies, inclusive para a floresta Amazônica.
A maioria dos seus representantes apresentam hábitos noturnos e durante o dia permanecerem em tocas, troncos, embaixo de rochas, dentro de cupinzeiros e alguns até cavam seu próprio túnel. Entretanto, algumas espécies são diurnas, como as dos gêneros Ammotrecha Banks, 1900 (derivado do grego, significando “corredor da areia”) e Eremobates Banks, 1900 (também do grego, “andarilho dos desertos). Seu tamanho varia entre 2 e 7 cm.
Os solífugos são predadores ágeis, podendo se alimentar de outros artrópodes e até mesmo pequenos vertebrados como sapos e lagartos; isso graças às suas enormes quelíceras queladas (em forma de pinça), que inclusive são usadas para o diagnóstico de espécies. Essas estruturas além de serem importantes para a alimentação, também têm funções na reprodução (comportamento de corte), competição e estridulação (ruídos de intimidação).
Outra estrutura diferenciada nesse grupo são os pedipalpos cobertos por cerdas sensoriais, utilizadas na percepção ambiental. Eles também apresentam capacidade adesiva, auxiliando na captura de presas, no comportamento de corte e no escalar superfícies, até mesmo lisas.
Possíveis acidentes podem ocorrer com as aranhas-camelo, no fechamento de suas quelíceras, que graças ao seu tamanho podem provocar dor, perfuração ou dilaceração da pele. Porém, por não possuírem peçonha (veneno), os casos não são graves. Levando em consideração não representarem perigo aos seres humanos e sua importância ecológica (inclusive para o controle de pragas urbanas), são artrópodes que devem ser defendidos, pois muito são mortos pelo medo provocado pela falta de conhecimento. Então, quando virem algum por aí, já sabem…!
Referências
– Close Up on the Fearsome Jaws of Camel Spiders. American Museum of Natural History, Nova York, 22 de jun. de 2015. Disponível em: < https://www.amnh.org/explore/news-blogs/research-posts/close-up-on-the-fearsome-jaws-of-camel-spiders>. Acesso em: 01 de dez. de 2021.
– Mullen, G. R. 2019. Solpugids (Solifugae). Medical and Veterinary Entomology, 505-506.
– Punzo, F. 1998. Intraspecific male aggression in Arenotherus joshuaensis Brookhart and Muma, and Eremobates marathoni Muma (Solifugae, Eremobatidae). The Southwestern Naturalist, 291-295.
– Solifugae. International Society of Arachnology, 2015. Disponível em: < https://arachnology.org/arachnology/orders/solifugae.html>. Acesso em: 01 de dez. de 2021.
– Suesdek, L. 2006. Description and ecology of a new solifuge from Brazilian Amazonia (Arachnida, Solifugae, Mummuciidae). Journal of Arachnology, 34:163-169.
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