Sobre a PEC das Praias: a minha praia e a praia do macaco

A PEC das Praias gerou uma comoção na web nessas últimas semanas, até com vídeos de surfistas indignados alegando que não poderiam mais entrar nas praias se a PEC fosse aprovada. A discussão pegou fogo quando Luana Piovani revelou interesses maiores implicados nessa proposta.

“O povo brasileiro vai perder suas praias: nosso direito de ter um lugar na areia e banho de mar está sendo ameaçado”. Graças a esse mantra que ecoou na mente de muitos brasileiros, devido à divulgação sobre o assunto na internet, a população brasileira começou a se opor à proposta de emenda constitucional.

Usando argumentos mais pessoais

Como caiçara, cresci olhando aquelas áreas verdes “de marinha” e sempre soube que algumas dessas áreas estavam, de certa forma, protegidas da voraz especulação imobiliária, que detonou o litoral norte de São Paulo, levantando prédios e condomínios em cima de Mata Atlântica do litoral. Mas, o que esse assunto nos traz de novo e por que estou aqui escrevendo sobre esse assunto já tão debatido?

Escrevo porque foi um tapa na minha cara, um “acorda pra vida”. Eu, que passei boa parte da minha vida adulta implorando para fazendeiro não matar onça, defendendo que, desmatando, perderíamos serviços ecossistêmicos, que doenças emergentes podem surgir com o desmatamento e a caça, por que nunca pensei em apelar para algo mais pessoal, que incomodasse mais o umbigo e o ego do humano?

Imagina se os artistas, os surfistas do vídeo da internet abordassem a PEC mencionando que sua aprovação comprometeria os biomas litorâneos brasileiros e sua biodiversidade?  Que animais silvestres perderiam suas áreas; seriam mortos, translocados do nada para lugar algum para que casas de “bacanas” serem construídas?  Ninguém iria se importar. Talvez uns 5% do recorte da população que trabalha com conservação da biodiversidade ou simpatiza com o assunto. O restante não iria se sensibilizar com a perda da praia do macaco, da jaguatirica ou das aves. É por isso que tantos políticos continuam legislando em causa própria, socializando os prejuízos e privatizando os lucros juntamente com seus asseclas: porque ainda não enxergamos que estamos todos interligados, que somos uma só saúde e um só planeta.

Agora, na minha praia, ninguém mexe!