Saiba mais sobre a febre maculosa

Doença é causada por uma bactéria, que é transmitida por carrapatos.

Cláudia Xavier

Natural de Belém (PA), tem licenciatura plena em Ciências Naturais com habilitação em Biologia pela Universidade do Estado do Pará (UEPA) e mestrado em Zoologia (subárea Evolução) pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Atualmente, é doutoranda em Zoologia (UFPA/MPEG). Desde 2014, trabalha no Laboratório de Aracnologia do Museu Emílio Goeldi, onde desenvolve diversos projetos envolvendo, principalmente, taxonomia de aranhas e inventários de araneofauna.
Educação ambiental e divulgação científica são paixões de Cláudia. Durante toda a sua graduação e pós-graduação, esteve envolvida com projetos nessas linhas. Junto com outros colegas aracnólogos e entomólogos, criou o Grupo de Estudos de Artrópodes da Amazônia – GEAA (Instagram e Facebook), que promove educação ambiental focada em artrópodes através de redes sociais, exposições e outros eventos para a sociedade, além de eventos de discussão das temáticas mais recentes envolvendo esses fantásticos animais entre a comunidade acadêmica. Cláudia fez parte do grupo desde sua fundação, em 2018, até o início de 2021.

06 de setembro de 2023

FAUNA NEWS - Saiba mais sobre a febre maculosa.

A febre maculosa tem ganhado destaque na imprensa brasileira nos últimos meses devido ao aumento expressivo de casos, principalmente no estado de São Paulo. Apesar de o primeiro caso da doença datar de mais de 90 anos (1929), o enfrentamento da enfermidade ainda tem na falta de informação uma de suas maiores dificuldades.

Aqui no Brasil a doença é mais comum nas regiões Sul e Sudeste e tem seu quadro clínico marcado por febre alta, dores de cabeça, náuseas e vômitos, sintomas comuns a diferentes enfermidades tropicais. O correto diagnóstico depende do conhecimento dos profissionais de saúde, mas devido à similaridade dos sintomas com outras doenças, isso nem sempre é uma tarefa fácil.

Infelizmente, esse problema gera consequências graves como, por exemplo, o fato de que, nas últimas décadas, quase todos os casos de óbito por febre maculosa no estado do Rio de Janeiro tiveram dengue como diagnóstico inicial.

Afinal, o que é a febre maculosa?

Trata-se de uma doença infecciosa febril aguda, podendo assumir de uma forma assintomática a casos mais graves que podem levar a óbito. É causada pela bactéria Rickettsia rickettsii e transmitida pela picada do carrapato-estrela (aracnídeos do gênero Amblyomma). A enfermidade tem esse nome justamente por um dos principais sintomas ser a febre alta e o surgimento de manchas avermelhadas pelo corpo (chamadas “máculas”).

O período de incubação da doença gira em torno de sete dias, mas pode ainda variar entre dois e 15 dias. Por isso, é muito importante buscar ajuda médica nos primeiros dias de sintoma, visto que, apesar de ser considerada uma doença de baixa frequência, caso não tratada pode evoluir de forma rápida e ser letal.

A febre maculosa é transmitida ao homem pelo carrapato infectado e o carrapato precisa ficar aderido à pele para que a infecção aconteça. Depois de infectados, os carrapatos permanecem assim até o fim de suas vidas. A boa notícia é que não existe risco de transmissão de pessoa para pessoa.

Caso você encontre um carrapato em seu corpo, retire-o com cuidado, usando uma pinça de ponta fina, sem apertar o corpo do animal. A maneira mais adequada de fazer isso é puxando o carrapato para fora, inserir a pinça entre o corpo dele e a pele da pessoa e só então retirá-lo. Não retire o carrapato com a unha ou o esmague! Na falta de equipamento, torça o corpo do carrapato com os dedos e puxe.

A doença tem tratamento por antibióticos específicos e de baixo custo, ministrados por via oral ou endovenosa, dependendo do estado do paciente. A bactéria Rickettsia rickettsii é muito agressiva ao corpo do ser humano, podendo destruir a parede dos vasos sanguíneos. Por isso é de extrema importância o diagnóstico correto o mais rápido possível.

O diagnóstico é realizado comumente a partir de teste sorológico, que permite identificar a presença de anticorpos anti-Rickettsia no sangue do infectado. No entanto, dependendo da fase da infecção, esses anticorpos podem não ser detectados… Eis aí outra dificuldade do diagnóstico.

Outro teste que pode ser utilizado para o diagnóstico implica em detectar a presença do material genético da bactéria. É um teste bastante útil para quando o corpo ainda não produziu os anticorpos para combater o Rickettsia rickettsii.

Cuidado com o carrapato-estrela

A principal forma de prevenção é evitar o contato com carrapatos-estrela e micuins (suas larvas). Porém, carrapatos do gênero Amblyomma podem ser encontrados comumente em cães, capivaras, cavalos e outros mamíferos – animais que estão geralmente presentes em áreas rurais, mas por vezes em áreas urbanas também.

Caso você vá para áreas onde possa encontrar esses animais (sejam silvestres ou de criação), busque proteger-se usando roupas (claras, de preferência, para que seja mais fácil visualizar caso o carrapato suba em você) que cubram bem a pele, especialmente os membros inferiores, pois esses animais geralmente são encontrados no solo ou na vegetação rasteira. Use calças, botas e mangas compridas para cobrir a pele. Evite áreas endêmicas (algumas têm placas de alerta).

Se você pratica observação de aves, a ornitóloga Melissa Alves preparou um artigo com ótimas dicas para você evitar problemas com a febre maculosa.

As autoridades governamentais devem orientar a população acerca dos riscos e dos cuidados, manter a vegetação rasteira em espaços públicos, além de fiscalizar áreas privadas abertas à população e impedir o acesso de pessoas a esses locais. O clima seco favorece o ciclo reprodutivo dos carrapatos vetores da febre maculosa. Com os períodos de seca cada vez maiores devido às mudanças climáticas, é possível que casos de febre maculosa possam ficar mais frequentes. Portanto, é importante sempre ficarmos atentos. Se você tiver qualquer suspeita, procure atendimento médico imediatamente.

Referências
– Febre maculosa: doença rara causada por carrapato pode ser fatal
– Perguntas e respostas sobre Febre Maculosa
– Em entrevista, pesquisadora explica o que é a febre maculosa
– Febre maculosa brasileira
– Sobre carrapatos: conhecendo um pouco da família Ixodidae

Sobre o autor / Cláudia Xavier

Natural de Belém (PA), tem licenciatura plena em Ciências Naturais com habilitação em Biologia pela Universidade do Estado do Pará (UEPA) e mestrado em Zoologia (subárea Evolução) pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Atualmente, é doutoranda em Zoologia (UFPA/MPEG). Desde 2014, trabalha no Laboratório de Aracnologia do Museu […]