Por Barbara Zucatti
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestranda no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da mesma instituição (NERF-UFRGS)
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Os impactos causados pelas rodovias custam caro para a fauna local e envolvem desde a fragmentação e a perda da qualidade do habitat, o isolamento dos ambientes, até a mortalidade direta. Ainda que existam atualmente diversas alternativas e ideias de mitigação desses impactos, os custos associados parecem ser um entrave.
Uma colisão com um animal de grande porte, como antas, tamanduás e capivaras, também acarreta grandes prejuízos materiais para os motoristas e até a perda de vidas (tanto da fauna quanto humanas). O problema é que pouco se sabe sobre o custo dos prejuízos associados à essas fatalidades, embora essa informação seja essencial para avaliar a instalação de medidas mitigadoras nas rodovias. Mas afinal, o quanto se economiza não implementando estruturas de mitigação? É o que pesquisadores avaliaram em um estudo recente.
Foram estimados o número real de atropelamentos e os custos totais dos materiais e do conserto de veículos associados à uma colisão. O objetivo era avaliar em quanto tempo os investimentos em mitigação com cercas nas rodovias compensaria a economia com as colisões evitadas. As informações a respeito das colisões foram extraídas de uma base de dados de três anos de monitoramento em 1.158 quilômetros de rodovias no Mato Grosso do Sul. Os custos econômicos dos prejuízos materiais de uma colisão com animais de diferentes portes também foram levantados para compor o estudo.
Já os custos associados à implementação de cercas, medida de mitigação escolhida, foram avaliados tanto para a rodovia inteira quanto para seções da estrada onde havia agregação dos atropelamentos (hotspots). O estudo mostrou que os investimentos com a colocação das cercas em estradas inteiras seriam amortizados em 16 a 40 anos e a estimativa para os pontos críticos de mortalidade ao longo da rodovia foi de 9 a 25 anos.
Medidas de mitigação como as cercas, por exemplo, são comumente utilizadas e têm uma alta efetividade na redução das taxas de atropelamentos por barrarem o acesso dos animais à via. Além disso, a implementação das cercas como medidas mitigadoras podem representar cerca de 1% do custo da construção de uma rodovia de duas pistas, segundo o estudo. Contudo, o cercamento da rodovia pode causar efeitos negativos, já que uma cerca mal instalada, além do gasto de dinheiro, pode propiciar a mortalidade dos animais que tentam cruzar a rodovia – alguns podem conseguir acessar a via por um dos lados, ficando presos no outro pela presença da cerca, o que aumenta o estresse e as probabilidades dele tentar voltar e ser atropelado.
Como já relatamos, os finais das cercas também podem ser um problema, já que muitos animais podem ser direcionados pelo cercamento para a extremidade e ficarem expostos à rodovia novamente, o que gera uma zona de atropelamentos. Por isso é importante planejar as cercas de forma efetiva, sempre pensando em estratégias alternativas para evitar os efeitos negativos da implantação dessas estruturas.
O planejamento e a instalação adequados das cercas devem considerar os locais de maior agregação de mortalidade da rodovia, bem como quais os animais que são mais encontrados naquela região. Por exemplo, o cercamento em locais onde há maior incidência de atropelamentos de animais de grande porte pode ser mais eficiente em evitar colisões do que em outros pontos da via. Associar a instalação de cercas em segmentos da estrada que possuem passagem de fauna aumenta a efetividade da mitigação, já que as cercas podem direcionar o animal para a entrada das passagens, permitindo a travessia e evitando também o isolamento das populações.
Outra forma importante de escolher os locais de instalação de cercas é avaliando os trechos das rodovias em que mais se observa cruzamento, principalmente dos animais de grande porte, a fim de evitar os prejuízos materiais relacionados à uma colisão. As cercas são ótimas alternativas pensando em mitigação para animais cursoriais de médio a grande porte, mas não são efetivas para todos os grupos. O tamanho da malha das cercas influencia na passagem de espécimes menores e para os que voam, elas são apenas um obstáculo.
Mesmo que muitas vezes possa ser economicamente inviável a instalação de cercas em uma rodovia inteira, além da necessidade regular de manutenção, as estimativas do estudo mostraram um grande custo-benefício na redução dos atropelamentos em relação aos prejuízos das colisões. Ainda que as cercas não sejam eficientes para evitar os atropelamentos de répteis, anfíbios e aves não cursoriais, essas evidências são importantes para entendermos a nível econômico a importância da mitigação. Dessa forma, o estudo serve como um impulso para o próximo passo que é avaliar economicamente outras estruturas e elaborar novas pesquisas que quantifiquem a importância da mitigação.
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