Por Bruna Almeida
Bióloga e coordenadora do Projeto Reabilitação de Fauna Silvestre e das atividades de educação ambiental no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Catalão (GO)
universocetras@faunanews.com.br
As serpentes ou cobras como são comumente conhecidas; animais que possuem o corpo alongado e desprovido de membros, porém com uma capacidade sensorial extraordinária para explorar e se adaptar a diversos ambientes naturais. As serpentes fazem parte do grupo dos animais de sangue frio, ou pecilotérmicos, que necessitam de uma fonte externa de calor para regular a sua temperatura corporal. Essa característica está associada à diversidade de espécies desses animais que são encontradas nos trópicos (zonas quentes), cuja temperatura é mais elevada e proporciona as condições necessárias para a sobrevivência deles.
Desde a Antiguidade, as serpentes despertam fascínio e medo nas pessoas, talvez pela sua forma física ou pelo perigo que algumas espécies oferecem a saúde humana. São classificadas como não-peçonhentas e peçonhentas, sendo essas últimas as que possuem uma glândula capaz de produzir veneno e conseguem, através da contração de músculos, direcioná-lo para os dentes inoculadores (semelhantes a uma seringa). No Cerrado goiano, as serpentes peçonhentas mais conhecidas são do gênero Bothrops (jararaca), Crotalus (cascavel) e Micrurus (coral-verdadeira). Entretanto, a grande maioria das espécies encontradas no bioma são desprovidas de veneno, como a jiboia, a sucuri, a cobra-cipó, a caninana, a muçurana, a salamanta entre outras.
A interferência do homem em áreas naturais se configura como um dos principais fatores da presença e frequência de serpentes peçonhentas e não-peçonhentas em áreas urbanas. Em Catalão (GO), o Corpo de Bombeiros é responsável por grande parte dos resgates desses animais em toda a cidade, porém, ocasionalmente, alguns são encaminhados pela população. Quanto às espécies mais frequentes, destacamos a jiboia, a cascavel, a jararaca, a cobra-cipó, a jararaca-dormideira, a caninana, a muçurana, a coral-falsa, a coral-verdadeira, a papa-lesma e outras.
De acordo com os dados registrados no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Catalão, cerca de 95% das serpentes encaminhadas apresentam condições favoráveis a reintrodução em áreas naturais. Alguns indivíduos chegam com ferimentos e fraturas ocasionados por ação humana, bem como vítimas de iscas para roedores (cola rato). Recentemente o Cetas reabilitou uma jiboia encaminhada pelo Corpo de Bombeiros que apresentava ferimentos na mandíbula e ausência de dentes, possivelmente causado por agressão humana. Houve também o caso de uma jararaca que estava com um corte transversal no crânio e uma sucuri com perfuração de globo ocular. Felizmente, foram reabilitadas e reintroduzidas na natureza.
As ações de educação ambiental desenvolvidas pela equipe do Cetas sempre envolvem as serpentes, pois elas desempenham papel ecológico extremamente importante no controle de roedores e de outros animais, bem como na fabricação de medicamentos e outros itens utilizados em procedimentos cirúrgicos através da extração do seu veneno. Vale a pena ressaltar que as serpentes não atacam, apenas se defendem, utilizando vários métodos como, por exemplo, fugir, esconder a cabeça entre o corpo e vibrar a cauda (cascavel utiliza o chocalho).
A transição do período de seca para o chuvoso aumenta a frequência de deslocamento das serpentes, que buscam e encontram nos centros urbanos condições favoráveis para abrigo e alimentação. Dessa forma, é importante manter os ambientes urbanos limpos, evitando a proliferação de roedores e outros animais que fazem parte da dieta das serpentes. Além disso, apesar do medo que causam na população, ninguém tem o direito de agredir e/ou matar uma serpente – é crime ambiental! Portanto, ao se deparar com esses animais, comunique imediatamente as autoridades locais competentes para o recolhimento e destinação adequada do indivíduo.
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